domingo, 7 de setembro de 2008

Coisas (e um causo) de Cacuçu
Por Juliana Portella

Conta-se que em Cabuçu havia um engenho de beneficiamento de cana-de-açúcar, para a transformação em açúcar e aguardente. E que há muito tempo atrás, ali existia uma colméia de abelhas grandes pras bandas do rio Cabussu. Daí o nome: Cabuçu. Abelha graúda. Cabuçu também é nome de cada uma de duas plantas da família das Poligonáceas, significando: arbusto de flores brancas e frutos de propriedades adstringentes e refrigerantes.

Conta-se também que a existência da avenida Santa Cruz, conhecida popularmente por “linha velha”, origina-se de um ramal da antiga estrada de ferro, com o percurso entre Austin e Santa Cruz, inaugurada no final do ano de 1858, a qual tinha uma parada na estação de Cabuçu. Depois da linha desativada, as terras da “estação” e seu entorno foram compradas da rede ferroviária e, seu novo proprietário, aproveitando as linhas arquitetônicas da construção, ergueu ali sua opulenta moradia.

Nos dias de hoje, imagine andar pelas ruas de Cabuçu sem encontrar paz, essa tranqüilidade tão singular a que os moradores estão habituados. Pois, voltando um pouco o tempo e focando-se em um conjunto habitacional que faz parte da paisagem urbana (visto que Cabuçu também é zona rural), encontraremos, nele, as casas em meio a multicores.

É o conjunto habitacional Mário Andreazza (aquele mesmo senhor das grandes obras públicas, como a rodovia Transamazônica, nos tempos da ditadura militar), conhecido popularmente como “conjunto inferninho colorido”.

Pois bem, o conjunto assim ficou conhecido porque as primeiras residências foram construídas com tijolos coloridos e porque em um dado momento de sua existência teve uma fase meio violenta. Aí o porquê do inferninho.

Quem conta melhor essa história é a jovem Keilla C. da Silva, moradora da rua Vera Lúcia, em seu meio. Keilla diz que o conjunto foi palco de muitas confusões, dentre elas uma em que um padre foi vítima de umas chineladas!

Tal fato ocorreu no final da década de 80, na mesma rua Vera Lúcia que, na época, não era iluminada. Por conseguinte, os moradores viviam receosos, principalmente pelo crescimento alarmante de um boato de que um saci-pererê rondava aquela região.

No conjunto, à noite, as ruas ficavam praticamente desertas. Criança alguma se atrevia a brincar fora de casa e adulto nenhum ficava “dando sopa”, pois acreditando ou não no Saci, era melhor não provocar tal imagem.

Aconteceu que numa noite de lua cheia a avó de Keilla molhava, quase em sobressalto, as plantas de seu quintal quando ouviu um barulho diferente. Pareciam passos fortes de alguém se aproximando. A avó de Keilla, num misto de medo e pavor, se aproximou do portão para ver o que vinha e, em sua certeza, viu o Saci! Então sem pensar duas vezes, tirou os chinelos e arremessou-os um a um de encontro ao vulto negro.

Não era o tal Saci. Que engano! Era o padre da região que havia perdido o salto do sapato e as tachinhas do solado ao se arrastarem pelo chão provocava um barulho diferente e um tanto assustador na noite.

Há quem acredite que o conjunto sofreu a maldição do padre. Há quem diga que a violência seja o legado dessa história e seus mistérios.

O fato é que em “inferninho colorido”, padre branco, de preto não entra.

Seria essa uma explicação? Mas maldição e século XXI não se combinam muito e Cabuçu continua a caminhar tranqüilo e saudável.

4 comentários:

Anônimo disse...

ah que legal..
nunca pensei que fosse achar histórias do meu bairro na internet.
e com esta habilidade de escrita daria até para escrever um livro de suspense(dica para a autora)

parabéns ao site!

A.L.'.

Anônimo disse...

Adorei a historia!!
muito interessante!!

Anônimo disse...

Boa Juliana! mas se a segunda parte vc escreveu através dos relatos da aluna Keilla C. da Silva (sobre a rua vera Lucia) por que não deu os créditos a quem lhe informou sobre a ferrovia e os engenhos? quem será que fez o texto que te inspirou? Foi aluno(a) da turma ""A""? Vc como reporter deveria dar voz aos entrevistados, ou não? Cara Juliana, reveja seus conceitos. Aliás, em relação à história, foi mesmo no ano de 1858 que foi construida a ferrovia que "passava em cabuçu" ou seria 1928? e ela era uma ferrovia ativa ou linha auxiliar? Existiam estações ou pontos de abastecimento de água para as locomotivas? só duvidas de um professor de geografia....... Ah! e que ama a história também e estuda nova iguaçu só um pouquinho!!! "ouvi falar" que uma caixa d´água dessas ficava na lagoa azul!!!

Anônimo disse...

Sou moradora do lugar a 50 anos, sempre foi uns dos bairros mais bonitos e tranqüilos da Baixada.Parecíamos uma grande familia e todos se respeitam até hoje.Cabuçu agora está com as obras do Governo, que melhorou muito...as ruas estão ficando bonitas e a população esta se conscientizando, que temos que manter as ruas limpas!
O bairro está ficando lindo e não temos mais que pisar na lama, como antigamente rs rs
Espero que essas obras continuem depois das eleições, pois está ainda muito lenta.Mas quem esperou 50anos por essas obras, espera mais um pouco.Espero eu particularmente que nosso Prefeito ganhe e que continue o que está por fazer...obrigada e vamos esperar pra ver rs rs rs