Relatos da Turma A mostram uma Nova Iguaçu
menos mística e mais sensível
A concorrida Turma A da Escola Municipal Luis de Lemos não está de brincadeira, como diz o grito de guerra com que seus participante invadiram a quadra da Vila Olímpica na tarde do último sábado. Mas três histórias se destacaram em meio ao mar de relatos apresentados pelos seus 46 participantes na noite de terça-feira e organizados por temas e em ordem cronológica na noite da quinta-feira.
Em um desses relatos, Vanessa da Silva Souza, uma moradora da Rua da Liberdade, contou a saga do pé de acerola de seu quintal. Um poema rimado, com o título “Sobrevivência” escrito com uma tinta e uma letra diferentes no pé da página, acompanhou a história desde a época em que sua mãe ia para a escola até o ano de 2007, quando Vanessa teve que derrubá-lo para construir a casa na qual mora com o marido e o seu bebê. “Infelizmente, eu tive que arrancar”, escreveu ela. “Pois ou eu o pé de acerola ia ter um lar.” Ao longo do poema, ela soube rimar acerola com escola e doente com adolescente.
As lições do caqui
Duas histórias da Turma A provocaram fortes emoções no grupo à medida que o oficineiro Flávio os lia, para preservar a identidade de seus autores. Na primeira delas, Beatriz Silveira da Silva, uma moradora da Rua Polar, levou pelo menos uma companheira às lágrimas com a história sobre o pé de caqui existente no fundo do quintal da casa em que morou com o pai e a mãe até saber da separação dos dois nas proximidades dessa mesma árvore. Os momentos mais marcantes de sua vida foram compartilhados com o caquizeiro, que, além de um grande companheiro de uma vida solitária, serviu de metáfora para os seus momentos de superação.
Um dos seus momentos de superação se deu no próprio processo para conseguir colher os primeiros caquis, quando Beatriz era uma menina incapaz de alcançar os galhos de que essas suculentas frutas se ofereciam. “Na vida, a gente nunca deve desistir”, pensou ela quando enfim aprendeu a subir na árvore. A queda que sua ciumenta mãe levou, em uma noite em que subiu no caquizeiro para bisbilhotar a vida sexual do então ex-marido, também serviu como uma lição de moral para Beatriz. Também foi no tronco da árvore que ela se agarrou quando foi visitar o pai e, depois de ver as moscas alvoroçando-se dentro da casa em que ninguém respondia aos seus insistentes chamados, teve certeza de que o pai morrera sozinho. A última metáfora usada para o caquizeiro foi retirado do fato de ele ter resistir, firme e forte, ao abandono em que em a casa e o quintal se encontram.
Suco de saudade
A história de Andressa da Silva Barbosa, uma moradora da Rua Pedro Lessa, também mobilizou a Turma A. O título do seu relato, dedicado a um irmão traficante morto em 2005 com 22 anos, já antecipava as lágrimas que escorreriam ao ser lido: “Pé de saudade.” Esse irmão, que arrancava a cabeça das bonecas de Andressa, morreu sem que ela tivesse oportunidade de dizer o quanto o amava. Enquanto esteve vivo, ela se preocupou mais com as implicâncias de Oséias (era este o seu nome) do que com sua capacidade de amar e de cuidar das coisas. O pé de acerola, que ele regava diariamente, é um grande símbolo dessa sua capacidade de doação. A família, que sofre tanto quanto ela, lembra-se dele sempre transformam os “frutos vermelhos” da acerola no que eles chamam de “suco da saudade”.
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