Acompanhei Luana na noite mais importante de sua vida
Por Flávia Sá
A Rodilândia parou na noite do último sábado. É que pela primeira na história se exibia um filme sobre três personagens do bairro. Na tela montada ao ar livre na rua Ararapira, alternavam-se os rostos de Seu Pedro, de dona Manuela e da jovem Luana. Na platéia, familiares e amigos desses personagens fundamentais na história de Rodilândia. Não sei se é meio absurdo, mas também considero um importante personagem da área a árvore grávida da Estrada de Ferro. Todos ali presentes conhecem a história da mulher grávida assassinada pelo marido ciumento, em cima da qual cresceu uma árvore com todas as formas de uma gestante.
Luana Mendes tem 21 anos e entrou no Pro Jovem por causa da bolsa de R$ 100, graças à qual poderá pagar a passagem do ônibus que inviabilizou sua permanência no seminário Monte Carmelo. Foi ela quem levou até o local de exibição do filme, há algumas quadras da casa em que ela mora e da própria árvore grávida. Luana, que é uma garota muito educada, mora com os pais e um irmão numa casa de três cômodos, apesar do vasto terreno.
Dona Maria de Lourdes, sua mãe, só tem elogios à sua filha caçula. “Ela é muito esforçada”, disse a mãe. Embora tenha dado um pouco de trabalho no início de sua vida escolar, a menina sempre se arrumou sozinha. “Ela só me deu alegria desde pequenininha.” Além de ter concluído o ensino médio, Luana participa ativamente da vida da comunidade. Na biblioteca comunitária, ela conta histórias para as crianças.
Antes que sua mãe terminasse de elogiá-la, Luana entrou no banho para se arrumar para o dia de estrela do bairro. Ela não demorou muito par colocar uma blusa cinza, uma calça jeans e uma sandalinha rasteirinha. Luana estava com um penteado muito comum, daquele que prende em cima e deixa solto em baixo. “Luana é muito vaidosa”, disse a mãe. “Ela só não gosta de se maquiar”, acrescentou. O máximo que ela usa é um batomzinho básico. Mas, como aquela era uma noite muito especial, ela não dispensou o rímel.
Tirei várias fotos de Luana e saímos juntas para a noite lá fora. Ela me pareceu ansiosa, mas tentou disfarçar o seu nervosismo quando lhe perguntei como estava se sentindo. “Estou curiosa para fez como ficou o filme”, desconversou ela, que também se disse despreocupada com quem iria ganhar o prêmio.
Quando chegamos ao local da exibição, Luana foi dar um pouco de atenção a seus vizinhos, amigos e familiares.
Aproximamo-nos da família de Seu Pedro, o outro personagem do documentário. Só a família dele, composta por oito filhos, dezesseis netos e um bisneto, era suficiente para fazer a festa. Mas não pude deixar de prestar atenção em Eliete Marcelino Dias de Andrade, uma pedagoga de 30 anos que hoje mora em Niterói, onde dá aula na rede pública. Com certeza, ela era a mais emocionada ali. E olhe que eu não vi ninguém que não estivesse emocionado ali.
“De alguma forma, estou realizando um sonho que eu tinha, de fazer um filme dos 50 anos de casados de meus pais”, contou-me ela em meio às lágrimas.
Quando acabou o filme, Luana era só sorriso com tudo o que aconteceu naquela noite, muito embora tivesse achado estranha sua voz na tela.
Senti falta de barraquinhas em torno do evento. Eu teria tomado uma coca ou comido um milho quente. O povão ficaria horas ali, digerindo a beleza das imagens com a ajuda de uma cervejinha.
Depois, conversei com Maria Antônia Goulart, a coordenadora do programa Bairro Escola. Sua emoção era diferente da dos personagens, mas a felicidade estava estampada no seu rosto. “Fico muito feliz com mais essa vitória de reunir os moradores do bairro”, disse ela.
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