terça-feira, 16 de setembro de 2008

Desculpem o transtorno

Sonho da casa própria passa por muitos pesadelos
Por Carolina Alcântara

Obra, uma pequena palavra, porém com um grande significado para uma ampla parcela da população brasileira que sonha em começar ou terminar a construção de sua casa.

Ano após ano, muitos brasileiros passam trabalhando duro, sem férias e sem aumento. Quase sempre dobrando a carga horária de trabalho com o propósito de realizar o sonho da casa própria.

Na Baixada Fluminense, mais especificamente nos bairros que constituem a cidade de Nova Iguaçu, está sendo realizado o projeto "Minha rua tem história". Ele aborda diversos temas do cotidiano das comunidades e isto ocasionou o surgimento de muitas histórias, especialmente no bairro do Cacuia.

São histórias de luta, sacrifício e suor para a realização de um sonho, que é o de ver as obras de suas casas terminadas. “Para realizar uma obra não é fácil, não; é necessário muito trabalho e esforço”, afirma a estudante Marta Gomes da Silva.


Barro e bambu
Segundo a estudante, o começo da obra em sua casa foi com muita luta, pois os seus pais não tinham condições de contratar um pedreiro. Então eles construíram primeiramente sua casa de estuque (barro e bambu), conforme a maioria das famílias que lá moravam na época. Sua casa passou sérios problemas relacionados à obra, como por exemplo, uma ventania que levou o telhado da casa. No entanto, hoje em dia muitas coisas mudaram na casa de Marta Gomes da Silva, já que a obra de sua casa está concluída, e não é de barro e bambu.

Ana Carla Caetano, outra participante do Projeto e moradora do Cacuia, conta o transtorno que que seus parentes passaram com a obra. Os inúmeros contratempos afetaram todos que moram no terreno. "As roupas de minha tia estão na minha casa e as outras coisas na varanda da casa de outra tia minha", enumera Ana.


Cachorrinha foge da casinha
O quintal delas está cheio de materiais de construção e quase não há espaço para se andar nele. “É barulho e poeira", queixa-se. "O pedreiro quebra o que já está pronto para fazer de novo, é uma loucura!” Segundo ela, a obra está causando mudanças em tudo a sua volta, e seus parentes hoje acordam cedo e dormem tarde. “Até a minha cachorrinha não está mais em sua casinha, mas sei que daqui alguns dias o sonho da minha tia será realizado."

O estudante Washington é mais um jovem cuja vida foi virada pelo avesso por causa de uma obra em casa. A casa dele tem um quarto, um banheiro, uma sala e uma varanda, mas, como mora próximo da linha, as pedras jogadas pelo trem provocaram muitas goteiras no telhado. Em razão disso, sua mãe decidiu colocar laje. “Falta pouco para terminar a obra de minha casa”, comenta o rapaz, aliviado.

Histórias como as de Marta, Ana Carla e Washington surgiram nesse lugar chamado Cacuia. São histórias que mostram a realidade e a dificuldade desses brasileiros que, apesar dos problemas do dia-a-dia, não perderam a esperança de viver em condições mais dignas, seguras e confortáveis.

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