Por Aline Maciel e Camila de Oliveira
Gravatas coloridas, anteninhas, perucas, chapéus, óculos engraçados, máscaras, fantasias e muito barulho. Esse foi o jeito de a galera do Pro Jovem mostrar a que veio.
Valia de tudo para fazer desse encerramento da primeira etapa do projeto na Vila Olímpica nesse domingão chuvoso um evento maravilhoso.
Quem não tinha instrumento, deu um “jeitinho brasileiro” e improvisou com apitos, panelas e colheres de pau mesmo - o negócio era fazer barulho de alguma forma. Nem a chuva conseguiu atrapalhar a alegria da rapaziada.
Iam chegando jovens de tudo quanto é bairro de Nova Iguaçu relacionado ao projeto. A maioria já chegou dizendo ao que veio, disposta a fazer a festa. Os que chegaram meio desanimados não demoraram para serem picados pelo “bichinho da animação”. Enfim... Todos tinham o mesmo intuito: defender sua equipe, seu bairro, se confraternizar com os amigos que fizeram durante as oficinas ou com aqueles que acabaram de fazer. Todos queriam sair dali com a sensação de dever cumprido.
Formigueiro
A quadra da Vila Olímpica, um pouco antes do horário marcado, estava vazia, mas quando começou a chegar perto das 16h a galera lotou aquele espaço que antes era só um vazio e que agora estava parecendo um verdadeiro formigueiro.
Foi uma grande festa, bonita de se ver. A rapaziada veio cheia de gás, com seus apetrechos coloridos, faixas, cartazes, pompons, papéis picados, pra fazer a Vila tremer. E eles realmente conseguiram o que pretendiam, principalmente quando o pessoal do Tropical, puxado pelo oficineiro Jamaica, começou a tocar seus instrumentos de percussão. Eles levantaram até a galera que estava na arquibancada. Estávamos nos sentindo como se estivéssemos na Bahia, ouvindo o Olodum tocar.
Foi muito legal! Quem estava nas arquibancadas podia notar perfeitamente a alegria e a empolgação da meninada, dos oficineiros, dos assistentes e de todos que de alguma forma estiveram envolvidos com esse projeto e estavam vendo naquele momento os frutos da confiança que depositaram nesses jovens. E não era pra menos, né?!
Houve muito trabalho e empenho tanto dos oficineiros quanto de cada jovem presente, para fazerem esse projeto dar certo, mesmo que muitas pessoas dissessem que não daria.
Aqueles jovens que se encontravam ali vieram mostrar que todos eles, com prêmio ou sem prêmio, já são mais do que vencedores. E para aqueles que não acreditavam na capacidade desses jovens, eles provaram o seu valor com pequenos gestos e atitudes.
Merecem ser contadas
Com seus projetos, também provaram que sabem o que está certo ou errado nesse mundão em que vivemos e tentaram alertar as autoridades, e a todos nós, sobre os problemas que a sociedade em geral enfrenta, independente de ser rica ou pobre. A partir disso, tentaram buscar em suas argumentações algumas soluções para tudo isso.
Essa galerinha me fez parar para pensar... Muitos dizem por aí que só as pessoas mais velhas e mais experientes é que têm histórias para contar, mas esses jovens me fizeram ver que não é bem assim que a banda toca. Os jovens também têm muitas histórias, que merecem ser contadas e não ignoradas. Não é só porque são jovens que não levam nada a sério.
As coisas não são bem assim. Mesmo com pouca idade, já vivenciaram histórias suficientes para escrever um ou vários livros e a galerinha do Pro Jovem deu um show durante essa parte do projeto. De um simples tema como árvore ou obras, surgiram centenas de histórias bem legais. Com elas, mostraram que jovem sabe, sim, contar várias e boas histórias.
“É do chão que começam as mais altas construções...” (vai ser assim com esses jovens também, se Deus quiser).
Prosseguindo com a fala da minha amiga e jovem repórter Aline Maciel, percebi que este evento foi simplesmente:
“O INÍCIO DE UMA GRANDE MUDANÇA NA SOCIEDADE”
A euforia do último domingo na Vila Olímpica foi total. Aquela multidão de jovens era capaz de impressionar até mesmo a torcida do Flamengo em dia de Fla x Flu. Eram tantas as formas de expressão, que foi impossível não se sentir orgulhosa de fazer parte desse projeto.
O foco daquela grande festa não estava em alguém ou em um grupo de pessoas, mas em todos. Cada segundo que se passava, a alegria ia contagiando cada pessoa presente naquela quadra.
Era visível a felicidade naqueles olhares e gestos, demonstrados pelas batidas dos instrumentos, palmas, gritos, cantorias e folias de toda espécie. O mais impressionante é que ninguém parecia estranho a ninguém, como se todos que ali estavam, mesmo sendo de bairros diferentes e tendo se visto uma vez ou até nenhuma, fossem amigos de infância.
Amigopatia
A agitação era total e ainda que soubessem que aquilo era uma competição, o que realmente prevaleceu foi o sentimento de união, harmonia e diversão. Todos queriam mostrar seus projetos, mas nem por isso deixaram de vibrar com os outros apresentados. Rolou entre eles uma espécie de amigopatia, como diz uma de nossas jovens repórteres, a Aline Maciel.
Minha emoção estava à flor da pele, como se cada palma batida ali representasse uma batida do meu coração. Nem pude me conter onde estava. Tentei somente observar o que acontecia da arquibancada, mas todo aquele entusiasmo me fez descer ao centro daquela quadra e me misturar àquele grupo tão empolgante e contagiante.
Esse projeto ultrapassou o seu objetivo central, que era dar uma formação cidadã. Acima de tudo, ele criou seres humanos mais humanos e menos individualistas, onde a razão deu lugar à emoção.
No início do projeto, podia se notar nas próprias salas em que aconteciam as oficinas as diferenças entre os jovens, pois a heterogeneidade ainda estava presente. Cada um observava o outro com suas desconfianças e diferenças, que foram totalmente dissipadas ao longo desse trabalho.
Transformação de vidas
A atuação dos oficineiros e assistentes foi fundamental para que o desenvolvimento desses jovens fosse o sucesso que foi e o empenho desses mesmos jovens em vencer se deu em grande parte pelo estímulo dado a eles por seus orientadores. O “Minha rua tem história” despertou nessa grande juventude uma visão otimista de construção ou restauração da cidade de Nova Iguaçu.
Nunca antes se viu ou se ouviu falar de um projeto voltado para os jovens de uma cidade, que tenha modificado tão a fundo conceitos de que o jovem tem voz e vez em qualquer lugar, independente de suas circunstâncias. Nunca um governo preocupou-se em ensinar a alguém sobre os direitos que têm e como brigar por eles, pois é como dar a arma ao inimigo. Agora essa nova geração encontra-se capacitada a dialogar, fundamentada em argumentos concretos a respeito de seus direitos como cidadãos.
Com certeza, esse foi mais que um projeto de capacitação, mas de transformação de vidas e da visão de como se faz uma política pública, que acrescenta não só na vida dos envolvidos, mas reflete no futuro de uma população inteira.
Eu poderia escrever durante horas sobre as sensações de estar em um projeto como esse, porque certamente são infinitas, porém indescritíveis. No entanto, não posso deixar de dizer que isso tudo foi apenas o “início” da mudança na vida da população iguaçuana.
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