onde jogavam futebol e brincavam de pique-esconde
Por Lucas Lima
O projeto “Minha rua tem história” continua dando frutos maravilhosos e superando seus objetivos a cada dia. Dessa vez um do objetivo alcançado foi que as pessoas passaram a se orgulhar do que antes escondiam ou tinham vergonha, como sua casa, por exemplo, pois o assunto da semana nas oficinas foram as histórias sobre obras dentro de casa.
A história de maior destaque na oficina do dia 12, última sexta feira, na Escola Municipal Rui Bercot de Matos, foi a de um terreno baldio no bairro de Jardim Canaã. As crianças adoravam de brincar de pique-esconde dentro dele. “Não era uma praça, um lugar limpinho, era simplesmente um terreno baldio que servia para a nossa diversão”, contou a jovem Alessandra Helena Ribeiro, 19 anos, moradora da rua Carlos Frederico, local do terreno.
O dono apareceu
O fato de jamais alguém ter aparecido para reivindicar a sua propriedade do terreno e principalmente o acúmulo de lixo dentro do terreno fizeram com que as crianças da rua se sentissem donos dele. Essa sensação de posse durou até o dia em que começaram a limpá-lo e demarcá-lo. “Nós achamos que era pra gente e adoramos, claro.” Mas a alegria das crianças durou pouco. Logo depois colunas e tijolos começaram a ser levantados e as crianças se depararam com a triste realidade: estava sendo construída uma casa no terreno delas.
Elas pensaram rápido, e depois de muita conversa em um clima de conspiração, decidiram derrubar as paredes construídas pelos pedreiros. “Nós esperávamos todos irem dormir para agir”, disse Alessandra. Não era fácil vencer a pressão dos pais, sempre chamando-os para entrar cedo. “Mas nós dizíamos que a rua estava cheia e que ainda estávamos brincando.”
Quando os pais entravam, todas as crianças iam para o terreno e em silêncio começavam a derrubar tudo que estivesse construído. “A gente não fazia barulho porque o cimento estava ainda fresco, tinha até aquele cheirinho.”
Tiros para o alto
Na manhã seguinte, os pedreiros chegavam e se questionavam, tentando entender aquela situação. E essa situação só deixou de se repetir no dia em que um dos meninos foi recebido à bala depois de ter pulado o muro. “É que os pedreiros e o dono do terreno estavam de tocaia, para descobrir o que acontecia toda a noite no terreno.” Ainda bem que os tiros foram disparados para o alto, só para assustar.
Depois de contar a história do terreno abandonado, Alessandra fez um breve discurso: “Não fazíamos por maldade, fazíamos aquilo com uma sensação de ‘É nosso, não podem nos tirar’. As pessoas que ouvem essa história têm que se colocar no nosso lugar e entender que não era mesmo de maldade. Era ali que os meninos faziam as paredes de gol quando jogavam futebol.”
Atualmente, o terreno se encontra ainda em construção, completamente murado para que a situação não venha a se repetir.
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