devia virar monumento histórico.
Por Eliete Marcelino Dias Andrade
A história da árvore grávida sempre mexeu comigo.
Quando tinha entre quatro e cinco anos, minha mãe me colocou para estudar na Escolinha da Tia Vera. Ela morava ao lado da barraca do Zé Perneta, na rua onde havia nascido a árvore grávida. Nessa época, eu nem sabia da existência dessa obra de arte da natureza. Quando eu ia para a escola, costumava apostar corrida com meu primo Arilson. Descíamos correndo o campinho que havia ao lado esquerdo da descida da rua Diva, indo para a Estrada de Ferro. Havia um barranco e adorávamos descer correndo, às vezes rolando como duas bolas de futebol, perdendo os lápis, borrachas e apontadores pelo gramado afora... Ainda bem que Tia Vera sempre tinha umas reservas!
O tempo passou e eu fui crescendo e ouvindo histórias interessantes sobre o mundo sobrenatural. Histórias de Mula Sem Cabeça, de Saci Pererê, e muitas outras. Eu adorava ficar no quintal da casa de minha tia Sebastiana (R. Diva, 130), debaixo da sua grande amendoeira, todo final de tarde ouvindo essas histórias. Como minha família é muito grande, juntávamos todos os primos e aos pés de minha avó, que chamávamos DINDINHA, ficávamos ouvindo belas histórias do Reino do Papagaio, do Tempo Em que Os Bichos Falavam, Histórias Bíblicas e muito mais. E uma das histórias que só fui ter conhecimento um pouco depois de minha infância foi a da Árvore Grávida.
Como ainda era meio criança, meio adolescente, não entendia porque as pessoas viviam falando dessa árvore. E por que diziam que ela estava grávida. Um dia resolvi matar a minha curiosidade, apesar do medo que assombrava a minha alma. Diziam, antigamente, que aquela rua onde a árvore nasceu era mal-assombrada. Na verdade, toda essa região era uma enorme fazenda de laranjas. Quando meu pai chegou nesse local ainda havia muitos pés de laranjas secos e perdidos pelo meio do matagal, além de muitas mangueiras. Essa rua era deserta e quase ninguém tinha coragem de passar por ela.
Durante o dia muitas pessoas caminhavam até a mina para pegar água. Essa mina ficava na beira da linha do trem, do lado do bairro Cacuia. Para chegar até a mina d'água, era preciso passar perto da rua da árvore grávida. Um dia eu fui pegar água nessa mina com minha tia e outras pessoas e enfim consegui ver de perto a tal árvore. Fiquei assustada e ao mesmo tempo encantada com tamanha beleza e mistério. Perguntei para as pessoas sobre aquela história e me disseram que ali havia sido enterrada uma mulher que fora assassinada por seu marido quando estava com oito meses de gravidez. Disseram-me que ela havia sido enforcada. E que por isso, na árvore, no lugar onde deveria ser a cabeça da mulher havia apenas um "nó". O seu tronco era o contorno fiel do corpo de uma gestante. As pernas juntas, a virilha com os pêlos pubianos, o ventre enorme e os braços abertos, levantados para o alto, como se pedisse socorro. Suas mãos eram as folhas nas pontas dos galhos. No lugar do pescoço, um nó, desses que nascem quando se arranca fora o galho de uma árvore e ela chora o seu leite, em sua dor mais profunda.
Em 2000/2001 trabalhei no "Projeto Trasnformar" (Alfabetização de Jovens e Adultos) e levei meus alunos adolescentes para conhecer o bairro e, é claro!, a árvore grávida. Fiquei decepcionada quando cheguei e vi o seu tronco todo esfolado, ferido por causa dos arames farpados que colocaram para demarcar um terreno. Aquela que era uma das muitas mangueiras daquele enorme campinho onde eu e meu primo brincávamos quando íamos para escola, naquele momento havia se tornado apenas mais um marco para os lotes de terra, depois da enxurrada de casas ali construídas. Ainda bem que a pessoa que hoje mora nesse local teve a sensibilidade de resgatar a importância desse monumento de nosso bairro. Fiquei sabendo que muitas vezes tentaram cortar seus galhos, mas ela sempre crescia do mesmo jeito, com as mesmas formas.
Espero que esse trabalho que tem sido desenvolvido a partir dessa árvore lendária consiga ganhar todos os prêmios possíveis por esse Brasil a fora e quiçá pelo mundo! Eu tenho orgulho de ter nascido nesse bairro, hoje chamado Rodilândia, e fazer parte da história do próximo monumento tombado pelo patrimônio público: A Árvore Grávida.
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A história da árvore grávida sempre mexeu comigo.
Quando tinha entre quatro e cinco anos, minha mãe me colocou para estudar na Escolinha da Tia Vera. Ela morava ao lado da barraca do Zé Perneta, na rua onde havia nascido a árvore grávida. Nessa época, eu nem sabia da existência dessa obra de arte da natureza. Quando eu ia para a escola, costumava apostar corrida com meu primo Arilson. Descíamos correndo o campinho que havia ao lado esquerdo da descida da rua Diva, indo para a Estrada de Ferro. Havia um barranco e adorávamos descer correndo, às vezes rolando como duas bolas de futebol, perdendo os lápis, borrachas e apontadores pelo gramado afora... Ainda bem que Tia Vera sempre tinha umas reservas!
O tempo passou e eu fui crescendo e ouvindo histórias interessantes sobre o mundo sobrenatural. Histórias de Mula Sem Cabeça, de Saci Pererê, e muitas outras. Eu adorava ficar no quintal da casa de minha tia Sebastiana (R. Diva, 130), debaixo da sua grande amendoeira, todo final de tarde ouvindo essas histórias. Como minha família é muito grande, juntávamos todos os primos e aos pés de minha avó, que chamávamos DINDINHA, ficávamos ouvindo belas histórias do Reino do Papagaio, do Tempo Em que Os Bichos Falavam, Histórias Bíblicas e muito mais. E uma das histórias que só fui ter conhecimento um pouco depois de minha infância foi a da Árvore Grávida.
Como ainda era meio criança, meio adolescente, não entendia porque as pessoas viviam falando dessa árvore. E por que diziam que ela estava grávida. Um dia resolvi matar a minha curiosidade, apesar do medo que assombrava a minha alma. Diziam, antigamente, que aquela rua onde a árvore nasceu era mal-assombrada. Na verdade, toda essa região era uma enorme fazenda de laranjas. Quando meu pai chegou nesse local ainda havia muitos pés de laranjas secos e perdidos pelo meio do matagal, além de muitas mangueiras. Essa rua era deserta e quase ninguém tinha coragem de passar por ela.
Durante o dia muitas pessoas caminhavam até a mina para pegar água. Essa mina ficava na beira da linha do trem, do lado do bairro Cacuia. Para chegar até a mina d'água, era preciso passar perto da rua da árvore grávida. Um dia eu fui pegar água nessa mina com minha tia e outras pessoas e enfim consegui ver de perto a tal árvore. Fiquei assustada e ao mesmo tempo encantada com tamanha beleza e mistério. Perguntei para as pessoas sobre aquela história e me disseram que ali havia sido enterrada uma mulher que fora assassinada por seu marido quando estava com oito meses de gravidez. Disseram-me que ela havia sido enforcada. E que por isso, na árvore, no lugar onde deveria ser a cabeça da mulher havia apenas um "nó". O seu tronco era o contorno fiel do corpo de uma gestante. As pernas juntas, a virilha com os pêlos pubianos, o ventre enorme e os braços abertos, levantados para o alto, como se pedisse socorro. Suas mãos eram as folhas nas pontas dos galhos. No lugar do pescoço, um nó, desses que nascem quando se arranca fora o galho de uma árvore e ela chora o seu leite, em sua dor mais profunda.
Em 2000/2001 trabalhei no "Projeto Trasnformar" (Alfabetização de Jovens e Adultos) e levei meus alunos adolescentes para conhecer o bairro e, é claro!, a árvore grávida. Fiquei decepcionada quando cheguei e vi o seu tronco todo esfolado, ferido por causa dos arames farpados que colocaram para demarcar um terreno. Aquela que era uma das muitas mangueiras daquele enorme campinho onde eu e meu primo brincávamos quando íamos para escola, naquele momento havia se tornado apenas mais um marco para os lotes de terra, depois da enxurrada de casas ali construídas. Ainda bem que a pessoa que hoje mora nesse local teve a sensibilidade de resgatar a importância desse monumento de nosso bairro. Fiquei sabendo que muitas vezes tentaram cortar seus galhos, mas ela sempre crescia do mesmo jeito, com as mesmas formas.
Espero que esse trabalho que tem sido desenvolvido a partir dessa árvore lendária consiga ganhar todos os prêmios possíveis por esse Brasil a fora e quiçá pelo mundo! Eu tenho orgulho de ter nascido nesse bairro, hoje chamado Rodilândia, e fazer parte da história do próximo monumento tombado pelo patrimônio público: A Árvore Grávida.
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Ps. A "Tia Vera" que cito acima mora na mesma rua que meus pais (Rua Diva). Talvez ela também tenha uma história para contar sobre a árvore grávida.
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