quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Festa do afeto












Última oficina do Jardim Tropical foi uma grande festa

Por Camila Oliveira
Fotos: Cássia Aparecida

Hoje foi uma terça-feira diferente para os jovens do Jardim Tropical, pois estamos chegando à reta final do "Minha rua tem história".

Logo que cheguei à escola havia uma média de cinqüenta jovens reunidos em um círculo no pátio. Ver tantos jovens reunidos me deixou impactada. Mas para minha surpresa esse número só aumentava com o passar do tempo, e ao fim da oficina tínhamos cerca de cento e cinqüenta alunos reunidos naquele pátio. Aquela paisagem humana era linda e acima de tudo contagiante. A energia daquele local era sensacionalmente positiva, e nos inspirava a participar da construção e evolução daqueles projetos.

No começo da oficina, a assistente, Paula, conversava com eles, falando-lhe sobre o projeto e outras questões envolvendo suas bolsas. Pedi permissão à assistente e conversei com pelo menos uma pessoa de cada turma. Queria que compartilhassem comigo um pouco a respeito de seus projetos.

Na turma A, soube que pretendem fazer uma exposição de fotos mostrando o bairro antes e depois das obras do PAC. Além das fotos, o projeto da turma A tem o objetivo de mostrar torneios e entrevistas com os moradores antigos através de uma filmagem.

Outro recurso seria a construção de uma árvore composta por eles mesmos. Essa idéia surgiu logo no começo do projeto, em uma oficina de que eu mesma participei.

Essa árvore seria construída por seus próprios corpos da seguinte forma: os alunos se deitariam no chão no formato de uma árvore, cada um deles vestido com a cor correspondente à parte da árvore em que se posicionariam. Os frutos seriam representados por pompons. Lembro-me de tê-los visto representando essa árvore em uma das primeiras vezes que fui à oficina. Foi uma idéia muito criativa e que acima de tudo mostra como está a interação, criatividade e espírito de equipe daquela turma.

Na turma B, o projeto gira em torno da história de Jardim Tropical, desde seus primeiros habitantes até o crescimento econômico e social do bairro. A turma pretende produzir um documentário com as pessoas que participaram ativamente do processo de desenvolvimento do bairro. Com base nessas informações, farão uma animação para ser exibida com o documentário.

Na turma C, eles pretendem criar uma espécie de catálogo com todos os eventos na área da cultura, educação, saúde, esporte e lazer. Esse catálogo, que posteriormente seria divulgado no próprio bairro, vai ser criado com base em entrevistas feitas com o auxílio do MP4. O projeto vai ser defendido Rônie Miguel, 19 anos, Aurélio Sales, 20 anos, e Jefferson Rodrigues, 19, que compuseram uma música durante uma das oficinas.

Hip Hop composto por eles no início do projeto:

“A árvore”

A árvore em busca da sua sobrevivência (2x)
Folhas, frutos, semente e raiz / Nesse mundo existe um valor que não se diz
Regar, plantar e colher / Nesse vai-e-vem só quem ganha é você
A árvore em busca da sua sobrevivência (2x)
Goiabeira, mangueira e amendoeira / Não fique aí parado de bobeira
Aprender, nunca é demais / É por isso que o Pro Jovem cada vez aumenta mais
......

O projeto da turma D teve como foco o esporte, a cultura e o lazer. A idéia inicial é a de buscar informações sobre os locais que oferecem esses recursos e posteriormente divulgar no bairro. Para os jovens da turma D, os moradores desconhecem as atividades existentes na comunidade. Eles conceberam esse projeto depois de uma visita à associação de moradores e amigos do bairro, onde descobriram cursos de teatro, capoeira e de percussão que eles próprios ignoravam. Essa turma também desconhia que antes de dar lugar às quadras de esporte, parque infantil e trailers comerciais, a praça Imperatriz foi um centro de macumba, uma quadra de escola de samba, um brejo e apenas um terreno baldio com uma casa geralmente usada para o consumo de drogas.

Quando a assistente Paula terminou de dar os avisos, Jamaica voltou-se para a roda e dividiu a turma em vários grupos. Queria que criassem um grito de guerra para o Tropical, sem divisão de turmas. Eles tiveram alguns minutos para compor a música, que logo em seguida seria apresentada ali mesma. A música escolhida ali representaria o bairro no grande evento do próximo domingo.

O grande momento chegou. Era a hora das apresentações! Aquelas músicas, e principalmente a energia daqueles jovens, me deixaram mais uma vez tocada. Aquilo ali foi pura emoção!















O primeiro a cantar foi Ulisses, da turma A. Ele foi seguido de Cristiano, da turma C. Mas naquele momento não havia turmas específicas. Havia apenas um grande grupo ansioso pela escolha do seu grito de guerra.

Inspirado na música “Extravasa”, da Claudinha Leite, Cristiano da Silva, 25anos, fez a seguinte paródia:

Extravasa
Tropical veio aqui pra ganhar / Eu quero ser feliz, antes de mais nada
Extravasa
Tropical veio aqui pra ganhar (2x)
Dominou geral / Invadimos a praça
A nossa galera é massa / Não tem porque chorar
Tropical esculacha
Extravasa...
......

Cristiano contagiou a galera toda, arrancando aplausos gerais. Mas o grande vencedor da noite foi Ulisses Nogueira, 18 anos. Ele contagiou, transformando aquele pátio em uma grande festa, uma explosão de alegrias e boas vibrações!

E este será o novo grito de guerra dos jovens de Jardim Tropical:

Não, não adianta nem tentar
Não adianta nem chorar
No Tropical eu vou ganhar
Sei que a minha equipe é a melhor
O nosso grupo é o maior
E ninguém vai nos segurar
É Tropical!
......


Mas hoje ainda não foi a despedida dessa juventude tão animada. Antes da tão esperada premiação no domingo, eles vão fazer uma grande farra. Mas observei que essa festa é mais do que uma despedida. É o início das grandes parcerias formadas durante as oficinas, onde criaram um forte laço afetivo que os fizeram caminhar juntos até aqui.

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