segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Prados Verdes mostra que não está para brincadeira

Luiz Felipe Garcez, o trotskista

E nem poderia estar

Chegar ao local da oficina do “Minha Rua Tem História” já é uma “tarefa da gincana”, pois, com as chuvas sucessivas dos últimos dias, a rua, que já começou a receber as obras do PAC, virou um mar de lama. E os desavisados que passavam por ali na quarta-feira eram recebidos por uma vaca que mugia e vinha correndo em sua direção. Mesmo com tudo isso as oficinas aconteceram.

A nova tarefa de criar um projeto sociocultural de pesquisa utilizando Mp4s deixou os jovens alvoroçados. A nova responsabilidade deixou todos assustados, mas ninguém desistiu.

Na turma A, foi escolhido o projeto de Clélia Maura Alves, de 21 anos, dedicado à saúde.

- Se ganharmos, vamos levar grupos para postos de saúde diferentes no horário de pico, entre 7 e 10 horas, para ouvir os pacientes, os médicos, as pessoas – explicou Clélia, para quem a saúde está em primeiro lugar.

A turma A escolheu por unanimidade Carlos Augusto de 22 anos para representá-la. No entanto, ele foi um dos poucos votos contrários ao projeto de Clélia.

- Eu não gostei muito dessa idéia, mas, como mais de 90% da turma votou nele, vou dar o melhor de mim na hora de defendê-lo – disse Carlos, que acredita ter sido escolhido como representante da turma por causa da sua desenvoltura nas oficinas e da sua voz forte.

Já o projeto da turma B, carinhosamente batizado de "Somos muito mais do que pensam" resultou de uma convergência de idéias.

- O projeto se chama “Somos muito mais do que pensam” porque Prados Verdes é um lugar muito mal falado - explicou Karen, que defenderá o projeto perante a comissão julgadora, caso ele seja escolhido como o representante do bairro no próximo domingo. - É por isso que vamos mostrar os possíveis pontos turísticos do bairro, os locais interessantes, os artistas e as pessoas legais do bairro. Tenho certeza que muita gente vai mudar sua visão daqui depois de ver nosso projeto.

Na turma C várias idéias surgiram, mas, por incrível que pareça, todas elas eram muito parecidas.

- Isso só mostra como nossa turma está entrosada - disse Thiago Robert, que defenderá o projeto batizado com o expressivo nome de “Censo de Prados Verdes”. - Nosso projeto é como se fosse um censo. Ele prevê a saída da turma pelas ruas do bairro com um questionário sobre educação, segurança, saúde, esporte e lazer, saúde e cultura.

Se em quase todas as turmas houve consenso, a turma D só escolheu seu projeto depois de acaloradas discussões. O debate parecia não ter fim em torno das diversas idéias e projetos surgidos nas duas noites em que se reuniram para discuti-lo. Por fim, o grupo fechou em torno do projeto “Minha rua tem tudo”, que será defendida pela Tarciane Maciel Queiroz. Ela explicou o processo de criação coletiva do grupo.

- A gente pensou em vários assuntos, todos eles muito importantes. Ai a gente foi aprimorando, cada um foi explicando o porquê da sua opinião e chegamos a esse acordo. Vamos falar sobre o barulho demasiado de certas casas e igrejas, sobre violência doméstica, sobre as enchentes, sobre a chacina que quase não foi falada que foi meio que escondida e que eu acho bastante interessante falar sobre isso. A nossa idéia é mostrar que Prados Verdes é bastante plural e que nossas ruas têm de tudo um pouco.

No fim da semana, todas as pessoas que estão acompanhado o “Minha rua tem história” em Prados Verdes ficaram com a certeza de que os jovens estão redescobrindo o bairro em que moram. Como um dos projetos de pesquisa quer mostrar, eles são muito mais do que muita gente pensa. É fácil perceber que lá tem de tudo. E que eles não vieram pra brincadeira.

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