terça-feira, 23 de setembro de 2008

A leoa da mangueira

Mãe de Camila foi feliz enquanto teve a mangueira
para amar

Luiz Felipe Garcez

Em vários momentos foi falado da ligação das pessoas com as árvores. Mas em particular a história a seguir é de se emocionar. Poucas vezes se tem uma ligação como essa, de sonho, de dedicação, de ligação. É quase que uma ligação maternal.

Você, provavelmente, teve o sonho de ser jogador de futebol ou de ser modelo. Quem sabe de ser médico ou advogado. Talvez até de casar e ter filhos ou de ser um surfista. A mãe de Camila Machado tinha o sonho de ter uma mangueira.

E os seus sonhos comuns, como o de ter uma casa própria, eram influenciados por esse sonho de ter uma mangueira. A casa tinha que ter um quintal enorme para poder abrigar sua mangueira tão desejada. Achar a casa ideal foi fácil. Difícil foi achar a muda de uma mangueira. A mãe de Camila correu todo o Km 32, bairro de Nova Iguaçu, atrás de uma muda. Para sua felicidade, apareceu uma vizinha com uma mangueira, fazendo com que a mãe de Camila ficasse ansiosa para pedir uma muda. Mas, envergonhada, ela precisou de muita coragem para pedir a muda à vizinha.

Generosa, a vizinha lhe deu logo três mudas. Seu sonho começava a se realizar.

Mas ainda havia muito caminho pela frente. As mudas eram o começo de seu sonho. Ela queria vê-las crescer e dar muitas mangas. Mas para isso era preciso que elas sobrevivessem aos constantes ataques dos cabritos que comiam as folhas das mudas. Mas a mãe de Camila, sempre dedicada, cuidou para que elas não morressem.

Com tanta dedicação, a mangueira cresceu e deu muitos, mas muitos frutos deliciosos. Como efeito colateral dessa dedicação, desse empenho, desse amor, veio o ciúme. Era Deus no céu e aquela mangueira na Terra. Ninguém podia chegar perto dá mangueira que a mãe de Camila, assim como a leoa protege seus filhotes, protegia a mangueira.

Porém, o tempo foi passando, a mangueira crescendo e a mãe de Camila percebeu que a mangueira já não era mais a mesma. Envelhecida, seus frutos já não eram tão saborosos. E aquilo afetou a mãe da Camila. Ver seu sonho morrer era demais para ela. Sua árvore estava envelhecendo, morrendo. O que fazer? Nada. E assim como nossos entes queridos são tirados de nós, aquela árvore foi arrancada do quintal da mãe da Camila. Ela chorou, chorou muito, afinal, era o seu sonho que estava sendo arrancado e que tanto a fez feliz enquanto durou.

Hoje já faz três anos da morte de sua mangueira e a mãe de Camila ainda sente a falta dela. Às vezes, é possível pegá-la triste pensando nos bons momentos com sua árvore. A mãe de Camila viu sua mangueira, seu sonho, nascer, crescer e morrer.

Feliz seríamos se todos nós amássemos uma árvore como a mãe de Camila amou sua mangueira.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que linda história, Luiz Felipe!
De fato, o mundo seria muito melhor se mais pessoas soubessem amar, cuidar, plantar árvores.
No mínimo não teríamos as catástofres gigantescas que destroem o nosso universo, como o aquecimento global.
Plante a sua árvore, que a minha eu plantarei, e será um Pau-brasil!