terça-feira, 16 de setembro de 2008

As três irmãs de Rodilândia

Irmãs Manoel Costa andam meia hora a pé para participar
do projeto na Rodilândia, mas chegam nas oficinas
cheias de gás e humor


Quem já teve o privilégio de participar de uma das oficinas da Turma D da Escola Municipal Odir Araújo, comandadas pelo estudante de psicologia Jorge Peixoto, já deu boas gargalhadas com as irmãs Luciene, Viviane e Roberta Manoel da Costa. Não foi diferente na noite de sexta-feira, quando se destacaram em meio aos 22 participantes com histórias ricas em detalhes e acima de tudo bem-humoradas.

A verve dessas três, que têm o incrível poder de rir da miséria de uma família com 12 irmãos, foi anunciada pela história contada por Viviane, que tem 20 anos e está cursando o 3º ano do ensino médio. O título de sua história, "Obra em tiroteio", já antecipava as gargalhadas com que a turma acompanhou a leitura do texto. Ela narrou uma das primeiras obras na casa de dois cômodos onde os pais e os 12 irmãos se apertavam, dormindo no chão e fazendo as necessidades num quarto "escuro, sem teto e cheio de entulhos". A obra a que Roberta fez referência teria ocorrido num momento em que a família já se dava ao luxo de ter uma cozinha. A corbetura dessa cozinha foi feita em duas fases, ambas tragicômicas.

Guerra do Iraque
Na primeira tentativa, as telhas de amianto voaram coma primeira ventania. O pai então resolveu fazer uma laje e em seguida colocou gesso, mas uma nova chuva arruinou a obra. "Minha mãe escutou um barulho que parecia uma cachoeira", escreveu Viviane. O buraco na laje inundou o gesso, deixando-o como se tivesse sido metralhado. O próprio pedreiro que fez a obra já chegou a perguntar "se a guerra do Iraque foi" na casa delas.

A segunda história, contado por Roberta Manoel da Costa, foi ainda mais engraçada. Essa obra já mostrava uma nova ampliação da casa. Apesar da ascensão econômica, ainda não foi dessa vez que conseguiram um pedreiro capaz de manter a palavra empenhada no começo da obra. "Quinha se dizia o melhor pedreiro de Tinguazinho", contou Roberta, que, com 20 anos, faz o 3º ano do ensino médio e descola uns trocados tomando conta dos filhos dos outros."Mas a cachaça acabou com ele." Além de não ter um bom trato com as crianças e de voltar do almoço com um tremendo bafo de onça, o alcoolismo de Quinha lhe deixava com os problemas intestinais que deram os hilariantes tons escatológicos da história de Roberta.

"Um dia ele voltou do almoço e pediu para usar o banheiro", lembrou. Essa ida ao banheiro se tornou um drama para a numerosa família Manoel Costa por duas razões: Quinha demorou horas e quando saiu, estava empapado de fezes. "Ele espalhou merda pela casa toda", contou Roberta, puxando as gargalhadas que tomaram conta da segunda turma da Rodilândia na noite de sexta-feira. "Mas o pior não foi isso", acrescentou ela, que levou como objeto um coletor de exame de fezes." O cheiro do cocô de Quinha deixou a casa empestiada por mais de uma semana."

Parede grávida
Logo em seguida, a turma D voltaria a dar boas garagalhadas com essas três irmãs que caminham pelo menos meia hora para economizar um dos ônibus que levam de Tinguazinho para Rodilândia e não têm pudor de afirmar que o maior interesse no Pro Jovem é a bolsa de R$100, que chamam de "benefício". Dessa vez, a risada foi provocada por Luciene, que por causa dos ciúmes do pai, que a vigiava sempre que ia à escola, passou oito anos sem estudar. Hoje com 24 anos e no 2º ano do ensino médio, Luciene contou a história de uma terceira obra na casa da família Manoel Costa, de cores igualmente tragicômicas. O pedreiro dessa vez era o filho de Quinha, que, como o pai, se gabava de ser o melhor pedreiro de Tinguazinho e no entanto "só fazia merda na casa dos outros". "Meu pai contratou um pedreiro sem saber que ele fazia trabalho de parteiro", ironizou Luciene, referindo-se às ondulações deixadas na parede da cozinha. "A nossa cozinha parecia grávida de tantas ondulações que ele deixou na parede."

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