sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O Segundo Tempo no Jardim Tropical e Prata

Continua a caminhada em busca da prata

Trinta e oito jovens em busca de uma medalha de ouro, a construção da sua cidadania. Esse foi o motivo da inscrição de centenas de jovens no Pro Jovem. A qualidade do programa, transmitida pelo esforço dos mestres oficineiros fica visível. Não há como não participar. A alegria em tempos já não tão cinzentos é contagiante. Nova Iguaçu deveria tomar o nome de um de seus sub bairros, deveria se chamar Nova Era.

Uma Nova Era
Uma nova era está começando para os trinta e nove jovens na escola municipal Meninos de Deus. A um olhar mais acurado parecem fiéis contritos em busca de sua salvação. Na entrada da escola uma inscrição chama atenção “A independência só é possível se for conquistada”. A independência certamente virá, depois de uma árdua construção que apenas está começando.
Para Ester de Oliveira Rosa, vinte e um anos, solteira morando sozinha em Mesquita, na área chamada Jacutinga, a independência virá certamente com muita luta.
Seu olhar demonstra firmeza. Evangélica, freqüenta o culto em um dos inúmeros templos da Assembléia de Deus em busca da salvação. Estuda no colégio estadual Costa e Silva , e cuida com carinho de seu filho Lucas , de apenas cinco meses, seu companheiro para todas as horas. Lucas de vez em quando é desperto de seu sono pela alegria barulhenta dos trinta e sete jovens que formam o grupo das 17h. Ester segura carinhosamente seu filho, mas não perde um segundo da dinâmica de grupo, agora em uma nova etapa.

Ester como quase todos os jovens da Baixada Fluminense, gosta muito de dançar funk, e não vê nenhum problema. Para ela é uma maneira honesta de aliviar as tensões. Não pode ouvir o som do MC Creu, na “dança da melancia” que tem vontade de acompanhar o batidão. Quem sabe o pequeno Lucas não será seu par daqui a alguns anos.

A assistente Érica Braga, vinte e dois anos, estudante universitária se entrega de corpo e alma ao projeto, sempre com o auxílio de Juliana Robert, com vinte e quatro anos. Para Érica “O contato com os jovens tem sido maravilhoso, às vezes sinto que sou um espelho para eles. Eles precisam de orientação, neste processo de afirmação em um mundo extremamente competitivo”.
Começa a dinâmica, cada um conta sua história, da construção de uma memória de tempos fugidios. A assistente Érica percebe muito mais espontaneidade do que na semana passada.

Um chapéu de operário passa de um para outro jovem. “É para eles se sentirem incorporados como operários, assim a narrativa fica mais fácil” diz Érica com um sorriso cheio de otimismo. Quatro jovens mães com seus filhinhos em um canto da pequena sala sorriem, cheias de esperança. Ao todo já são quarenta jovens, trinta e duas mulheres e oito homens. .

Jamaica no Jardim Tropical
Jamaica parece um cantor de reggae, um rastafari, um novo Bob Marley em busca da verdade, no clima tropical. Estamos em um final de inverno a quase quarenta graus, e respondendo a uma convocação, os dois grupos formam a roda e repetem a dinâmica de grupo para a equipe do Jovem Repórter.

Com voz firme Jamaica convoca a “galera”: “Gostei de ver vocês, estão com muita energia, a galera está bombando”. Mãos unidas, entrelaçadas os dois grupos se juntam, aos gritos de “mistura, mistura, parou”. Para ele houve um progresso enorme em relação à semana que passou em que alguns ficavam tímidos, pelos cantos sem dizer uma palavra sequer. Agora eles já estão pedindo para formarmos uma torcida organizada para demonstrar a força do grupo.

Jamaica não é um neófito, tem larga experiência com jovens, fruto de seu trabalho no grupo “Nós do Morro”. Não vê nenhuma diferença em trabalhar com jovens de favela ou com jovens da periferia, as expectativas são as mesmas Para ele a Baixada tem um grande potencial que precisa ser trabalhado, “os jovens estão ansiosos para demonstrar suas qualidades, e depende muito de nós, mais velhos, para ensinar o caminho” diz Jamaica. Imitando a vida, ao final do projeto eles vão fazer uma “festa da cumeeira”. Só que ao invés da tradicional cachaçada acompanhada da “buchada de bode”, eles aderiram aos novos tempos: vai ser feito um churrasco como forma de confraternização, tendo Jamaica como churrasqueiro.

Fortuna na parede
Muitas histórias são contadas como a inusitada história de Andréa Damasceno de Oliveira, dezenove anos, “Mulher mexendo com obra é um desastre. Obra é coisa pra homem, mulher é muito desajeitada. Me meti a fazer um conserto e me dei mal. Pra começar fui dar uma martelada e machuquei meu dedo, doía demais, chorei muito. Mas insisti, de tanto martelar acabei furando a parede, dura igual uma pedra.Fui escavando, escavando e tive uma surpresa muito gostosa. Tinha um pacotinho, fiquei curiosa e quando abri vi que tinha dinheiro guardado, fui contar e vi que tinha quinhentos reais” Andréa disse que quase não acreditou e ficou doidinha de alegria, chegou até a dar uns pulinhos. “Pra mim é muito dinheiro, caído assim do céu (ou da parede)”, diz Andréa.

A fortuna misteriosa tinha uma explicação, seu avô, para uns cauteloso, para outros muito “pão duro”, receoso das sucessivas mudanças da economia ao decorrer dos anos, cansado de ser explorado pelos economistas de plantão, resolveu esconder o dinheiro na parede fazendo um cofre tão escondido, que ele mesmo com o passar do tempo esqueceu onde estava. A sorte, ou a insistência de Andréa, fez a pequena fortuna aparecer. Foi uma poupança, sem nenhum desconto ou taxa bancária.


Rolos de pintura, pregos, colher de pedreiro, cimento, espátula, lixa de parede, reboco. cimento, areia, enfim restos de material usado em obra são colocados no chão como oferenda ritual para o objeto em construção. Esperanças, desejos, sonhos são depositados no projeto em construção, que tem atraído centenas de jovens da Baixada Fluminense no início do século XXI.

Estamos no dia onze de setembro do ano da graça de 2008, são vinte e uma horas. Enquanto em 2001, parte do mundo celebrava a destruição do ícone de um império, em uma pequena sala em um jardim tropical, Raoni Kodos fazia vinte e um anos celebrando com seu grupo a construção de um sonho em Nova Iguaçu.

3 comentários:

Unknown disse...

bela história,nem todas as mulheres são desastradas fazendo obra,mas o dever é do homem fazer...

Unknown disse...

bela história,nem todas as mulheres são desastradas fazendo obra,mas o dever é do homem fazer..

Raoni Kodos ! disse...

fala aeh !!!!

Aeh só pra lembrar meu nome é Raoni Kodos !!!

mas valeu assim msm por terem lembrado no site o meu niver !!!