segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A dança da lama

Chegada do asfalto torna engraçadas as lembranças
das quedas na lama

Equipe de Reportagem: Tatiana Sant’Anna, Isabel Cristina,
Sheila Loureiro, Fabiana dos Santos e Pedro Henrique Gomes.




Do barro para o asfalto. Moradores do bairro Cacuia, em Nova Iguaçu, comemoram a novidade no local: o asfalto. Tirando o saco plástico do pé, utilizado nos dias de chuva, a população dá o lugar para os sapatos novos sem receio de sujar. Embora a novidade tenha feito sucesso no lugar, as lembranças desses anos de lama caíram no campo da comédia.

A sacola plástica e os velhos sapatos ajudaram esses guerreiros nesses árduos anos de luta. Trabalhadores, estudantes e pessoas em geral saíam de suas casas na luta contra os tombos e a lama que os cercavam, chegando no ponto de ônibus com a respiração cansada, bolsa atravessada e calça arregaçada, mas com a sensação de dever comprido e que a batalha tinha sido ganha. Mas isso são as velhas lembranças da população deste local.

Bunda no chão
Depois de anos subindo e descendo a sua rua, o vendedor Sérgio Fonseca, de 31 anos, conta que já voltou para casa porque caiu na lama: “Cheguei a voltar para casa”, lembra. Ele diz que a queda era inevitável, pois, na época, a rua era de barro vermelho e muita escorregadia: “Eu não podia utilizar ou levar outros sapatos, pois ainda carregava o meu material escolar. Então o jeito era utilizar saco plástico nos pés para não sujar de lama. Inclusive levava um paninho para limpar, pois sempre vazava uma sujeirinha.” E para se equilibrar, segurava nas cercas e galhos que havia no caminho. Sérgio também já viu muitas pessoas caírem na sua frente, a maioria delas senhoras de idade. “Coitada das senhoras de idade. Tinha como ajudar, porém elas já tinham deitado no chão. Era bolsa para um lado, sombrinha para o outro e bunda no chão. Às vezes se tornava mesmo “hilário”, mas sabíamos da necessidade do próprio bairro ter ruas asfaltadas”, confessa.

Para o pedreiro Paulo Roberto, de 54 anos, o asfalto chegou em boa hora: “Acabou a dancinha”, diz. Acostumado a pegar água no início da rua, ele conta que já sofreu muitos escorregões com garrafões cheio de água nas costas: “Eu ia de saco plástico nos pés, enchia os garrafões e vinha andando para casa. Acabava levando um escorregão e caía com a garrafa, que por sua vez, entornava a água toda”, conta.

Saindo da onda do saco plástico, Dona Sônia, uma auxiliar de escritório de 50 anos, preferia utilizar sapatos velhos: “Eu trocava dentro do ônibus. Entrava com os sapatos todo sujo, pagava a passagem e era depois que eu trocava de sapatos normalmente, sem aquela pressa para ninguém ver, tendo aquela paranóia. Não tinha vergonha nenhuma dos meus sapatos sujos. Também não ligava para quem olhasse, pois ninguém paga as minhas contas”, declara.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que atire a primeira pedra quem nunca deu aquela escorrega no barro, mesmo que seja sem querer! As histórias de pequenas derrapadas no barro, mesmo que por vezes tristes, tornam-se para nós motivo de boas risadas. Adorei as histórias postadas.Parabéns!