O jogo da vida continua. As oficinas em Prados Verdes, Jardim Guandu, Nova Era e Alvorada prosseguem a todo vapor. “Quem fica parado é poste”, diz um velho ditado popular. Em Nova Iguaçu nem o tempo nem as oficinas do Pró Jovem param.
A primeira etapa foi em Prados Verdes, onde no entorno da escola os últimos operários terminam sua faina diária. São 17h30. Enquanto os trabalhadores saem, entram os alunos ansiosos por informação, na construção de sua cidadania. É um “bonde do bem”. Sorridentes, transmitem bondade em meio à simplicidade de uma quase zona agrícola.
Chega Mozart Guida, 32 anos, oficineiro. Seu olhar transmite energia em um corpo aparentemente frágil. Parece um dançarino de um ballet pós-moderno. Compartilha sua energia e seu otimismo com os 30 jovens que esperam sua orientação.
Começa o movimento
Começa a dinâmica de grupo, a roda da vida é formada, começa o movimento, afinal tudo se move, já dizia o velho Heráclito há mais de 3 mil anos a um grupo de jovens também sequiosos de saber. A palavra de ordem é construção.
Construir é o que mais se vê em Nova Iguaçu . É obra pra todo o lado, a cidade é um imenso canteiro de obras, surpreende não só aos forasteiros, mas principalmente aos “nativos”, muitos quase sem esperança.
“Vamos tirar par ou ímpar, vamos formar dois grupos”, diz Mozart . Ele batiza um grupo com a palavra tomate, o outro grupo vai ser a maionese. A dinâmica de grupo vai ser baseada no jogo da mímica. Um líder de cada grupo vai começar a tarefa de descobrir a palavra que não será dita, mas descrita por gestos. É o gestual como linguagem, a descoberta soma pontos. A primeira palavra é argamassa, a mistura para dar solidez. Em seguida vêm mão de obra, alicerce, tijolo. Enquanto o jogo vai continuando, o tempo exigido para a descoberta das palavras através dos gestos vai diminuindo, e alguns erram e vão perdendo pontos, até chegar à palavra final: madeirit (acabamento).
Para o elétrico oficineiro um jogo só não foi suficiente. “Vamos fazer outro jogo. Quero agora olho no olho do parceiro”. É um jogo para estimular a atenção e vencer de vez a timidez, nestes difíceis tempos de incomunicabilidade e distanciamento. “Olho no olho requer sinceridade”, diz Mozart. O jogo requer troca de lugar, sempre entre duplas que “olho no olho” vão memorizar o nome, a cor da camisa ao fazer a troca após um toque no ombro do parceiro e oponente. Toca um celular, um som estridente de música funk, a jovem larga tudo e vai correndo atender o seu chamado. Será o namorado? Às vezes, a tecnomania atrapalha, nesses tempos onde o virtual vem tomando o lugar do real. Mozart gentilmente pede para desligar. Continua o jogo, a vida continua.
Em Nova Era, o “jogo da construção” continua. O grupo participa atentamente às instruções do oficineiro.Uma aluna se destaca, quer participar intensamente, veio de muito longe e quer correr contra o tempo. Seu nome é Nataline Marques da Silva.
De Massaranduba em busca de uma Nova Era
Nataline veio de Massaranduba, perto de Campina Grande, na Paraíba. A bela jovem de 18 anos, olhos vivos, deixou seus pais e três irmãos na distante Paraíba, para vir tentar a sorte no Rio e morar com a tia, para ela uma segunda mãe.
Nataline é católica, solteira, mora na rua Jardim Pitoresco, com sua tia que também veio de Massaranduba. Preserva suas raízes e gosta muito de forró, seu preferido é Calcinha Preta, e planeja passar um sábado na Feira de São Cristóvão para dançar seu ritmo preferido.
Nataline gosta também de pagode e do grupo Sorriso Maroto, e vai de vez em quando ao baile em Caxias. “Fui uma vez ao Rio Sampa e adorei.” “Entrei para o projeto para ter oportunidades e conhecer pessoas, fazer novas amizades. Me inscrevi no curso de administração. Minha tia tem viajado e não pude ir ao baile nos finais de semana, fiquei em casa vendo televisão. Gosto muito dos desenhos do Cartoon Network, ás vezes do GNT e de alguns filmes, pois o cinema é muito distante. A nossa TV Gato (gatonet) é muito boa. Quando tenho dinheiro, ela vai ao shopping, senão vou até a praça ou fico mesmo em casa vendo TV. Atualmente estou sem namorado, mas gosto de namorar. Gostei de ter entrado no Pró Jovem, quero progredir”, diz Nataline voltando para seu grupo.
No Centro Comunitário
No Centro Comunitário Jardim Guandu, muita coisa funciona. Creche, atendimento odontológico, aconselhamento para os pais. A comunidade espera com ansiedade o final das obras, para comemorar.
A eficiência do projeto vai atraindo muitas gerações. Elisiane Silva da Costa , está muito atenta ao “jogo da mímica”. Sua atenção só é desviada pelo choro insistente de Sarah, sua filha de dez meses. Era hora de alimentar, dando o peito para a filha menor.
“Moro na rua do Ferro 141 em Grão Pará sub bairro próximo , e vim aqui para ingressar no projeto, quero aprender uma profissão, para ajudar meu marido, a criar meus quatro filhos. Ele é ajudante de caminhão, evangélico como eu. Vou todos os domingos na Assembléia de Deus, fazer minhas orações.
Gosto de música gospel , eu não sabia da gincana de sábado, senão teria ido. Adoro festa, onde tem muita gente.Infelizmente vou ter de esperar, tenho 28 anos, e não posso participar, mas venho assim mesmo. A moça ali (e aponta para a assistente) disse que vou ficar na segunda etapa do programa, quando irão estender a idade para inscrição.
Oficineiras
A oficineira Vanderléia Sampaio, professora do nível médio de 39 anos, que parece menos. Talvez a dedicação aos jovens tenha sido um remédio para rejuvenescer. Seu assistente Jeferson de Lima Santos tem 26 anos. Ambos dedicam-se de corpo e alma à dinâmica de grupo. Para ela a dinâmica força a reflexão sobre as obras, feitas em suas casas e nas suas ruas. “Está tudo indo muito bem, principalmente às terças-feiras. Na quarta à noite, ainda não conseguimos formar turma, mas nos outros horários temos um grupo de quase cem alunos, todos muito interessados. Ficamos muito contentes do esforço de nossa aluna Alessandra Helena, ter sido recompensado. Ela ganhou dez horas gratuitas em uma lan house.
” Ela usa série de palavras associadas à construção e divide o grupo em duas turmas. A turma A começou com a palavra alicerce e finalizou com planejamento. A turma B começou com a palavra disposição e terminou com churrasco. “Afinal, a vida não é só planejamento e disposição, um bom churrasco, no final vai premiar ao nosso suor”, finaliza.
Kátia Vidal tem 44 anos, profissão atriz, mas se dedica integralmente ao projeto. Ela vê uma analogia entre a construção de casas e ruas e a construção da cidadania, que vai sendo construída, lenta mas solidamente, sem retorno.
Ao final dos jogos embora tenha passado um pouco do horário, ela atende ao pedido unânime. Todos querem terminar com uma cantiga de roda, ao som de Ciranda cirandinha, e Atirei o pau no gato , vão formando um caracol.
“Acredito no projeto, apenas deveria ter um tempo maior para preparação, muitas dúvidas aparecem, mas vão sendo contornadas no decorrer do percurso. Estamos em uma área rural, e os jovens são mais tímidos que os meninos da cidade. Aos poucos eles foram se soltando, se integrando mais, agora eles querem arrasar, e estão bem preparados para a próxima fase. O importante é estarem preparados para o desafio do dia a dia, das etapas a serem vencidas”, finaliza Kátia.
4 comentários:
help me.
olá, Vanderleia realmente é uma menina, com sonhos e realizações de mudar o mundo, por isso naun envelhece nunca, nos conhecemos em projetos culturais e sempre q podemos estasmos trabalhando juntas assim como no minha rua tem historia q está fantastico!!!!
arrasa amiga...
realmente ela quando com a nossa turma...parece mais jovem do que nois...
isso realmente tem feito a diferença....
oiiiiiiiiiiiiii,ai projovem e otimo, alem de fazer amizades podemos ganhar um dinheirinho,pessoas e conhecimento.bjssssssss
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