quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O salvador da Nova Era















Um dos primeiros moradores de Jardim Nova Era, o pastor Orestes Barbosa deu depoimento para o documentário sobre o seu bairro

Por Anderson Fat

Uma pessoa tranqüila e trabalhadora. Essa é a imagem que a vizinhança tem de Seu Orestes, pastor evangélico, 64 anos, que vende salgadinhos e caldo de cana no portão de sua casa, no bairro Jardim Nova Era. Nascido na Zona da Mata, Orestes Barbosa dos Santos aprendeu logo cedo que o trabalho seria a mola mestra para superar a pobreza em que vivia no interior de Minas Gerais. Com apenas sete anos de idade, percebeu a chance de pregar uma peça no destino e mudar o rumo que a sua vida tenderia a tomar. Para ele, nada mudaria em sua história caso não estudasse em uma boa escola da cidade grande. E foi atrás desse sonho que Orestes veio para o Rio de Janeiro morar de favor na casa de uma tia, na Tijuca.

O namoro com a escola durou pouco tempo. Depois de concluir o ensino primário, o pequeno Orestes caiu firme no batente e começou a aprender mecânica automotiva trabalhando em uma oficina, em Botafogo. Alguns meses depois, tornou-se morador do bairro e passou a dividir um imóvel com um conhecido. "A gente se mudava sempre que o aluguel aumentava. Já morei nas ruas Real Grandeza, 19 de Fevereiro e Dona Mariana", diz, mostrando ter conhecido muito bem o bairro da Zona Sul do Rio.

Casa no morro
Conforme foi ganhando experiência, o jovem Orestes começou a ser convidado para trabalhar em oficinas maiores, prestando serviço de lanternagem. "Cheguei a trabalhar numas sete oficinas de grande porte", orgulha-se, lembrando dos tempos de 'vaca gorda'. "Mas de uns tempos pra cá esse negócio começou a cair. Hoje, quem quer consertar um carro, leva numa autorizada. Desse jeito, fica ruim para as pequenas oficinas. Quando percebi isso, pulei fora", explica, mostrando a visão que tem para negócios.

Durante o tempo que trabalhou consertando carros, Seu Orestes, que não era bobo, conseguiu juntar uma graninha para fazer o seu pé de meia. Com essa grana, passou a procurar uma casa para comprar. Num primeiro momento, queria continuar morando na Zona Sul. "Pensei em comprar uma casa no morro Dona Marta, em Botafogo. A Ladeira dos Tabajaras, que fica Copacabana, também estava apenas começando", revela, ilustrando um cenário bem diferente do atual.

Amor à primeira vista
Até que um dia, passeando na praia de Botafogo, Orestes leu o anúncio de um terreno para vender a cinco minutos da estação de Nova Iguaçu. "Na hora pensei: ‘Nem pensar. Não vou morar na roça’", lembra. Mas aos poucos, o jovem Orestes foi se acostumando com a idéia e resolveu conhecer o tal terreno de perto. Pegou um carro emprestado com um amigo e veio ‘a mil’ para Nova Iguaçu. Quando chegou, soube que não era o terreno que ficava a 5 minutos da estação ferroviária, mas a imobiliária. Lá, foi informado que teria que seguir viagem por mais uns 10 minutos até chegar ao terreno anunciado. "Já estava aqui mesmo, né? Resolvi prosseguir viagem", decidiu.

Dez minutos mais tarde, lá estava seu Orestes frente a frente com o que mais tarde viria a ser seu lar. Na época, um grande descampado com uma fundação para levantar 40 casas. "Foi amor à primeira vista", relembra. "Quando voltei para fechar o negócio, já havia outra fundação para mais 40 casas. Aí, pensei: ‘esse lugar vai crescer’", disse. Foi assim que o jovem Orestes, com 21 anos de idade, adquiriu seu primeiro bem.

Em dois anos de muito trabalho, Orestes construiu sua casinha. Estava pronto para casar. Foi quando decidiu pedir a mão de Josete dos Santos em casamento. Com o álbum do matrimônio em mão, seu Orestes mostra, cheio de orgulho, a elegância dos noivos e dos convidados presentes na cerimônia. Quando perguntado sobre sua vaidade, o velho Orestes se esquiva. “Não, não. Não sou vaidoso, não. Gosto de ser amigo. Amigo das pessoas”, afirma, sem querer admitir as horas de produção para chegar àquele penteado da foto.

Salvando almas
Sem perder o faro para negócios, resolveu diversificar seus investimentos. No portão da casa nova, ele passou a vender salgado e caldo de cana. Já na garagem, montou uma oficina mecânica com tudo o que tinha direito. “Eu tinha muita coisa de oficina guardada. Trouxe tudo para cá. Minha mulher que não gostava muito, sempre dizia para eu jogar aquilo fora. Mas, viu? Se eu tivesse ido na idéia dela, nada disso aqui existira”, conclui, feliz da vida, num cantinho da garagem que ele usa para guardar ferramentas, uma geladeira, uma máquina de caldo de cana, e mais um monte de pneus de carros e de bicicletas. Hoje, as bicicletas são o público alvo do seu Orestes. Não demorou muito até uma mãe bater em seu portão solicitando seus serviços. “Seu Orestes, será que o senhor pode ver a bicicleta do meu filho hoje? Acho que o pneu furou”, deduz a senhora. “Claro que sim, dona. Quando a senhora for deixar seu filho na escola, traga a bicicleta para mim”, agenda.

Com pouco mais de um metro e meio de altura, Seu Orestes se mostra um grande empreendedor. De olho no boom imobiliário que a cidade vive atualmente, ele já prepara o campo do seu novo empreendimento. “Agora pretendo construir dois ou três quartinhos (quitinetes) para alugar. E garanto que até o fim do ano vai estar prontinho para morar”, arrisca. Seu Orestes admite ser um homem realizado na vida por ter dado conta de oito filhos e onze netos. Segundo ele, o seu mais novo desafio é “salvar almas”. Com brilho nos olhos, o também pastor Orestes se despede com uma revelação digna de um homem de bem que só visa o bem. “Depois que conheci a igreja evangélica, me dedico a salvar a vida das pessoas. Isso me faz feliz”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amei a história do Seu Orestes. Além dela ser linda, o Fat também está de parabéns.