segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Dia de limpeza

Motorista de lotada ajuda BXD Crew a grafitar
ruas da Palhada

Por Flávia Ferreira

Em meio à lama e ao calor, um grupo de quatro grafiteiros, liderados por David Nogueira, o Dante, dava uma cor aos muros da Palhada, na última sexta-feira . Era um mar de lama tomando conta das ruas. Dava até para fazer um surfe no imenso lamaçal. As ruas contrastavam com o asfalto lisinho que as obras do PAC trouxeram para o bairro.

Os moradores, grande parte crianças, ficavam maravilhados com os desenhos que marcaram a terceira fase do projeto 'Minha Rua tem História'. "Achei lindo, tem gente que faz pichações e coisas erradas, mas o grafite é uma coisa boa", conta a estudante Camila Salvador, de 14 anos. A estudante deseja aprender a arte urbana, mas ainda não encontrou uma oficina para se tornar mestre na street art.

Serviço completo
Os mais animados com as pinturas eram os donos dos muros, dando a maior força para a crew de Dante. Queriam suas casas cheias de cor. "Eles podiam fazer o serviço completo, emboçar, pintar e grafitar todo o muro de minha casa", diz Inácio Ferreira Monteiro, 55 anos. Esse senhor não é o dono do muro da Rua Santa Isabel, mas teve poderes para autorizar a grafitagem.

Mas não foi só Inácio que se empolgou com a idéia. Áurea Maria Vargas, 44 anos, teve outro apelo para liberar seu muro. "Temos que abrir um espaço para a cultura, porque tudo aqui é feio", diz ela, maravilhada com o trabalho. "Então, o que vier para melhorar e tornar o bairro mais criativo é bom."

O grafite não era novidade na Palhada. Muitas pessoas já conheciam a arte das ruas, mesmo nunca tendo praticado. Cristian Diego de Oliveira, um auxiliar de serviços gerais de 18 anos, tem bastante intimidade com os desenhos. Cristian conta que seu pai é um veterano pichador e trocou o jet preto e as assinaturas noturnas pelo desenho. "Meu pai desenha muito, mas nunca quis fazer grafite, mesmo gostando do trabalho", diz Cristian. Seu pai curte tanto que em seu quarto há um desenho do Batman grafitado na parede, a assinatura do grafiteiro Welder Short e desenhos de sua própria autoria.

Novo olhar
Contudo, se não fosse pelo motorista de "lotada" Leandro Godinho, 22 anos, nada disso teria acontecido. "Por conhecer o trabalho que eles fizeram na Via Light, pedi para a comunidade liberar seu muro para o grafite", lembra Leandro. Segundo ele, isso daria uma nova cara para o esquecido bairro. "Isso dá um novo visual ao local, que não tem nada", conta ele. "Assim as pessoas se interessam e têm um novo olhar do lugar."

Para convencer a comunidade, Leandro tirou algumas fotos dos grafites da Via Light e mostrou para os moradores, que passaram a se interessar pelo trabalho. Morador da Rua Regina Ribeiro, Leandro pegou sua kombi azul anil e levou os grafiteiros e seu material para outras ruas, bem mais distantes.

A simplicidade do local era mostrada por seus moradores, que ficavam com suas roupas rasgadas e sujas no portão de suas casas. As crianças brincavam no asfalto vermelho das ruas grafitadas, dando estrelinhas, arrastando carrinhos pela lama enquanto os pais arrumavam suas casas. Era sexta-feira, dia de limpeza.

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