quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Um bom lugar para se criar uma filha

Todos falam mal do Jardim Guandu, mas ninguém quer sair de lá
Por Luiz Felipe Garcez

A noite de terça-feira foi inesquecível para o Bairro de Jardim Guandu, mas principalmente para Cristiane Andrade Ferreira, uma das protagonistas do documentário exibido.

Cristiane estava em estado de êxtase. Era nítido, via-se no rosto dela. No entanto, a emoção que a contagiava não a impediu de nos contar tudo o que sentia. Começou falando do seu futuro próximo:

- Minha meta é terminar esse curso, que eu acho muito interessante não só pela qualificação profissional, mas pela parte social, através do "Minha rua tem história. Adorei o projeto, ele mexeu muito comigo. Graças a ele, posso dizer que hoje conheço um pouco da história do meu bairro. E minha meta é essa, ir descobrindo cada vez mais do meu bairro.

Extrovertida, simpática e principalmente comunicativa - em uma simples conversa a gente percebe essas características em Cristiane. E conversa não faltou. Ela parecia estar à espera do primeiro par de ouvidos disponíveis para falar de toda a ansiedade, de toda a vergonha e mesmo de toda a surpresa que a acompanharam ao longo da terça-feira, enquanto aguardava a exibição do documentário.

- A minha preparação para hoje foi muito ansiosa mesmo. Nossa, passei o dia inteiro assim. Fora a vergonha que eu tô, né? Afinal, vai todo mundo ver lá na tela. E eu fui pega de surpresa, não esperava participar desse filme. Mas eu tô feliz com isso.

Cristiane fez questão que a família e os amigos prestigiassem sua grande noite.

- Trouxe minha mãe, minha filha de 1 ano e 2 meses, meus irmãos, alguns amigos e alguns vizinhos de bairro.

Cristiane, que já havia participado de um grande projeto social há cerca de três anos, nunca imaginou participar de um filme:

-Eu nunca imaginei, mas NUNCA imaginei mesmo.

Cristiane estava eufórica e isso se refletia na conversa. Ela era a própria alegria dos jornalistas. Como já acontecera na gravação do documentário, bastava uma pequena provocação para que desembestasse a falar.

- Minha rua tá nesse projeto do PAC e eu tô vendo sair, um pouco devagar de vez em quando, mas tá saindo. E tá mudando tanto a minha vida quanto a da minha família e de todo mundo da rua.

Cris não hesitou em lembrar a história sobre a porta da sua casa com a qual chamou a atenção da oficineira Kátia, que indicou seu nome para a produção do documentário. No entanto, a mãe teve vontade de matá-la quando soube que expusera as dificuldades que enfrentaram durante as obras .

- É uma história engraçada, a história de uma porta que ficou quase um ano sem ser colocada no lugar. Minha mãe ficou morrendo de vergonha. Mas eu gostei de dividir essa história com o pessoal.

Depois de assisti-la na tela, Cris fala do que sentiu:

- Tô com vergonha, todo mundo me viu. Mas eu gostei, tô feliz, porque eu tô passando as expectativas pro lugar e tô passando o que a gente já passou antes das obras. "Minha rua tem história" com certeza mudou e vai mudar a cara do nosso bairro. Mesmo devagar, mas vai. Afinal, tudo com sacrifício acontece e eu espero que todo mundo lute pra tornar Jardim Guandu um lugar melhor, como eu tô lutando...

Cris, antes de terminar a conversa, deixa uma mensagem para todo mundo:

- Muita gente diz que tem vontade de sair daqui do bairro, mas a verdade é que ninguém vive sem ele. Eu mesmo já pensei em sair, mas é aqui que eu quero ficar e criar minha filha. E é por isso que eu acho que devemos cuidar do nosso bairro.

E se Cristiane falou bastante, sabemos de quem ela herdou isso. Sua mãe deu uma rápida entrevista falando do que sentiu vendo sua filha na telona:

- Eu fiquei muito emocionada, porque eu nunca esperava que ela ia ganhar essa oportunidade, mas tudo que ela contou é verdade, tudo que eu passei com ela. E foi uma grande surpresa esse evento aqui. Eu nunca imaginei que pudesse ter algo do tipo aqui no bairro. E eu espero o melhor pra essa juventude que tá vindo aí e eu acredito que são essas oportunidades que vão tirar eles da rua, das esquinas, do mal caminho.

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