terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A última sessão de cinema


















Gincana social encerra atividades com exibição de documentário em Cabuçu

por Alcyr Cavalcanti

Foi uma noite de alegria e muitos encontros. A equipe desde cedo providenciava os detalhes definitivos para uma noite de festa. A festa da cultura.

Rebeca, Verônica, Mazé e os motoristas Lúcia Helena de Sousa, uma moradora de Caxias de 54 anos, e Jomar Ribeiro Cruz, um morador de Santa Cruz de 46 anos, desde cedo rodavam Nova Iguaçu, enfrentando um trânsito caótico para que tudo desse certo. A montagem começou cedo. A tecnologia é a oitava maravilha do século XXI. Mas somente quando funciona. Computadores, datashow, tela, microfone, aparelhagem de som e fios, fios e mais fios. Um trabalho insano, testes e mais testes, mas no final deu tudo certo.

Elisangela Melo, a Fofão, carregava as últimas cadeiras para dar conforto aos espectadores. Com 34 anos e mãe de quatro filhos, essa guerreira deu o sangue para consolidar a gincana social em Cabuçu, o bairro que contou com o maior número de jovens ao longo do projeto. Ela sempre acreditou no projeto e acredita na administração atual, “que tem dado oportunidades a quem nunca teve nada”, como diz num misto de orgulho e admiração.

Ela vai continuar dando seu suor e seu sangue pela causa da juventude iguaçuana, dessa vez em um projeto que remete ao seu apelido da época em que era "inchada de bebida". “Eu bebia tudo que via pela frente, mas vieram os filhos e hoje me dedico a ajudar os jovens, tirando eles do vicio e da malandragem." Depois de construir um muro para impedir que os jovens drogados se escondam da polícia, ela criou o projeto “Cultura Viva na Comunidade”. "Com ele, vou dar aos jovens esperança em um futuro melhor, longe das drogas e do vício."

A equipe se desdobra para dar tudo certo. Nossa produtora Rebeca Ramos, 30 anos, carioca do Humaitá, fez cinema na UFF, a melhor escola de cinema do Rio de Janeiro. Foi aluna de mestres como José Carlos Monteiro, Serra e Sérgio Santeiro, entre outros. Ela procura aprimorar cada detalhe, sempre tendo como parceira Verônica Nascimento, de 34 anos, que só não fala com mais orgulho das transformações em curso na cidade quando se refere ao filho Sérgio. Em um ponto elas concordam plenamente: o projeto permitiu que os jovens conhecessem pessoas da mesma idade que, embora morando em bairros completamente diversos na imensa cidade, têm as mesmas ambições, dificuldades e sonhos.

Às 19 horas, como combinado, a função começou. As pessoas chegaram mais cedo, a maioria de mulheres jovens, algumas crianças e alguns poucos rapazes, mas atentos e interessados. As mais de 60 pessoas do bairro Cabuçu e adjacências lotavam a pequena sala, ansiosos pela exibição de um filme onde os protagonistas eram os moradores do bairro falando sobre eles mesmos, seus problemas, seus sonhos, suas esperanças.

















Resgate da memória
Chega Anderson Barnabé de Oliveira, 38 anos, natural de Sete Lagoas em Minas Gerais, mas iguaçuano de coração, desde que passou a trabalhar a todo vapor há três anos. O sempre elétrico Barnabé faz uma breve introdução para explicar a algumas pessoas detalhes do projeto. “Resolvemos fazer um resgate da memória de Nova Iguaçu por meio de uma gincana socioeducativa, onde as histórias foram o tema. Participaram 200 jovens por 17 bairros, num total de 3.400 jovens. O Projeto Minha Rua Tem História foi um êxito total.”

Chega o grande astro da noite, seu Paulinho, logo sucedido por uma equipe da TV Futura, que veio para documentar a sessão. O câmera, sempre atento, não perdia um só lance. Mas o foco era aquele que viu as transformações que se sucederam no bairro, desde a pujança dos milhares de laranjais até sua destruição por pragas sucessivas e governos ineficientes, até os dias de hoje, onde aos poucos as esperanças vão se concretizando. A TV acompanha suas reações e a da platéia, que vibra a cada fotograma do documentário exibido. O ponto culminante foi a entrevista de seu Paulinho, que narra com emoção as transformações do Jardim Laranjeiras e sua luta comunitária.

Mario José Mixo, o Mazé, tem apenas 24 anos, mas já é um mestre na fotografia e também na arte da culinária, quem sabe preparado para as crises cíclicas do capital, no exercício de múltiplos saberes. Ele conhece a fundo sua cidade, desde os tempos em que, pés descalços e calças curtas, correndo pelos imensos campos até os dias de hoje, em que percorre a cidade registrando suas transformações. Na noite da ultima sessão ele sabe que está registrando um momento histórico.

Depois da exibição do documentário, veio a dupla Josicleide e Natalício para encerrar com chave de ouro. A platéia veio abaixo com as tiradas de improviso. Depois de mais de 70 apresentações, com chuva ou com sol, de manhã, à tarde e à noite, para platéias das mais diversas, se acostumaram a improvisar mudando partes de seu repertório e criando “cacos” conforme as reações do público. Esse foi o caso da reação de seu Paulinho, que contestou a dupla dizendo que a mulher mais bonita da cidade era a Chumbrega e não a Josicleide.

Fim de festa, aparelhos de MP4 são sorteados, para delírio dos contemplados. Mas a festa não acabou. Em 2009, novos projetos serão implantados, outros serão continuados. A vida continua em 2009 em Nova Iguaçu, em ritmo de alegria, e muita esperança.

Parabéns povo de Nova Iguaçu, a festa continua. Viva 2009.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Nobreza sob a lua cheia

Seu Wilson defende causas nobres desde a época de Dom Adriano Hipólito
por Anderson Fat

É na doutrina espírita que um dos moradores mais antigos do bairro Jardim Alvorada encontra forças para lutar por melhorias onde mora. Para Seu Wilson Pereira, 73 anos, os ensinamentos de Alan Kardec lhe dão a paz interior necessária para lidar com a realidade dura que muitas vezes faz parte do dia-a-dia de seus contemporâneos encarnados. Em trinta anos de residência no bairro Jardim Alvorada, Seu Wilson enumera diversas conquistas de militância em prol da comunidade. À frente da associação de moradores do bairro, Seu Wilson buscou representar a população local e também a mediar momentos de tensão. "Uma vez os moradores tentaram fechar a Estrada de Madureira (Avenida Abílio Augusto Távora, principal via da região). Nessa hora tive que acalmar a multidão e convencê-los a reivindicar, mas sem vandalismo", lembra. O equilíbrio espiritual de Seu Wilson foi fundamental para contornar essas situações.

O petroleiro aposentado do Jardim Alvorada via na sua profissão a condição de alimentar seus sete filhos e no ativismo social o sustento para alimentar a sua alma. Ele revela que algumas vezes chegou a abandonar o serviço para fazer ações beneficentes. "Algumas pessoas sabiam que eu estava faltando por uma causa nobre e faziam vista grossa", admite. "Teve uma vez que fui punido. Me mandaram lá para a Ilha das Cobras, na Praça Mauá", relembra, convencido que era impossível fugir do trabalho naquele lugar. Nessa época, Seu Wilson se uniu à campanha do Betinho e distribuía alimentos para pessoas carentes. "A gente ia para o Ceasa de madrugada e buscava doadores para a campanha."

Antes mesmo de Seu Wilson chegar ao bairro, seus olhos estavam voltados para os menos favorecidos. Ele se lembra com muito orgulho das 1921 famílias que não foram despejadas de suas casas graças a pessoas como ele. "No dia do despejo, nós entrávamos nas casas do BNH, lá de Belford Roxo. A ajuda do Dom Adriano Hipólito foi essencial", revela. Mas foi sua atuação no Jardim Alvorada que chamou a atenção da técnica social do PAC, Ana Paula. Ana é responsável por mediar a relação do PAC com a população local e quando conheceu Seu Wilson fez questão de indicá-lo como personagem para o documentário que registrou o antes e depois das obras no bairro.
Saiba mais sobre Seu Wilson, personagem do documentário sobre o bairro Jardim Alvorada.
















Exibição lotada
Sentado no canto direito da última fileira, o primeiro espectador a chegar na Escola Rui Berçot de Mattos foi o próprio Seu Wilson. Ao contrário das estrelas de cinema, que não dispensam uma entrada triunfal, Seu Wilson mantinha total discrição ao lado de sua filha Selma Pereira, xodó adotado com apenas um dia de vida. Sob a luz da lua cheia, Seu Wilson se manteve quase estático, enquanto a quadra da escola começava a encher de gente para vê-lo na tela.

Ao iniciar o filme, Seu Wilson fixou os olhos na tela e só movimentava as mãos, friccionando uma na outra, revelando certa apreensão. Após os primeiros minutos, as mãos do petroleiro aposentado se acalmaram e ele se envolveu completamente com a narrativa do filme. Talvez esse tenha sido o único momento em que o papai coruja ficou mais de um minuto sem olhar para a filha Selma.

Quando o filme chegou ao fim, as pálpebras de Seu Wilson tentavam segurar as lágrimas que teimavam em cair. Com um nó na garganta e voz embargada, Seu Wilson só conseguiu dizer: "Muito bonito. Minha vontade era pôr esse filme na rua para todo mundo ver."

Antes da exibição do filme, Selma Pereira teve a oportunidade de ver sua primeira peça de teatro ao lado do pai. Selma se divertiu bastante com as loucas aventuras do casal de personagens Josicleide e Natalício, interpretadas pelos atores Francisco Salgado e Leandro Muniz. A peça dramatiza ações do dia-a-dia que podem contribuir para se ter uma cidade limpa e saudável.
Conheça a Dupla Salgado e Leandro: atores apresentam esquete ambiental em escolas municipais de Nova Iguaçu.

O laranjeiro fiel



















Descoberto pela equipe de filmagem da gincana social, Seu Paulinho viu a ascensão e queda dos laranjais de Cabuçu

por Alcyr Cavalcanti

Paulo Couto de Araújo, o Seu Paulinho, tem 64 anos. Nasceu em Rio Bonito, próximo à região dos Lagos, mas encontrou seu pequeno paraíso em Nova Iguaçu. É casado com Aracy de Oliveira Araújo, uma mineira de Juiz de Fora de 65 anos, que lhe deu três filhos e um neto.

“Vim para Nova Iguaçu ainda criança, para o bairro Cabuçu, aqui perto. Não existia ainda o Jardim Laranjeiras. Era tudo um enorme loteamento. Em 1952, vim morar no sítio que meu cunhado comprou em Cabuçu. Ele dizia maravilhas do lugar.”

Seu Paulinho fala com saudades de quando era tudo uma lavoura só. “Eram laranjais, bananeiras, mamoeiros, enfim, era uma terra abençoada”, lembra. Os empregos eram tão abundantes quanto os frutos da terra. “Bastava plantar e cultivar, que a colheita estava garantida.” Na época da florada, os caminhões da Coutraille, uma firma do interior de São Paulo cujos donos eram descendentes de italianos, levavam toda a produção. “As laranjas eram doces, de bom tamanho e muito saborosas.”

Emocionado, Seu Paulinho interrompe a narrativa, semblante pensativo, lembrando que agora só há algumas pequenas lavouras de subsistência, e mesmo assim de quem tem amor à terra. “Laranjas agora nunca mais”, diz ele, para em seguida se encaminhar para um terreno defronte, onde há um pé de laranjeira com as folhas carcomidas pelo fungo amaldiçoado que dizimou as plantações não só de Nova Iguaçu, mas de todo o Estado do Rio.



















A praga dos laranjais
A praga dos laranjais acabou com as floradas das imensas plantações. As folhas são atacadas pelo “bicho furão”, uma fase de lagarta de um tipo de mariposa, que acaba com o plantio, deixa uma película negra que cobre as folhas, além de outras pragas como alguns tipos de vermes, que atacam as raízes. As diversas pragas que afetam as plantações de laranjas principalmente em São Paulo, o maior produtor, dão um prejuízo anual de mais de U$ 50 milhões aos exportadores brasileiros. Em Nova Iguaçu principalmente na região de Cabuçu desempregou milhares de lavradores que esperavam com ansiedade os caminhões de São Paulo que não viriam mais. “Havia trabalho para todos, devido ao método adotado nos milhares de laranjais. Alguns lavradores capinavam, outros podavam, havia a preparação do solo, e o controle das plantações. Chegamos a produzir mais de oito mil caixas.”

Que fazer dos milhares de pessoas que só sabiam fazer isso? A solução imediata, em reação ao descaso dos governantes, foi buscar sustento na construção civil, sem qualquer tipo de especialização. Suas moradias foram construídas muitas vezes em locais inadequados, em reservas ambientais, ou em áreas de risco. O importante era sobreviver, não importa como. “O ministério tentou acabar com a praga, fazendo sobrevôos e derramando pesticidas. Não adiantou, o danado do bicho resistiu, ficou entranhado na terra. Em conseqüência do derrame de pesticidas milhares de galinhas e coelhos morreram envenenados”.

Para Paulinho, faltou aos pesquisadores do Ministério um estudo mais detalhado para acabar com a praga. Para ele, a laranja produzida em São Paulo, principalmente na região conhecida mundialmente por “Terra da Laranja”, não se compara à que era produzida em Cabuçu. ”A laranja de São Paulo é bem menos doce da que era produzida aqui. O motivo é o clima de São Paulo, onde o sol age com menos intensidade. A fruta necessita de muito calor, de sol forte, que lá não tem. Por isso, a nossa era melhor e mais doce”, afirma Seu Paulinho.



















Liderança comunitária

No trajeto, pude observar a popularidade de Paulinho. Em uma caminhada de uns 800 metros através de um sol escaldante, ele era saudado ao longo do percurso. A rua estava um canteiro de obras, com máquinas preparando o terreno. Os operários paravam sua árdua tarefa para cumprimentar a velha liderança comunitária. “Chegou um tempo em que resolvi lutar pelos problemas de minha comunidade. Sempre tive um espírito coletivo, quando garoto ajudei a formar um time de futebol, o “Apolo XI”, em homenagem à nave espacial.”

No início, o time era chamado “Rian”, um anagrama em homenagem a Nair, a musa do time. Era bem organizado, tinha até meia, camisa e chuteiras. Os jogos eram aos domingos, seguidos de uma cervejada. Mas chegou o dia em que a patroa deu o ultimato: “Ou fica comigo ou fica com a bola”. E Paulinho resolveu optar por Dona Aracy, sua companheira de jornada até os dias de hoje.
Seu Paulinho interrompe a narrativa para mostrar as fotos de sua filha, mas dá uma especial atenção às do pequeno Pablo, nome em sua homenagem, com grafia em espanhol, para não ficar exatamente igual ao seu. “Afinal, Pablo é a tradução de Paulo”, diz com um sorriso maroto. “Mas não esqueci o futebol, sou tricolor de coração e só não vou mais ao Maracanã por causa do horário dos jogos e da violência das torcidas, que só pensam em brigar.”

Sempre preocupado com os problemas de seu bairro, Seu Paulinho ajudou a fundar a Associação de Moradores do Bairro Jardim Laranjeiras e Adjacências. Foi secretário geral e vice-presidente, mas era de fato a “linha de frente”. “A associação de moradores é um elo, uma ponte, um intermediário entre os moradores e a prefeitura. É feita para lutar, reivindicar junto às autoridades. Mas não tem o poder de realizar. A maioria não entende isso.”

Ele fala com admiração das obras que estão sendo feitas em seu bairro. “Para mim, esse menino, o prefeito, foi o melhor que a Baixada já teve. Está concluindo as obras, melhorando nossa vida, nos dando mais conforto e civilidade. Nenhum se compara a ele. Aqui era governado pelo sistema tradicional no Brasil, o sistema de parentesco. Saía um, entrava o filho, o irmão, o cunhado, era sempre a mesma coisa. Não faziam nada. Você viu o cara que bateu no meu portão e disse que a obra não fica pronta nunca? Ele não leva em conta que se fosse há alguns anos, ficaria tudo abandonado. A eleição já estava ganha, não era preciso mostrar mais nada. Sei que a crise está aí, mas muita coisa ainda vai ser feita. Só vi um prefeito, além desse menino, fazer alguma coisa pelos moradores. Foi o doutor Bolívar Assunção, que de fato fez muita coisa pela educação. Ele começou seu governo como um homem modesto e trabalhador e quando saiu foi pra sua clinica, sua farmácia, onde dava remédio para os necessitados. Era diferente da maioria dos políticos atuais, que roubam tudo que podem, escondem dinheiro até na cueca, só estão a fim de se arrumar.”

Era hora de regressar, caminhando através do canteiro de obras, sob o verão iguaçuano, onde pessoas vinham pedir todo o tipo de informação ao velho batalhador ainda com a cabeça cheia de sonhos.

Seu Paulinho fez questão de me levar até o local do encontro inicial, ao Colégio Municipal Darcílio Aires que já se chamou presidente Médici, em uma época sombria. Quem sabe Seu Paulinho será um dia homenageado? Nova Iguaçu aos poucos vive dias mais claros, vive dias de esperança.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O começo da Nova Era
por Moduan Matus

Orestes Barbosa dos Santos saiu de Manhuaçu-MG, com 5 anos de idade, direto para o município do Rio de Janeiro. Um visionário voluntarioso e autoconfiante, ele aprendeu sozinho os segredos dos motores de automóveis que durante anos lhe garantiram a sobrevivência. Ao se casar, sentiu a necessidade de estabelecer-se, em definitivo, em algum lugar. Comprar uma casa em Botafogo, bairro na Zona Sul do Rio de Janeiro onde tinha sua oficina, pareceu-lhe uma idéia delirante.

Orestes ficou sabendo que os laranjais de Nova Iguaçu estavam dando lugar a loteamentos bem próximos da estrada principal, vendidos a preços compatíveis com o seu orçamento. Ele foi um dos primeiros a adquirir um lote e veio. "Agora, sim!", disse para si mesmo. "Posso constituir família."

Um mar de gente seguiu seguiu seu exemplo, comprando lotes de terra em pequenas prestações com o sonho de construírem suas casas aos poucos. Quando chegou em Jardim Nova Era, havia apenas mato. Na paisagem, confundiam-se as laranjeiras, os bambuzais e mangueiras. "Do outro lado da estrada vinha a água da cachoeira", lembra Orestes. "Era pouca. Fui o primeiro a cavar poço. O pessoal que ia chegando pedia água, principalmente o Ataulfo."

Brincamos com o Orestes, perguntando se, além dele e de Ataulfo, havia outros homônimos da Música Popular Brasileira das décadas de 30, 40 e 50. Rindo, ele disse que não.

Primeira televisão
Orestes se estabeleceu na rua Sebastião de Mello. Além de consertar carros, abriu uma barraca. Instalou em seu pátio uma mesa de sinuca, dominó, dama e baralho. "A gente fez também um campinho de futebol, mas faltou plano, diálogo. A gente tinha que ser mais caprichoso."

O bairro foi crescendo de modo desordenado. Orestes abriu uma oficina de bicicleta. Consertava. Alugava. Antes chegou a ter cavalos, carroças e até mesmo a criar bois. Como sempre pioneiro, ele foi o primeiro morador de Jardim Nova Era a instalar eletricidade em sua casa e a colocar televisão: "As pessoas vinham assistir tevê. Tinha uma novela... acho que era o Direito de nascer."

Incansável, Orestes ia fazendo uma coisa aqui, outra coisa ali. Fazia esgoto. Comprava aquelas manilhas de barro queimado, tirando dinheiro do próprio bolso. Os filhos foram crescendo (são oito ao todo) e Orestes comprou outro terreno na rua Alice de Oliveira. Colocou caldo-de-cana com salgadinhos na beira da estrada. Abriu o bricabraque que hoje lhe garante a sobrevivência. "Na base do escambo", frisa.

Ferro a carvão
Além dos filhos, hoje já são onze netos. Todos os filhos moram no bairro e são independentes. Ele continua ajudando todas as pessoas: "O bairro cresceu muito. Ainda faltam algumas coisas, mas tá bonito! O asfalto deu dignidade. Tem muita gente que ainda precisa de ajuda, pois antigamente não havia tantas despesas: luz, taxas, fraldas, cartão, telefones, água, condução e comia-se muita coisa do quintal."

Em meio a tantos objetos expostos em seu bricabraque, identificamos um ferro de passar roupas, a carvão, vindo, provavelmente, do início da formação do bairro. Onde Orestes começou a sua nova era e onde passa a sua quimera, tranqüilo, recepcionando muito bem. Comprando. Ajudando e, também, vendendo. Como esse ferro de passar a carvão, que adquirimos para a simples decoração de um passado, antes, engomado, agora, em roupa nova e atual.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A volta a Nova Iguaçu em 10 dias

Dupla Salgado e Leandro mostra esquete ambiental que percorrerá escolas de Nova Iguaçu em dez dias
por Alcyr Cavalcanti

Enfrentando chuva, frio, dificuldade de acesso, transporte deficiente, transito caótico um pequeno público chegou à Escola Herbert Moses, homenagem a um dos patriarcas do jornalismo. A escola fica na Cobrex, na imensa Nova Iguaçu.

Sempre “a mil por hora”, Barnabé faz as vezes de mestre de cerimônias, entretendo o público enquanto a função vai sendo preparada. Também como sempre, o número de mulheres na platéia ultrapassa o público masculino. “As mulheres ainda vão dominar o mundo, enquanto os homens ainda preferem a conversa em um barzinho ou reduto similar, regado a um líquido para molhar a garganta e deixar a palavra fluir naturalmente, soltando a língua”, disse Barnabé. Na maioria das localidades, o bar ou tendinha ainda é um ponto de encontro, uma área de lazer, seja para confidências, seja para elaborar projetos que talvez nunca sejam realizados, seja para concretizar tarefas futuras.

A dupla “Salgado e Leandro”, que hoje vão se chamar “Josicleide e Natalino”, interpretam um casal iguaçuano típico. Francisco José Salgado tem 44 anos, nasceu em Nova Iguaçu, mais precisamente no K11, uma das várias microáreas da cidade. “Estou feliz e realizado por voltar à minha cidade. Tenho raízes profundas com minha terra. Vejo grandes transformações, algumas para melhor. Sei que algumas deficiências aos poucos serão resolvidas. Acredito no futuro, por isso estou aqui, aliás, estamos aqui.” A juventude agora é mais receptiva e procura mais informação”, diz Salgado, começando a transformação para o happening que vai iniciar a programação, “esquentando” a turma para o curta-metragem sobre Nova Iguaçu e suas situações sociais que será apresentado.

Leandro Muniz tem 30 anos, mas parece bem menos. É seu parceiro e amigo, nos palcos e na vida. Na apresentação se transformarão em Josicleide, uma mulher “pau pra toda obra”, e Natalino, um “pé de cana” contumaz.

Começa a função.

A saga da Josicleide

Vem ver, Vem ver
Essa história
Eu vou contar

Salgado, ou melhor, Josicleide é agora uma mulher negra, batalhadora e “multifuncional, é um paradigma da mulher não só iguaçuana, mas também de milhões de mulheres nesse imenso Brasil. Acorda, e se prepara para a batalha do dia-a-dia.

“Eu sou Leandro e vou contar a história da Josicleide, que nasceu aqui, e mora há mais de trinta anos. Todo o dia ela acorda às 6h13 em ponto, religiosamente, se espreguiça e faz um pouco de Tai-chi-chuan, milenar arte chinesa. Até que um dia...”

Leandro ao toque da viola, continua a narrativa em forma de cordel. “Chegou o dia em que o cansaço prevaleceu e o sono pregou uma peça. Ela acordou 6h23, com seu filhinho aos berros, um atraso quase fatal. Ela corre, escova os dentes deixando a torneira aberta. Liga o rádio, para ficar em dia com o noticiário. Prepara a mamadeira e deixa a torneira da cozinha aberta, e passa a correr de um lado para o outro, feito “barata tonta”, seu neném chora aos berros.” Leandro faz um lembrete em meio à narrativa: “Vocês sabem que só 2% de nosso planeta é de água doce? A água do nosso planeta pode acabar, se continuar o desperdício.” E continua lembrando: “ A sujeira acumulada pode entupir os canos da rede de esgotos.”

Mas Josicleide não está nem aí para a ecologia, tem muita coisa para fazer. E começa a varrer a casa. Vai varrendo, vai varrendo e corre pra deixar seu filho na creche, mas antes lava os pratos, ainda com a bica aberta e o neném cobrando, querendo mais. A sua cabeça “fica a mil por hora”.

No caminho, pega o lixo acumulado e joga de qualquer jeito no lixão. Os garis estão em greve, reivindicam melhores salários e condições de trabalho. Seu trajeto é interrompido por um telefonema urgente. Sua melhor amiga está com leptospirose, ela fica desequilibrada em definitivo. É muita coisa junta. O pequeno público aplaude com entusiasmo.

A Saga do Natalino

Vem ver, Vem ver
Essa terra é boa
E pode melhorar

Agora é Salgado quem apresenta outro personagem: Leandro se transforma em Natalino, marido de Josicleide, “um pé de cana” contumaz, que vive pelas biroscas, abraçado a um litro de cachaça, um paradigma de milhões de brasileiros.“Tô triste, minha mulher só quer dar.... (pausa na platéia) palestras sobre urubunização,” diz Leandro quase em lágrimas, enquanto a platéia explode em gargalhadas.

Salgado responde: “Natalino não é assim que se diz, é urbanização. E você, sabe o que é isso?”

A resposta do Natalino é pedir mais um gole de cachaça, e diz choramingando: “Minha mulher quer ir embora e levar meu filho. Ela é a mulher mais bela de Nova Iguaçu, e agora o que vou fazer? Quero pedir perdão a ela , minha mulher é movida a música e faz um verso em forma de canção: Não vou negar que sou louco por você.”

A platéia delira e aplaude a apresentação, e suas mensagens em forma de cordel. E termina
ao som da viola

Vem ver, Vem ver
Essa terra é boa
E pode melhorar

A dupla diz que a intervenção, ou happening, é inspirada na literatura de cordel, em particular no poeta Patativa do Assaré, o maior violeiro repentista de todos os tempos, e também em Jackson do Pandeiro, que popularizou a arte.

Francisco José Salgado tem uma sólida formação teatral na Escola de Teatro Martins Pena, no Centro do Rio. Foi aluno de Sergio Sanz, também cineasta, e admira o grupo Tá na Rua, de Amir Haddad, e sua apresentação sempre voltada para o povo das ruas.

Para Salgado “O cordel, genuína arte popular, traz uma linguagem acessível e mais direta, sempre entremeada de conteúdo para esclarecer o povo”. Assim têm sido as performances da dupla em Nova Iguaçu, lutando contra a massificação de uma perversa indústria cultural, procurando preservar a tradição popular que no Brasil vem desde os tempos dos jesuítas. “Assim transmitimos a verdadeira cultura”, finaliza.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Minha rua tem reflexão

A memória de Nova Iguaçu através da narrativa
dos excluídos

Por Alcyr Cavalcanti

"Se todas as pessoas abandonassem o lugar onde vivem em busca de outros melhores, nenhum bairro iria pra frente."
Wilson Antunes Pereira, morador de Nova Iguaçu.
Histórias singelas, na tradição oral, a verdadeira história a partir do ponto de vista de seus atores, aqueles que não tiveram vez, aqueles que não tiveram voz. A subjetividade é que vai fazer a diferença, pois as fontes orais contam não apenas o que a sociedade ou apenas um indivíduo fez, mas seus anseios, sonhos, esperanças.

As ruas também contam uma história através de mitos, lembranças, narrativas passadas de pai para filho, destes para seus filhos, para os filhos de seus filhos, e assim indefinidamente. A memória fica preservada, nunca se apaga, fazendo lembrar velhas histórias contadas à luz de uma fogueira, pelos nossos ancestrais.

A história oficial sempre tem sido um registro a partir do ponto de vista e dos interesses das classes dominantes, nem sempre corresponde aos acontecimentos que de fato ocorreram. Visões distorcidas ficam como verdades absolutas. Heróis permanecem ocultados, vilões e traidores ficam como heróis. Poucas vezes as idéias correspondem aos fatos.

Nos dias e noites acompanhadas pelos jovens repórteres percorrendo diuturnamente os dezessete bairros da imensa Nova Iguaçu, começou a ser construída a verdadeira história de uma cidade. Nomes de ruas, praças e monumentos públicos, deverão um dia ser modificados, passando a render homenagem a quem de fato lutou para merecê-las.

Narrativas insólitas, próximas a um realismo fantástico de um Julio Cortázar, ou de um Adolfo Bioy Casares. Para o jornalista e escritor Julio Ludemir, “as árvores de Nova Iguaçu nos permitiram descobrir uma cidade mística”. Narrativas cruas e diretas, parecendo matéria de jornais populares e também contos de terror à maneira de Edgar Alan Poe. As diferentes narrativas, contadas pela memória popular, vão permanecer para sempre entre nós.

Cada fotografia tem e conta uma história. A imagem como preservação da cultura através de seus personagens também foi mostrada em documentos fotográficos, gravados para a posteridade. Objetos, fotografias, quadros, funcionam como “apoios da memória”, ajudando a recordação de um passado distante.

Começar de novo
Os abnegados oficineiros transmitiam, através de uma dinâmica de grupo, vontade e confiança aos jovens, que acompanhavam tudo atentamente, olhos bem abertos, ouvidos bem atentos.

Meninos e meninas do Minha Rua, para servir como apoio em suas narrativas trouxeram pregos, pedaços de fio, cimento, martelos, alicates, fotografias, cartas, objetos preciosos lembrando as construções que marcaram suas memórias. Algumas foram construídas solidamente, outras simplesmente vieram ao chão. A ordem foi reconstruir, começar de novo.

As histórias contadas pelos jovens provocaram sentimentos diversos: desentendimento, ódio, dificuldade, raiva, tristeza, sacrifício, doação, esforço, fé e principalmente coragem e esperança.

Na “nova” Iguaçu de nossos dias, uma cidade determinada e firme em seus propósitos para superar os desafios do dia-a-dia, Minha Rua tem História foi um projeto que deu certo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Esperança vitalícia

Miriam Vieira da Silva deu depoimento para a equipe de filmagem da nossa gincana social

A líder comunitária Miriam Vieira da Silva se sensibilizou com o drama dos pais de família que a procuraram em 1996, propondo a invasão de um terreno pantanoso na Cobrex, de propriedade da Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu. Mas a então secretária da associação de moradores do bairro impôs uma condição para participar da luta daqueles homens que sacrificavam a alimentação dos filhos para manter em dia o pagamento do aluguel. "Nós vamos legalizar", afirmou a recepcionista da maternidade Mariana Bulhões, na Posse.

Começava aí uma batalha com tinturas épicas, que faria dela uma presidente quase vitalícia da associação de moradores e acrescentariam ao bairro sete ruas e duas travessas cujos nomes foram escolhidos pelos cerca de mil moradores em eleição direta. Corria o governo do prefeito Altamir Gomes, e a líder comunitária teve a ilusão de que bastaria capinar aquela área coberta de mata e lixo nas imediações da Estrada Velha de Santa Rita para que a Emlurb acatasse o processo aberto pela comunidade recém-formada. "No dia seguinte, a Defesa Civil estava aqui", lembra a líder comunitária. Mas não para dar suporte ao trabalho de Miriam. "Eles derrubaram todos os barracos vazios e nos deram 24 horas para deixar o loteamento."

Gratidão
O loteamento foi salvo depois de um tour burocrático pela Prefeitura, que culminou com uma visita à Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Nova Iguaçu, que funcionava no prédio em que hoje se encontra a Secretaria de Saúde. "A dra. Sada Baroud trouxe uma equipe de reportagem, mostrando a carência do nosso povo." A estratégia funcionou e no dia seguinte os invasores receberam técnicos da Emlurb, que fizeram a topografia do terreno, demarcaram-no e cadastraram os moradores. Não muito tempo depois, políticos como Maurício Morais, Célio Cordeiro, Rogério Lisboa e Sami ajudaram a aterrar a área, abriram ruas e fizeram todo saneamento. Agradecida, a comunidade reelegeu esses políticos seguidas vezes.

Antes mesmo que o primeiro loteamento fosse completamente urbanizado, a comunidade promoveu uma segunda invasão num terreno contíguo, ocupando dessa vez o igualmente abandonado campo do Ferrugem. A experiência da primeira invasão levou a associação de moradores a procurar um engenheiro, graças ao qual as ruas são certinhas, com 10 metros de largura e 1,5 m destinado às calçadas. "Dividimos os lotes, abrimos as ruas, limpamos o mato, colocamos a posteação de madeira e fizemos os barracos", lembra Miriam, que na época já era presidente da associação de moradores.

Apesar da tarimba com os embates da primeira ocupação, a comunidade de hoje chamada Vila Esperança não imaginou encontrar no então prefeito Nelson Bornier um adversário tão insensível e intransigente. "Quando ele nos descobriu, mandou tratores e caminhões da Defesa Civil", lembra Miriam. "Os homens vieram armados e dispostos a derrubar tudo." Foi só na última hora que Miriam teve a inspiração que garantiu a sobrevivência da comunidade. "Eu disse que eles podiam derrubar, desde que me entregassem a reintegração de posse." Como eles não tinham a documentação necessária, os técnicos da Prefeitura a convidaram para uma rodada de negociações. "Eu fui com o Padre Ruy, que trabalhava com a dra. Sada Baroud na Comissão de Justiça e Paz."

Carnaval
Mas o acordo feito com os técnicos, de acordo com o qual a Prefeitura construiria casas depois de cadastrar os moradores da invasão, só produziu dissabores para Miriam. "Eles só cumpriram a parte que nos prejudicava", lastima. "Eles desmancharam os barracos malfeitos na beira da pista e tiraram os postes." A paciência da comunidade durou de novembro até fevereiro. "Aí, eu falei: ‘temos quatro dias para fazer tudo de novo!’" Enquanto as autoridades se esbaldavam no carnaval, a comunidade da Cobrex construiu nada menos de 90 casas em um multirão espetacular, do qual não ficou de fora a religação das luzes. “Cada um se virou como pôde.”

Ainda hoje Miriam lembra o grito de Nelson Bornier ao ver o resultado do multirão. "Dessa vez não tem perdão", bradou o prefeito. "Vai tudo pra baixo." O prefeito estava tão possesso, que a líder comunitária temeu que enfartasse. Mas se a saúde de Bornier resistiu àquela derrota pública, o mesmo não se pode dizer de sua capacidade de julgamento. "Quer dizer que aquela mansão é de gente pobre?", questionou, apontando para a meia-água construída da noite para o dia por um camelô. Uma das 90 construídas naquele carnaval foi a da própria Miriam, que até o início deste ano tinha apenas uma sala e o banheiro. Além de pequena, a casa de número 110 da Rua União não tinha nem muro, nem laje, nem piso.

O prefeito se acalmou depois que os moradores acionaram Maurício de Morais e Valnei Rocha. Mas se os seus argumentos tiveram o poder de convencer Bornier a desistir de perseguir a comunidade, não foram capazes de sensibilizá-lo a investir em obras de melhoria no bairro. "Cada casa de tijolo, cada relógio e cada poste conseguido na Light, tudo isso foi uma conquista da associação." As obras de urbanização tiveram que aguardar a eleição do prefeito Lindberg Farias. "Ele mudou o saneamento e nivelou as ruas", contabiliza. "Agora só falta pavimentar."

A urbanização das duas invasões rendeu muitos votos ao prefeito em sua campanha para se reeleger, mas essa gratidão não diminuiu nem o espírito crítico nem a capacidade de mobilização da comunidade. "Falta construir a praça e a creche." A praça, que já tem uma área reservada por trás do campo de futebol da comunidade, depende do poder público. "Mas o material da creche já está aí." Qualquer dia começa um novo mutirão.

sábado, 8 de novembro de 2008

Os herdeiros de seu Betinho


















Documentário emociona família de um dos fundadores
da Prata

"Uh, uh, Nova Iguaçu! Uh, uh, Nova Iguaçu", gritavam as cerca de 100 pessoas espalhadas pelo pátio da Escola Municipal Menino de Deus, na Prata. A ovação era o final feliz da gincana social "Minha rua tem história" no bairro, com a exibição de um documentário com um aluno do Pro Jovem, a técnica social do PAC e principalmente os herdeiros de seu Betinho, o investigador policial que praticamente fundou a Prata.

No meio daquela platéia entusiasmada, estavam dona Miúda e três de seus cinco filhos, que acompanharam emocionados o documentário dirigido por Carlos Gregório. Dona Miúda, cujo nome verdadeiro é Adassilva França dos Reis Gonçalves e está com 83 anos, começou a chorar desde que a câmera mostrou o retrato em tons sépia do seu marido.
Embora seja tida como uma mulher de coração duro, que ainda hoje é quem dá a palavra final nos muitos negócios deixados pelo marido, ela não se conteve quando se viu dizendo que tinha que conservar a memória de seu Betinho.

Dentes de ouro
A produção da gincana social chegou à família de seu Betinho por intermédio dos cineclubistas Luana Pinheiro, que passaram o mês de setembro caçando os fundadores dos 17 bairros mobilizados pelo "Minha rua tem história". Parte dessa escolha se deveu a aspectos folclóricos dessa família, como o fato de todas as suas propriedades serem pintadas de verde. "É o verde da esperança", explicou dona Miúda, que não sabe quantos imóveis a família possui. "Só tem uma casa na Rua Boa Vista que não está pintada de verde." Outra fixação da família de seu Betinho são os dentes de ouro.

O patrimônio físico e moral da família de seu Betinho teve como ponto de partida o bar que hoje, depois de uma grande reforma, é administrado pelo filho homônimo. Vieram em seguida uma padaria, um açougue, uma farmácia, um restaurante e muitas outras obras, sempre construídas com base na necessidade do bairro. "Ele construía a casa e só alugava se o inquilino assumisse o compromisso de que iria abrir o comércio que ele acreditava importante para a comunidade naquele momento", contou dona Miúda.

Feliz com o PAC
A filha Nadir, que acompanhou a mãe durante as filmagens, também enxerga o vínculo do pai com a comunidade na construção da primeira praça do Manhoso, no primeiro posteamento das ruas, no primeiro orelhão e no primeiro bicão, entre outras benfeitorias. "Ele hoje estaria muito feliz com todas essas obras do PAC", afirmou a filha.

Todas essas benfeitorias eram conseguidas com articulações com os políticos tradicionais de Nova Iguaçu, que sempre procuravam seu Betinho atrás dos votos que ele arranjava na Prata. "Apesar de participar ativamente da vida política da cidade, meu pai jamais se candidatou a nada", frisou Betinho filho. A primeira pessoa da família a tentar um mandato popular foi Valter Gonçalves., que obteve 1266 votos nas últimas eleições. "Foi a primeira e última vez", afirmou o candidato, que nas próximas eleições tentará transferir o espólio político para o filho, Valter como ele.

Seu Betinho muito mal sabia ler as escrituras dos diversos imóveis que construiu ao longo dos seus 74 anos, mas tinha uma inabalável crença na educação. "Acho que o dia mais emocionante na vida de meu pai foi quando minha irmã caçula se formou em medicina", disse Valter Gonçalves. A irmã caçula, cujo nome também é Adassilva, foi a primeira filha de seu Betilho a se formar. Seguiram o seu exemplo a irmã Nadir, que fez pedagogia, e os irmãos Valter e Betinho, que se formaram em educação física quando abandonaram o futebol profissional. Valter, que tentou uma carreira de treinador quando pendurou as chuteiras, estudou direito depois da morte do pai. "Para ajudar a administrar o patrimônio da família", explicou.

Para dona Miúda, a capacidade de realização de seu finado marido pode ser medida pelo modo como morreu, em 1991. "Ele foi consertar a caixa dágua e caiu da escada", lembrou ela, emocionada.

O grafite não tem preconceito


















Oficina de grafite leva beleza e polêmica para as ruas
da Cobrex

Eram 10h30 quando a estudante Kelly Cristina Ferreira Sarmento chegou esbaforida à Rua União. Vinha de uma caminha de quase uma hora da Cerâmica, pois já havia gastado a bolsa de R$ 100 do Pro Jovem e os motoristas de ônibus não aceitam o passe escolar de evangélicos com as vestes roxas do Ministério Vida Nova, da Assembléia de Deus. Apesar do cansaço e das claras diferenças religiosas em relação as cerca de 30 jovens que participaram da oficina de grafitagem da Cobrex, ela participou com entusiasmo do desenho dos oito muros do bairro. "Dá vida ao lugar onde as pessoas moram", explicou ela.

Kelly Cristina, que está cursando o terceiro ano do ensino médio, estava vestida daquela forma porque acredita que dessa forma se cumprirão "as promessas de Deus" para sua vida. "Uma dessas promessas é a de fazê-la missionária de sua igreja, mas a própria entrada no Pro Jovem revela que Kelly Cristina tem ambições mundanas. "Quero fazer o curso de beleza e estética", afirma ela, que se enxerga trabalhando no futuro em salões de beleza e casas de estética. "Minha igreja não tem preconceito."


















Cíntia Freitas Moreira, uma moradora de 20 anos da Rua Comendador Francisco Rodrigues de Oliveira, demonstrou a mesma empolgação na oficina de grafite. Mas são gritantes as diferenças entre ela e sua companheira de projeto. "Sou vaidosa", assumiu ela, dentro de uma camiseta regata branca e um jeans de cós baixo, valorizando todas as formas do seu corpo negro. Para sair de casa naquela manhã nublada e quente, ela não passou menos de meia hora diante do espelho. "Odeio sair de casa de chinelinho e shortinho", afirmou ela.

Outra diferença entre Kelly Cristina e Cíntia Moreira está no modo como as duas estão usando a bolsa do Pro Jovem. Enquanto Kelly Cristina deu metade para a mãe e tirou o dízimo da igreja antes de gastar os primeiros centavos consigo mesma, Cíntia foi ao shopping comprar a roupa inaugurada na mesma noite no Via Show. Mas, como Kelly Cristina, Cíntia Moreira oscilou do estranhamento à empolgação durante a oficina de grafite, que, como a amiga, ela chama de pichação. "No começo, achei que era só rabisco. Mas depois a cor deu vida ao desenho."

Outra aparência
O esforço de Kelly Cristina e Cíntia Moreira foi reconhecido pela estudante Andressa Falcão Batista, há cinco anos moradora da Rua União. Aluna do sexto ano do ensino fundamental da Escola Municipal Herbet Moses, palco das oficinas da gincana social "Minha rua tem história", Andressa se expôs a uma bronca da mãe quando parou para ver o grafite no qual o menino desenhado pela BXD Crew afirmava que em sua casa se brincava de se manter a torneira fechada. "Gostei", disse ela, que gostaria que a turma do Dante tivesse pedido o muro da casa na qual mora com a mãe, o padrasto e o irmão Andrei, de cinco anos. "Pena que o nosso muro não está emboçado", lamentou Andressa, antes de entrar em casa, onde uma série de atividades domésticas a aguardavam.


















O também estudante Luís Guimarães Santos também lamentou que o muro de sua casa não estivesse emboçado, para receber as borrifadas de spray que no seu entender deixaram a Rua União mais bonita. "Deviam fazer em todas as casas", sugeriu este adolescente de 15 anos, que está fazendo o sétimo ano do ensino fundamental no CIEP de Botafogo. O estudante sabe o que está falando. Suas preocupações estéticas não o deixam ficar à vontade nem mesmo quando está olhando a vida da porta de casa. Com o seu inseparável boné Adidas, ele estava com uma camisa de malha com um verde mais escuro que o de sua bermuda enquanto observava encantado o muro recém-pintado do vizinho. "Dá uma outra aparência para a rua."

Meio de acordar
Além de dar um novo colorido à esquina da João Carvalho com a União, a mensagem deixada pelo spray da BXD Crew provocou acirradas discussões no bar de Michele Marques. "O conselho para limpar a caixa a cada seis meses vai chamar a atenção do povo", disse a proprietária do bar, disputando com o tonitruante pagode executado pela FM O Dia. Segundo a dona do bar cuja parede foi grafitada, a mensagem vai mexer com a comunidade da Cobrex principalmente agora, em que as oscilações de chuva e sol facilitam a vida do mosquito transmissor da dengue. "As pessoas continuam cometendo os mesmos erros das outras epidemias", alertou a comerciante.
















O aviso de Michele fez eco na dona de casa Alba Valéria, para quem o grafite na parede do bar "é um meio de acordar as pessoas que estão dormingo". Moradora da Rua União há dez anos, dona Alba é uma atenta observadora da Cobrex desde que participou das invasões que deram origem ao bairro, há cerca de dez anos. "Basta você subir numa laje e olhar para as outras casa, que vai ver as caixas abertas", disse ela, revoltada com o descaso da vizinhança. Dona Alba, cujo marido lava obsessivamente a caixa dágua a cada quatro meses, não entende como a população é indiferente aos alertas da saúde pública. "Até parece que as pessoas nunca tiveram dengue".

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A alvorada de um bairro

















"Minha rua" filma velho líder comunitário
Por Jéssica de Oliveira

Quem vê Jardim Alvorada hoje, não imagina que ele já foi um bairro com tantos problemas, que iam da falta de infra-estrutura à segurança, passando pela saúde, educação e transporte. Por causa desses problemas, muitos moradores pensarem em se mudar. "Mas se todas as pessoas abandonassem o lugar onde vivem em busca de outros melhores, nenhum bairro iria pra frente", diz Wilson Antunes Pereira, de 73 anos. Na condição de presidente da associação de moradores de seu bairro, ele lutou bravamente pelas melhorias que deram uma nova cara ao Jardim Alvorada.

A militância de Seu Wilson começou em 1979, quando fundou a associação de moradores de Rocha Sobrinho. Em 1984, tão logo se mudou para o Jardim Alvorada, procurou a associação e pouco tempo depois acabou assumindo-a. Na época, o bairro estava em péssimo estado. "Havia valões a céu aberto que transbordavam com a chuva, buracos que dificultavam a passagem de carros, mato que atraía bichos e muitos outros problemas que só os moradores podiam perceber", enumera ele.












46 ruas

Mas seu Wilson não cruzou os braços, nem ficou esperando sentado. Inúmeras cartas foram enviadas para a prefeitura, para o governador e até para o ministro do Interior, reivindicando melhorias. Mas nada foi feito. "Eu enviei a carta para o ministro e ele me retornou dizendo que não poderia nos ajudar porque o prefeito de Nova Iguaçu, na época, estava devendo FGTS." Vários prefeitos se sucederam até que sua rua (Selma) fosse asfaltada, há 7 anos. Mas não foi por ter os seus interesses pessoais atendidos que ele parou de lutar pelo bairro, a apenas três quilômetros do Centro. "Hoje é uma imensa alegria saber que 46 ruas estão recebendo saneamento e asfalto."

Basta uma caminhada pelas ruas do Jardim Alvorada para se perceber a popularidade de seu Wilson, que aumentou de modo expressivo com o fim das enchentes, da lama e do lixo nas ruas. Mas nem foram flores na vida desse velho líder comunitário. "Há pessoas que não entendem a minha boa-vontade e só fazem me criticar", lamenta. "Já quiseram até me linchar porque apoiei a derrubada de algumas árvores para a construção de 30 casas populares. Mas eu não me deixo intimidar. Peço sempre a proteção das autoridades e continuo com os meus trabalhos."

Seu Wilson também teve dificuldades de conter a revolta dos vizinhos, que chegaram a bloquear a Estrada de Madureira para chamar a atenção das autoridades. "Mas eu pedi paciência e, juntos, lutamos de forma civilizada pelo o que é nosso por direito." O presidente da associação de moradores vai recorrer à mesma paciência na luta pela nova pauta de reivindicações do bairro. "Agora queremos agências de Correios e de bancos, além de mais postos de saúde, escolas e áreas de lazer", enumera. "Com certeza, vamos conseguir!"

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Grafite em família

Zaira está rompendo a barreira do machismo
no hip hop carioca
Por Luiz Felipe Garcez

A cada oficina de grafitagem da gincana social "Minha rua tem história", acontece uma coisa diferente. E dessa vez, em Jardim Pernambuco, a novidade foi o toque feminino de Zaira. Filha e irmã de grafiteiros, ela é a responsável por Duda, uma boneca gordinha e baixinha inspirada em uma prima sua.

Numa rápida conversa, Zaira deixa claro que mulheres não são muito comuns, mas que a galera gosta porque é diferente. "Não necessariamente porque o grafite que faço é feminino", explicou. "Mas porque sou uma mulher grafitando."

Antes de ser grafiteira, Zaira é artista plástica. "Já trabalhei em galpões de escola de samba", explicou. "O grafite é um hobbie."

Uma pessoa não pode viver só de arte, e Zaira não foge à regra. "Sou recepcionista em uma clínica", lembrou ela. Preocupada com o futuro, ela estuda publicidade na UNIGRANRIO de Caxias. "Faço publicidade porque quero criar arte na publicidade."

Zaira explica que os grafiteiros normalmente têm o seu personagem e o dela é uma boneca gordinha, que ela batizou de Duda em homenagem a uma prima. "Duda pode ser encontrada em vários muros de Nova Iguaçu e da Baixada", explicou.

Zaira dava um toque a mais nas oficinas e as jovens que acompanhavam a oficina se encantavam com ela. Pacientemente, ela ia fazendo as meninas perderem a timidez e pegarem num jet.

Zaira quebra preconceitos, mostra que no grafite a mulher tambem tem espaço. Diferente, ousada, Zaira é o retrato do Minha Tem História.

Minha rua é global

Jornal O Globo manda repórter cobrir grafitagem em Jardim Pernambuco
Por Luiz Felipe Garcez
O “Minha rua tem história” já havia caído na boca do povo, mas ainda não tinha conseguido furar o cerco da mídia. Ainda. Porque no dia da grafitagem em Jardim Pernambuco, a jornalista Aline Costa, 29 anos e um mês de jornal O Globo, foi conhecer o projeto.

Aline, que já entrevistara o cineasta Marcus Vinicius Faustini, o secretário municipal de Cultura e Turismo e mentor da gincana social, foi recebida pelo escritor Julio Ludemir. O escritor explicou os pormenores do “Minha rua tem história”, como as histórias sobre as árvores e as obras. “As árvores nos permitiram descobrir uma Nova Iguaçu mística e as obras nos colocaram em contato com uma cidade determinada, capaz de superar qualquer desafio para construir e reformar suas casas”, explicou ele para a repórter.

Julio Ludemir também falou sobre o aspecto midiático da gincana social, que, mal comparando, é acompanhada pelos nossos blogs da mesma forma como os reality show Big Brother e Ídolos. O conhecimento de um projeto de comunicação envolvendo jovens levou Aline Costa a me fazer diversas perguntas. Gostei de falar para ela sobre a minha participação no grupo de Prados Verdes.

Aline também entrevistou os jovens que participaram da gincana social, que estavam nas imediações da Escola Municipal José Ribeiro Guimarães para participar da oficina de grafite comanda por Dante. Como não poderia deixar de ser, a repórter entrevistou a trupe do BXD Crew.

Aline é moradora de Nova Iguaçu, fez faculdade na Gama Filha e trabalhou em vários jornais da cidade antes de entrar para O Globo, como o Correio da Lavoura e o Hoje. Se ela estava gostando das informações obtidas durante a apuração daquela matéria, ficou ainda mais satisfeita ao saber que este era o projeto no qual trabalhava o seu amigo Anderson Chagas, o Fat, que conheceu na faculdade. Para quem não sabe, Fat foi um dos criadores da Escola Agência de Comunicação.

Aline estava morrendo de pressa, mas, simpática toda vida, não deixou de responder minhas perguntas. Uma das minhas perguntas foi sobre a obrigatoriedade de jornalistas formados em projetos de comunicação, como o nosso. “A mídia tem espaço pra todo mundo e na verdade, precisa disso. A mídia é cada vez mais jovem. É isso que a internet propõe.”

Ela deixou claro que nunca tinha visto nada parecido com o “Minha rua tem história”. Contou também que adorou o projeto e a forma como ele vinha sendo executada.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A pedagogia do grafite

BXD Crew faz moradores da Rodilândia rever seus conceitos sobre o grafite
Por Jéssica
de Oliveira

Em Rodilândia, os moradores estão abrindo caminho para uma galera invadir os muros e deixar uma marca que é novidade no bairro: o grafite.

Lá, o conceito dessa arte está mudando graças às mensagens deixadas pela B.X.D Crew, que usa o grafite como meio de educar. Antes de conhecerem o trabalho dos artistas que têm o meio urbano com cenário, os moradores do bairro
viam o grafite como vandalismo de jovens desocupados.

Um dos muros grafitados foi o da Dona Gilmara Oliveira, 26 anos, que mora na rua Araribá. Ela, que adorou o novo visual, ficou contente por ter sido escolhida. "Aqui no Rodilândia não temos muitas coisas como essa, o que é uma pena. Eu nem pensei duas vezes quando me pediram pra ceder o muro pra B.X.D, porque era isso que falatava aqui na rua: cor, energia, mensagens educativas. Penso até em fazer dentro da minha casa."


Free-style
Cerca de 20 jovens do Pro Jovem participaram de uma oficina de grafite e puderam conhecer um pouco mais sobre essa arte. Juan da Conceição, de 18 anos, mora na rua Dilma Pinheiro, que também teve um muro graffitado. Ele se amarrou tanto no visual quanto nas letras simples do "free-style", que ele ensaiou. "Se fosse no meu muro, seria demais! Eu sempre gostei do grafite porque é diferente da pichação, que suja os muros com coisas que desrespeitam os moradores."


Os grafiteiros de Nova Iguaçu são liderados pelo David Nogueira da Rocha, de 28 anos, mais conhecido como Dante. Hoje, eles vêem sua arte como um meio de mudança pessoal e profissional. Muitos jovens abandonaram as madrugadas e o perigo de serem pegos pichando fachadas de casas e prédios, e receberam espaços onde seus desenhos e mensagens são vistos e aplaudidos por muita gente. "Muita coisa ruim já me aconteceu. Hoje o grafite me dá a oportunidade de ensinar e aprender. Além de ser um grande hobby, é também o meu meio de sustento", conta Dante, satisfeito com os resultados e a repercussão.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O salvador da Nova Era















Um dos primeiros moradores de Jardim Nova Era, o pastor Orestes Barbosa deu depoimento para o documentário sobre o seu bairro

Por Anderson Fat

Uma pessoa tranqüila e trabalhadora. Essa é a imagem que a vizinhança tem de Seu Orestes, pastor evangélico, 64 anos, que vende salgadinhos e caldo de cana no portão de sua casa, no bairro Jardim Nova Era. Nascido na Zona da Mata, Orestes Barbosa dos Santos aprendeu logo cedo que o trabalho seria a mola mestra para superar a pobreza em que vivia no interior de Minas Gerais. Com apenas sete anos de idade, percebeu a chance de pregar uma peça no destino e mudar o rumo que a sua vida tenderia a tomar. Para ele, nada mudaria em sua história caso não estudasse em uma boa escola da cidade grande. E foi atrás desse sonho que Orestes veio para o Rio de Janeiro morar de favor na casa de uma tia, na Tijuca.

O namoro com a escola durou pouco tempo. Depois de concluir o ensino primário, o pequeno Orestes caiu firme no batente e começou a aprender mecânica automotiva trabalhando em uma oficina, em Botafogo. Alguns meses depois, tornou-se morador do bairro e passou a dividir um imóvel com um conhecido. "A gente se mudava sempre que o aluguel aumentava. Já morei nas ruas Real Grandeza, 19 de Fevereiro e Dona Mariana", diz, mostrando ter conhecido muito bem o bairro da Zona Sul do Rio.

Casa no morro
Conforme foi ganhando experiência, o jovem Orestes começou a ser convidado para trabalhar em oficinas maiores, prestando serviço de lanternagem. "Cheguei a trabalhar numas sete oficinas de grande porte", orgulha-se, lembrando dos tempos de 'vaca gorda'. "Mas de uns tempos pra cá esse negócio começou a cair. Hoje, quem quer consertar um carro, leva numa autorizada. Desse jeito, fica ruim para as pequenas oficinas. Quando percebi isso, pulei fora", explica, mostrando a visão que tem para negócios.

Durante o tempo que trabalhou consertando carros, Seu Orestes, que não era bobo, conseguiu juntar uma graninha para fazer o seu pé de meia. Com essa grana, passou a procurar uma casa para comprar. Num primeiro momento, queria continuar morando na Zona Sul. "Pensei em comprar uma casa no morro Dona Marta, em Botafogo. A Ladeira dos Tabajaras, que fica Copacabana, também estava apenas começando", revela, ilustrando um cenário bem diferente do atual.

Amor à primeira vista
Até que um dia, passeando na praia de Botafogo, Orestes leu o anúncio de um terreno para vender a cinco minutos da estação de Nova Iguaçu. "Na hora pensei: ‘Nem pensar. Não vou morar na roça’", lembra. Mas aos poucos, o jovem Orestes foi se acostumando com a idéia e resolveu conhecer o tal terreno de perto. Pegou um carro emprestado com um amigo e veio ‘a mil’ para Nova Iguaçu. Quando chegou, soube que não era o terreno que ficava a 5 minutos da estação ferroviária, mas a imobiliária. Lá, foi informado que teria que seguir viagem por mais uns 10 minutos até chegar ao terreno anunciado. "Já estava aqui mesmo, né? Resolvi prosseguir viagem", decidiu.

Dez minutos mais tarde, lá estava seu Orestes frente a frente com o que mais tarde viria a ser seu lar. Na época, um grande descampado com uma fundação para levantar 40 casas. "Foi amor à primeira vista", relembra. "Quando voltei para fechar o negócio, já havia outra fundação para mais 40 casas. Aí, pensei: ‘esse lugar vai crescer’", disse. Foi assim que o jovem Orestes, com 21 anos de idade, adquiriu seu primeiro bem.

Em dois anos de muito trabalho, Orestes construiu sua casinha. Estava pronto para casar. Foi quando decidiu pedir a mão de Josete dos Santos em casamento. Com o álbum do matrimônio em mão, seu Orestes mostra, cheio de orgulho, a elegância dos noivos e dos convidados presentes na cerimônia. Quando perguntado sobre sua vaidade, o velho Orestes se esquiva. “Não, não. Não sou vaidoso, não. Gosto de ser amigo. Amigo das pessoas”, afirma, sem querer admitir as horas de produção para chegar àquele penteado da foto.

Salvando almas
Sem perder o faro para negócios, resolveu diversificar seus investimentos. No portão da casa nova, ele passou a vender salgado e caldo de cana. Já na garagem, montou uma oficina mecânica com tudo o que tinha direito. “Eu tinha muita coisa de oficina guardada. Trouxe tudo para cá. Minha mulher que não gostava muito, sempre dizia para eu jogar aquilo fora. Mas, viu? Se eu tivesse ido na idéia dela, nada disso aqui existira”, conclui, feliz da vida, num cantinho da garagem que ele usa para guardar ferramentas, uma geladeira, uma máquina de caldo de cana, e mais um monte de pneus de carros e de bicicletas. Hoje, as bicicletas são o público alvo do seu Orestes. Não demorou muito até uma mãe bater em seu portão solicitando seus serviços. “Seu Orestes, será que o senhor pode ver a bicicleta do meu filho hoje? Acho que o pneu furou”, deduz a senhora. “Claro que sim, dona. Quando a senhora for deixar seu filho na escola, traga a bicicleta para mim”, agenda.

Com pouco mais de um metro e meio de altura, Seu Orestes se mostra um grande empreendedor. De olho no boom imobiliário que a cidade vive atualmente, ele já prepara o campo do seu novo empreendimento. “Agora pretendo construir dois ou três quartinhos (quitinetes) para alugar. E garanto que até o fim do ano vai estar prontinho para morar”, arrisca. Seu Orestes admite ser um homem realizado na vida por ter dado conta de oito filhos e onze netos. Segundo ele, o seu mais novo desafio é “salvar almas”. Com brilho nos olhos, o também pastor Orestes se despede com uma revelação digna de um homem de bem que só visa o bem. “Depois que conheci a igreja evangélica, me dedico a salvar a vida das pessoas. Isso me faz feliz”.

Quem ama conserva
Por Larissa Leotério

Eles foram chegando aos poucos e de forma bem tímida, mas, assim que a oficina começou, eles ficaram muito mais à vontade. Essa coisa de quebrar a rotina do bairro, colocar os jovens na rua, estampar nos lugares a cara da juventude, realmente mexe com as pessoas, com os moradores. Um deles foi seu Luiz Carlos, que cedeu o seu muro em frente à Praça do Manhoso para a grafitagem. Ele aprovou a idéia logo de cara. “É desse incentivo que os jovens precisam pra transformar o bairro”, explicou

O grafiteiro Josué Gonçalves, para quem é ruim sujar as ruas e os muros com as pichações, explicou a importância da conscientização. “Onde há grafite, dificilmente há pichação”, afirmou ele, que tem 26 anos. Alguns jovens que passavam pela praça ficaram muito interessados e o abordaram, perguntando se a “galera do grafite” dava oficinas. Aquela foi a primeira oficina de que participaram.

O reduzido número de jovens da gincana social “Minha rua tem história” foi compensada pelo entusiasmo dos presentes. Um desses jovens empolgados foi Daiana Cortes, que estava tendo o seu primeiro contato com o grafite. “Quero aprender como se desenha dessa forma”, disse.

Durante a tarde, a grafitagem seguiu pelo bairro. Foi mais descontraída e, apesar de ter ainda menos alunos que na primeira oficina, bastante animada. E o objetivo foi alcançado em sua essência, com mensagens do tipo “A caixa dágua da minha casa é limpa a cada seis meses. E a sua?” e “Na minha casa, brincamos de não deixar a torneira aberta, e na sua”: a conservação do espaço feita por quem vive nele. Por meio da arte.

Grafite muda o mundo

Moradores da Prata vão reformar a casa depois das oficinas de grafitagem
Por Leandro Furtado

O grafite é forma de manifestação artística que utiliza o espaço público para expor suas obras. Popularmente falando, o grafite é um tipo pintura feita basicamente com o uso de sprays. Conscientização é a palavra que define o papel do grafite na sociedade. E é com esse pensamento que uma galera de jovens grafiteiros vem acabando de vez com aquela velha história de que na Baixada não existe cultura. Esse bonde, chamado BXD Crew, é puxado pelo grafiteiro Dante, conhecido por ser o braço colorido das intervenções do programa Bairro-Escola. Sem muito papo, eles colocaram a mão na massa, ou melhor, na lata para praticar aquilo que eles sabem fazer como ninguém: arte.

O comerciante Luiz Carlos do Nascimento, 51 anos, morador do largo do manhoso há mais 35 anos teve o privilégio de ser o primeiro da lista, tendo seu muro grafitado antes de todos ou outros. O dono do muro inicial é um de família com cinco filhos. Para ele aquela intervenção era uma coisa muito boa que estava acontecendo. “O talento do grafiteiro junto com essa coisa da informação, eu acho muito legal. Se compararmos com pichação, que não é legal, vejo uma enorme diferença”, pensa ele.

Quem passa pelo local onde vem acontecendo as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) vai ouvir o barulho das máquinas. Também irá encontrar muitas manilhas, pedras e areia no meio da rua. Mas tudo isso valerá a pena. Pelo menos é o que espera a dona Berenice, 57 anos. Ela também teve seu muro todo grafitado neste dia. “No início fiquei meio receosa”, diz ela, que não imaginava que se pudesse fazer arte com aqueles jatos de spray. Ao ver o resultado estampado em seu muro, Dona Berenice começou a fazer planos para o futuro. Agora ela pretende reformar a casa para acompanhar a evolução pela qual sua rua está passando.
Informação por todos os lados. Quando os alunos do Pro Jovem têm o contato com as latas de spray, os grafiteiros fazem questão de passar as mensagens corretas para eles. Tag, crew e outras palavras novas brotam entre esses amigos que habitualmente pintam juntos.

Delegacia
O grafiteiro Davi Nogueira, o Dante, revela que já foi pichador e que, na época, nunca fora preso, sempre dando um jeito de escapar da polícia. “Desde que me tornei grafiteiro, nunca mais precisei fugir da polícia”, comemora. Hoje, Dante carrega no currículo a façanha de ter grafitado o interior de uma delegacia.

Josué Gonçalves, 22, conhecido com JCS, gosta de usar tintas da marca Montana para fazer seus grafites. “Temos trabalhado muito com isso. Trazemos a beleza da arte para as comunidades. É difícil ver pichações nos lugares onde tem grafite”, completa ele. O grafite é uma arte que traz educação, muda comportamentos, faz pensar e ainda une as pessoas. A conscientização muda o mundo.

Prata de graça

BXD crew é recebida com festa na Prata
Por Luiz Felipe Garcez e Marina Rosa

Alguns podem até considerar grafite coisa de pichador, deliquente ou marginal. Mas não achamos ninguém que chegasse perto desse pensamento no Bairro Prata, onde chegamos às dez horas da manhã dessa última terça-feira. Estava na cara a alegria dos moradores que autorizaram o grafite em seus muros.

Luiz Carlos do Nascimento tem 51 anos e é mais ou menos dono da mercearia ao lado do Largo do Manhoso, como ele mesmo disse e preferiu não explicar, onde aconteceu a oficina de grafite da parte da manhã. Seu Luiz Carlos dividia sua atenção com a mercearia e com o grafite animado. “É legal ver isso acontecendo porque é uma forma de incentivar os jovens a participarem dos projetos, como esse mesmo que tá acontecendo”, disse ele, orgulhoso de seu muro.

Margareth Menezes, uma empresária de 44 anos nascida e criada em Nova Iguaçu, também estava entusiasmada com as oficinas de grafite comandadas por Dante. “Acredito que o trabalho é excelente, pois serve como exemplo pros jovens da cidade”, disse ela, que, para morar perto do trabalho, se mudou há sete anos para a Prata.

Não enche mais
Dona Vanuza, que mora há 40 anos no mesmo bairro, precisou de um pouco de tempo para assimilar a idéia de ter o muro de sua casa grafitado. “Não estamos acostumados com essas coisas, ainda mais por aqui, assim de graça”, disse rindo. Parte do humor de Dona Danuza se devia às obras do PAC na rua em que mora. “Se minha rua tem história, depois da obra vou falar: ‘minha rua enchia, agora não enche mais.’”

A oficina de grafitagem, juntamente com os números auspiciosos da gincana social “Minha rua tem história”, ajudou a mudar a opinião do simpático e extrovertido comerciante Alexandre Almeida, mais conhecido como Batata, sobre a gestão do Prefeito Lindberg Farias. Chegou a propor a adaptação do slogan grafitado no vistoso muro do ferro-velho de sua propriedade, no qual se lia “Lá em casa brincamos de não deixar torneira aberta. E na sua?”. “Por que vocês não colocam: ‘Doe a bateria do seu celular e preserve o meio ambiente’?”, sugeriu a Dante. “É que eu trabalho com isso e me ajudaria a divulgar essa campanha sem prejudicar o trabalho de vocês”, explicou.

Jeito na casa
Dona Berenice, que há 32 anos mora na casa cujo muro foi grafitado, teve medo de assinar a autorização para os funcionários da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo que a procuraram. Mas ela ficou muito satisfeita com o resultado da oficina. “Gostei da idéia de pintar o muro e ainda pedi para que o pintassem inteiro”, disse ela, que não sabia o que era um grafite. “Com a rua bonita e o muro pintado, vou ter que ajeitar mais a casa.”

Muros pintados, moradores satisfeitos, jovens repórteres cansados, grafiteiros bolados com a escassez de tinta e um sentimento comum de mais um trabalho realizado com sucesso: a Prata, que já não era a mesma no campo cultural desde as oficinas do “Minha rua tem história” agora já não é mais a mesma no campo físico com os grafites no muro de vários moradores.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Onde se escondem os melhores perfumes




















Jovem revelada pelas oficinas de Cabuçu participa da grafitagem do seu bairro e ganha o nome artístico de "Pequeno frasco"

Por Fernanda Bastos

A arte tomou conta das ruas de Cabuçu. A gincana social "Minha rua tem história" teve mais uma etapa no bairro: a grafitagem de quatro muros. A oficina de grafitti teve a intenção de fazer os jovens colocarem "a mão na massa", ou melhor, no spray. Sob a coordenação de Dante (David Nogueira da Rocha), Ruffos (Osvaldo) e JCS (Josué Gonçalves), a turma do Pro Jovem de Cabuçu teve a oportunidade de materializar as propostas da gincana social em muros de ruas próximas à Escola Municipal Abílio Ribeiro. A oficina que durou toda a manhã e parte da tarde do último dia 15 de outubro (dia do professor). Eu estava acompanhada por meu noivo, o professor e geógrafo Edson Borges. Como é um apaixonado ativista da causa da Baixada Fluminense, ele fez questão de estar lá para contemplar e colaborar com a atividade, dando os clikes necessários.

Os grafites foram feitos em duas etapas. Na primeira, uma equipe identificou, solicitou a autorização dos moradores e pintou em PVA um quadro bege com moldura preta (uma espécie de quadro-negro). Na segunda etapa, vinha o grafite propriamente dito. No grafite, havia um personagem escrevendo (no quadro-negro) uma frase de conscientização ambiental. Foram escritas duas frases: "Lá em casa brincamos de não deixar a torneira aberta. E na sua?"; "Na minha casa a caixa d'água é limpa a cada seis meses. E na sua?"

O primeiro muro pintado foi o de Genésio Cardoso, morador da rua Juazeiro, bem em frente à Escola Municipal Abílio Ribeiro. Ele mora em Cabuçu desde 1964 e, além de ter cedido parte do seu terreno para que a Prefeitura Municipal de Nova iguaçu construísse escola, trabalhou em sua obra. "Hoje tenho orgulho de ver tantas crianças estudando nesta escola, entre elas os meus netos", disse ele. A velha consciência social só fez aumentar quando viu as obras do PAC asfaltando sua rua. "Foi por isso que cedi meu muro para os jovens trabalharem", acrescentou ele, que teve que interromper a entrevista para socorrer um vizinho que havia desmaiado. Com seu inseparável fusquinha, levou o vizinho para a Unidade Mista de Saúde Patrícia Marinho (Posto 24h do Jd Paraíso), mas não sem antes posar para a foto do blog.

O primeiro muro foi grafitado por profissionais, amadores, leigos e curiosos. Entre os artistas desconhecidos, estava a "pro jovem" Carla Moreira da Silva. Participar de uma grafitagem sempre foi um sonho para ela. "Sempre tive vontade, mas nunca tive oportunidade", disse Carla. "Grafitar é uma arte, um "show" de conscientização." Ela, que sempre procurou um curso ou alguém que lhe ensinasse essa arte, tem consciência de que é uma arte cara, inacessível aos menos favorecidos. O grafiteiro Dante confirma a tese de Carla. "Na Zona Sul, os playboys pagam cursos com facilidade, mas na periferia não é fácil!"

O segundo muro, na rua Sergio Mota, também próximo à escola, novamente teve a participação de outros alunos do Pro Jovem. Neste, o morador não se encontrava e por isso não pudemos entrevistá-lo. Como mostra a foto de crianças admirando os desenhos de Dante e Ruffos e as letras de JCS, a ausência do dono da casa não comprometeu os trabalhos.

O sol escaldante não foi empecilho para que continuássemos a jornada. Desta vez, a parada foi no número 11 da rua Catende, onde tivemos uma surpresa para lá de agradável. Márcia Cristina convidou a mim e ao meu noivo para entrarmos em sua casa e dispensou atenção além do que havia solicitado. "Fiquei entusiasmada ao saber que a arte parecida com a da Via Light estaria estampada em meu muro", disse ela, que no ano passado terminou o ensino médio graças ao Pro Jovem. Não hesitei em convidá-la para fazer parte do mutirão da arte, de firmar história ao colaborar com a grafitagem de seu próprio muro. "Eu achei muito legal", disse ela. "Pra mim foi uma surpresa, pois é um trabalho bonito".

E lá fomos nós pela estrada rumo ao último combate: o quarto muro! Esse não tinha morador, pois é um espaço dedicado a eventos e atividades esportivas na rua Juá, bem próximo ao ponto final de um dos três ônibus que ligam Cabuçu ao Centro da Cidade do Rio de Janeiro, o da empresa Evanil. A esta última obra não resisti, nem meu noivo. Cheguei até a ganhar um nome artístico, um pseudônimo: "pequeno frasco".

Durante a grafitagem, aproveitamos para entrevistar Simone Fonseca, da equipe social do PAC e funcionária da Secretaria Municipal da Cidade. Para ela, é fundamental que haja a integração dos projetos sociais e urbanos do governo federal e a participação da administração municipal. "Nossa parceria com o 'Minha rua tem história' tem como objetivo embelezar, educar, resgatar a identidade da comunidade, buscando a conscientização para a preservação das ruas", disse. E exemplificou: "As árvores serão plantadas nas ruas entre os muros e calçadas", disse ela. "Elas têm que ser adotadas pelos moradores para que as ruas virem alamedas, corredores de vida e de vida saudável".

Ao final, entre elogios de pedestres, brincadeiras e zoações ("parem de pixar o muro!"), convocamos um cidadão a tirar a última foto para registrar o precioso dia em nossas vidas, certos de que todos tiveram uma lição de vida e de cidadania.




















No final destas linhas o que deixo é que é maravilhoso PARTICIPAR! Participar dos processos sócio-culturais, das atividades de aspecto ambiental, profissional, pessoal. A Cidadania é algo palpável, não é uma utopia, como dizem muitos. Uma coisa é certa: quando alguém apostar em suas potencialidades, não tema! Encare de fundo o desafio e mostre pra você mesmo a sua força. Quando recebi o primeiro contato do escritor Julio Ludemir, secretário adjunto de Cultura e Turismo, não sabia qual seria a magnitude de minha colaboração no "Minha rua tem história". Mas uma coisa foi certa: eu acreditei na OPORTUNIDADE! E posso dizer com tranqüilidade que, com minha PARTICIPAÇÂO, eu vivi, fiz parte da história e isso vai ficar eternizado no meu coração.

Beijos em todos!!!