Gincana social encerra atividades com exibição de documentário em Cabuçu
por Alcyr Cavalcanti
Foi uma noite de alegria e muitos encontros. A equipe desde cedo providenciava os detalhes definitivos para uma noite de festa. A festa da cultura.
Rebeca, Verônica, Mazé e os motoristas Lúcia Helena de Sousa, uma moradora de Caxias de 54 anos, e Jomar Ribeiro Cruz, um morador de Santa Cruz de 46 anos, desde cedo rodavam Nova Iguaçu, enfrentando um trânsito caótico para que tudo desse certo. A montagem começou cedo. A tecnologia é a oitava maravilha do século XXI. Mas somente quando funciona. Computadores, datashow, tela, microfone, aparelhagem de som e fios, fios e mais fios. Um trabalho insano, testes e mais testes, mas no final deu tudo certo.
Elisangela Melo, a Fofão, carregava as últimas cadeiras para dar conforto aos espectadores. Com 34 anos e mãe de quatro filhos, essa guerreira deu o sangue para consolidar a gincana social em Cabuçu, o bairro que contou com o maior número de jovens ao longo do projeto. Ela sempre acreditou no projeto e acredita na administração atual, “que tem dado oportunidades a quem nunca teve nada”, como diz num misto de orgulho e admiração.
Ela vai continuar dando seu suor e seu sangue pela causa da juventude iguaçuana, dessa vez em um projeto que remete ao seu apelido da época em que era "inchada de bebida". “Eu bebia tudo que via pela frente, mas vieram os filhos e hoje me dedico a ajudar os jovens, tirando eles do vicio e da malandragem." Depois de construir um muro para impedir que os jovens drogados se escondam da polícia, ela criou o projeto “Cultura Viva na Comunidade”. "Com ele, vou dar aos jovens esperança em um futuro melhor, longe das drogas e do vício."
A equipe se desdobra para dar tudo certo. Nossa produtora Rebeca Ramos, 30 anos, carioca do Humaitá, fez cinema na UFF, a melhor escola de cinema do Rio de Janeiro. Foi aluna de mestres como José Carlos Monteiro, Serra e Sérgio Santeiro, entre outros. Ela procura aprimorar cada detalhe, sempre tendo como parceira Verônica Nascimento, de 34 anos, que só não fala com mais orgulho das transformações em curso na cidade quando se refere ao filho Sérgio. Em um ponto elas concordam plenamente: o projeto permitiu que os jovens conhecessem pessoas da mesma idade que, embora morando em bairros completamente diversos na imensa cidade, têm as mesmas ambições, dificuldades e sonhos.
Às 19 horas, como combinado, a função começou. As pessoas chegaram mais cedo, a maioria de mulheres jovens, algumas crianças e alguns poucos rapazes, mas atentos e interessados. As mais de 60 pessoas do bairro Cabuçu e adjacências lotavam a pequena sala, ansiosos pela exibição de um filme onde os protagonistas eram os moradores do bairro falando sobre eles mesmos, seus problemas, seus sonhos, suas esperanças.
Resgate da memória
Chega Anderson Barnabé de Oliveira, 38 anos, natural de Sete Lagoas em Minas Gerais, mas iguaçuano de coração, desde que passou a trabalhar a todo vapor há três anos. O sempre elétrico Barnabé faz uma breve introdução para explicar a algumas pessoas detalhes do projeto. “Resolvemos fazer um resgate da memória de Nova Iguaçu por meio de uma gincana socioeducativa, onde as histórias foram o tema. Participaram 200 jovens por 17 bairros, num total de 3.400 jovens. O Projeto Minha Rua Tem História foi um êxito total.”
Chega o grande astro da noite, seu Paulinho, logo sucedido por uma equipe da TV Futura, que veio para documentar a sessão. O câmera, sempre atento, não perdia um só lance. Mas o foco era aquele que viu as transformações que se sucederam no bairro, desde a pujança dos milhares de laranjais até sua destruição por pragas sucessivas e governos ineficientes, até os dias de hoje, onde aos poucos as esperanças vão se concretizando. A TV acompanha suas reações e a da platéia, que vibra a cada fotograma do documentário exibido. O ponto culminante foi a entrevista de seu Paulinho, que narra com emoção as transformações do Jardim Laranjeiras e sua luta comunitária.
Mario José Mixo, o Mazé, tem apenas 24 anos, mas já é um mestre na fotografia e também na arte da culinária, quem sabe preparado para as crises cíclicas do capital, no exercício de múltiplos saberes. Ele conhece a fundo sua cidade, desde os tempos em que, pés descalços e calças curtas, correndo pelos imensos campos até os dias de hoje, em que percorre a cidade registrando suas transformações. Na noite da ultima sessão ele sabe que está registrando um momento histórico.
Depois da exibição do documentário, veio a dupla Josicleide e Natalício para encerrar com chave de ouro. A platéia veio abaixo com as tiradas de improviso. Depois de mais de 70 apresentações, com chuva ou com sol, de manhã, à tarde e à noite, para platéias das mais diversas, se acostumaram a improvisar mudando partes de seu repertório e criando “cacos” conforme as reações do público. Esse foi o caso da reação de seu Paulinho, que contestou a dupla dizendo que a mulher mais bonita da cidade era a Chumbrega e não a Josicleide.
Fim de festa, aparelhos de MP4 são sorteados, para delírio dos contemplados. Mas a festa não acabou. Em 2009, novos projetos serão implantados, outros serão continuados. A vida continua em 2009 em Nova Iguaçu, em ritmo de alegria, e muita esperança.
Parabéns povo de Nova Iguaçu, a festa continua. Viva 2009.