quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O começo da Nova Era
por Moduan Matus

Orestes Barbosa dos Santos saiu de Manhuaçu-MG, com 5 anos de idade, direto para o município do Rio de Janeiro. Um visionário voluntarioso e autoconfiante, ele aprendeu sozinho os segredos dos motores de automóveis que durante anos lhe garantiram a sobrevivência. Ao se casar, sentiu a necessidade de estabelecer-se, em definitivo, em algum lugar. Comprar uma casa em Botafogo, bairro na Zona Sul do Rio de Janeiro onde tinha sua oficina, pareceu-lhe uma idéia delirante.

Orestes ficou sabendo que os laranjais de Nova Iguaçu estavam dando lugar a loteamentos bem próximos da estrada principal, vendidos a preços compatíveis com o seu orçamento. Ele foi um dos primeiros a adquirir um lote e veio. "Agora, sim!", disse para si mesmo. "Posso constituir família."

Um mar de gente seguiu seguiu seu exemplo, comprando lotes de terra em pequenas prestações com o sonho de construírem suas casas aos poucos. Quando chegou em Jardim Nova Era, havia apenas mato. Na paisagem, confundiam-se as laranjeiras, os bambuzais e mangueiras. "Do outro lado da estrada vinha a água da cachoeira", lembra Orestes. "Era pouca. Fui o primeiro a cavar poço. O pessoal que ia chegando pedia água, principalmente o Ataulfo."

Brincamos com o Orestes, perguntando se, além dele e de Ataulfo, havia outros homônimos da Música Popular Brasileira das décadas de 30, 40 e 50. Rindo, ele disse que não.

Primeira televisão
Orestes se estabeleceu na rua Sebastião de Mello. Além de consertar carros, abriu uma barraca. Instalou em seu pátio uma mesa de sinuca, dominó, dama e baralho. "A gente fez também um campinho de futebol, mas faltou plano, diálogo. A gente tinha que ser mais caprichoso."

O bairro foi crescendo de modo desordenado. Orestes abriu uma oficina de bicicleta. Consertava. Alugava. Antes chegou a ter cavalos, carroças e até mesmo a criar bois. Como sempre pioneiro, ele foi o primeiro morador de Jardim Nova Era a instalar eletricidade em sua casa e a colocar televisão: "As pessoas vinham assistir tevê. Tinha uma novela... acho que era o Direito de nascer."

Incansável, Orestes ia fazendo uma coisa aqui, outra coisa ali. Fazia esgoto. Comprava aquelas manilhas de barro queimado, tirando dinheiro do próprio bolso. Os filhos foram crescendo (são oito ao todo) e Orestes comprou outro terreno na rua Alice de Oliveira. Colocou caldo-de-cana com salgadinhos na beira da estrada. Abriu o bricabraque que hoje lhe garante a sobrevivência. "Na base do escambo", frisa.

Ferro a carvão
Além dos filhos, hoje já são onze netos. Todos os filhos moram no bairro e são independentes. Ele continua ajudando todas as pessoas: "O bairro cresceu muito. Ainda faltam algumas coisas, mas tá bonito! O asfalto deu dignidade. Tem muita gente que ainda precisa de ajuda, pois antigamente não havia tantas despesas: luz, taxas, fraldas, cartão, telefones, água, condução e comia-se muita coisa do quintal."

Em meio a tantos objetos expostos em seu bricabraque, identificamos um ferro de passar roupas, a carvão, vindo, provavelmente, do início da formação do bairro. Onde Orestes começou a sua nova era e onde passa a sua quimera, tranqüilo, recepcionando muito bem. Comprando. Ajudando e, também, vendendo. Como esse ferro de passar a carvão, que adquirimos para a simples decoração de um passado, antes, engomado, agora, em roupa nova e atual.

Um comentário:

Anônimo disse...

Moduan, escreve um artigo sobre o bairro Rosa dos Ventos.