terça-feira, 25 de novembro de 2008

A volta a Nova Iguaçu em 10 dias

Dupla Salgado e Leandro mostra esquete ambiental que percorrerá escolas de Nova Iguaçu em dez dias
por Alcyr Cavalcanti

Enfrentando chuva, frio, dificuldade de acesso, transporte deficiente, transito caótico um pequeno público chegou à Escola Herbert Moses, homenagem a um dos patriarcas do jornalismo. A escola fica na Cobrex, na imensa Nova Iguaçu.

Sempre “a mil por hora”, Barnabé faz as vezes de mestre de cerimônias, entretendo o público enquanto a função vai sendo preparada. Também como sempre, o número de mulheres na platéia ultrapassa o público masculino. “As mulheres ainda vão dominar o mundo, enquanto os homens ainda preferem a conversa em um barzinho ou reduto similar, regado a um líquido para molhar a garganta e deixar a palavra fluir naturalmente, soltando a língua”, disse Barnabé. Na maioria das localidades, o bar ou tendinha ainda é um ponto de encontro, uma área de lazer, seja para confidências, seja para elaborar projetos que talvez nunca sejam realizados, seja para concretizar tarefas futuras.

A dupla “Salgado e Leandro”, que hoje vão se chamar “Josicleide e Natalino”, interpretam um casal iguaçuano típico. Francisco José Salgado tem 44 anos, nasceu em Nova Iguaçu, mais precisamente no K11, uma das várias microáreas da cidade. “Estou feliz e realizado por voltar à minha cidade. Tenho raízes profundas com minha terra. Vejo grandes transformações, algumas para melhor. Sei que algumas deficiências aos poucos serão resolvidas. Acredito no futuro, por isso estou aqui, aliás, estamos aqui.” A juventude agora é mais receptiva e procura mais informação”, diz Salgado, começando a transformação para o happening que vai iniciar a programação, “esquentando” a turma para o curta-metragem sobre Nova Iguaçu e suas situações sociais que será apresentado.

Leandro Muniz tem 30 anos, mas parece bem menos. É seu parceiro e amigo, nos palcos e na vida. Na apresentação se transformarão em Josicleide, uma mulher “pau pra toda obra”, e Natalino, um “pé de cana” contumaz.

Começa a função.

A saga da Josicleide

Vem ver, Vem ver
Essa história
Eu vou contar

Salgado, ou melhor, Josicleide é agora uma mulher negra, batalhadora e “multifuncional, é um paradigma da mulher não só iguaçuana, mas também de milhões de mulheres nesse imenso Brasil. Acorda, e se prepara para a batalha do dia-a-dia.

“Eu sou Leandro e vou contar a história da Josicleide, que nasceu aqui, e mora há mais de trinta anos. Todo o dia ela acorda às 6h13 em ponto, religiosamente, se espreguiça e faz um pouco de Tai-chi-chuan, milenar arte chinesa. Até que um dia...”

Leandro ao toque da viola, continua a narrativa em forma de cordel. “Chegou o dia em que o cansaço prevaleceu e o sono pregou uma peça. Ela acordou 6h23, com seu filhinho aos berros, um atraso quase fatal. Ela corre, escova os dentes deixando a torneira aberta. Liga o rádio, para ficar em dia com o noticiário. Prepara a mamadeira e deixa a torneira da cozinha aberta, e passa a correr de um lado para o outro, feito “barata tonta”, seu neném chora aos berros.” Leandro faz um lembrete em meio à narrativa: “Vocês sabem que só 2% de nosso planeta é de água doce? A água do nosso planeta pode acabar, se continuar o desperdício.” E continua lembrando: “ A sujeira acumulada pode entupir os canos da rede de esgotos.”

Mas Josicleide não está nem aí para a ecologia, tem muita coisa para fazer. E começa a varrer a casa. Vai varrendo, vai varrendo e corre pra deixar seu filho na creche, mas antes lava os pratos, ainda com a bica aberta e o neném cobrando, querendo mais. A sua cabeça “fica a mil por hora”.

No caminho, pega o lixo acumulado e joga de qualquer jeito no lixão. Os garis estão em greve, reivindicam melhores salários e condições de trabalho. Seu trajeto é interrompido por um telefonema urgente. Sua melhor amiga está com leptospirose, ela fica desequilibrada em definitivo. É muita coisa junta. O pequeno público aplaude com entusiasmo.

A Saga do Natalino

Vem ver, Vem ver
Essa terra é boa
E pode melhorar

Agora é Salgado quem apresenta outro personagem: Leandro se transforma em Natalino, marido de Josicleide, “um pé de cana” contumaz, que vive pelas biroscas, abraçado a um litro de cachaça, um paradigma de milhões de brasileiros.“Tô triste, minha mulher só quer dar.... (pausa na platéia) palestras sobre urubunização,” diz Leandro quase em lágrimas, enquanto a platéia explode em gargalhadas.

Salgado responde: “Natalino não é assim que se diz, é urbanização. E você, sabe o que é isso?”

A resposta do Natalino é pedir mais um gole de cachaça, e diz choramingando: “Minha mulher quer ir embora e levar meu filho. Ela é a mulher mais bela de Nova Iguaçu, e agora o que vou fazer? Quero pedir perdão a ela , minha mulher é movida a música e faz um verso em forma de canção: Não vou negar que sou louco por você.”

A platéia delira e aplaude a apresentação, e suas mensagens em forma de cordel. E termina
ao som da viola

Vem ver, Vem ver
Essa terra é boa
E pode melhorar

A dupla diz que a intervenção, ou happening, é inspirada na literatura de cordel, em particular no poeta Patativa do Assaré, o maior violeiro repentista de todos os tempos, e também em Jackson do Pandeiro, que popularizou a arte.

Francisco José Salgado tem uma sólida formação teatral na Escola de Teatro Martins Pena, no Centro do Rio. Foi aluno de Sergio Sanz, também cineasta, e admira o grupo Tá na Rua, de Amir Haddad, e sua apresentação sempre voltada para o povo das ruas.

Para Salgado “O cordel, genuína arte popular, traz uma linguagem acessível e mais direta, sempre entremeada de conteúdo para esclarecer o povo”. Assim têm sido as performances da dupla em Nova Iguaçu, lutando contra a massificação de uma perversa indústria cultural, procurando preservar a tradição popular que no Brasil vem desde os tempos dos jesuítas. “Assim transmitimos a verdadeira cultura”, finaliza.

4 comentários:

dayse disse...

bom eu gostei e tudo do que foi postado no blog sobre o cobrex mas ñ tem nenhuma foto pow

Anônimo disse...

concordo...cadÊ as fotos?comunidade do orkut http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=55220482

Anônimo disse...

comunidade do minha rua tem história! http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=55220482

Anônimo disse...

http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=55220482