sábado, 8 de novembro de 2008

O grafite não tem preconceito


















Oficina de grafite leva beleza e polêmica para as ruas
da Cobrex

Eram 10h30 quando a estudante Kelly Cristina Ferreira Sarmento chegou esbaforida à Rua União. Vinha de uma caminha de quase uma hora da Cerâmica, pois já havia gastado a bolsa de R$ 100 do Pro Jovem e os motoristas de ônibus não aceitam o passe escolar de evangélicos com as vestes roxas do Ministério Vida Nova, da Assembléia de Deus. Apesar do cansaço e das claras diferenças religiosas em relação as cerca de 30 jovens que participaram da oficina de grafitagem da Cobrex, ela participou com entusiasmo do desenho dos oito muros do bairro. "Dá vida ao lugar onde as pessoas moram", explicou ela.

Kelly Cristina, que está cursando o terceiro ano do ensino médio, estava vestida daquela forma porque acredita que dessa forma se cumprirão "as promessas de Deus" para sua vida. "Uma dessas promessas é a de fazê-la missionária de sua igreja, mas a própria entrada no Pro Jovem revela que Kelly Cristina tem ambições mundanas. "Quero fazer o curso de beleza e estética", afirma ela, que se enxerga trabalhando no futuro em salões de beleza e casas de estética. "Minha igreja não tem preconceito."


















Cíntia Freitas Moreira, uma moradora de 20 anos da Rua Comendador Francisco Rodrigues de Oliveira, demonstrou a mesma empolgação na oficina de grafite. Mas são gritantes as diferenças entre ela e sua companheira de projeto. "Sou vaidosa", assumiu ela, dentro de uma camiseta regata branca e um jeans de cós baixo, valorizando todas as formas do seu corpo negro. Para sair de casa naquela manhã nublada e quente, ela não passou menos de meia hora diante do espelho. "Odeio sair de casa de chinelinho e shortinho", afirmou ela.

Outra diferença entre Kelly Cristina e Cíntia Moreira está no modo como as duas estão usando a bolsa do Pro Jovem. Enquanto Kelly Cristina deu metade para a mãe e tirou o dízimo da igreja antes de gastar os primeiros centavos consigo mesma, Cíntia foi ao shopping comprar a roupa inaugurada na mesma noite no Via Show. Mas, como Kelly Cristina, Cíntia Moreira oscilou do estranhamento à empolgação durante a oficina de grafite, que, como a amiga, ela chama de pichação. "No começo, achei que era só rabisco. Mas depois a cor deu vida ao desenho."

Outra aparência
O esforço de Kelly Cristina e Cíntia Moreira foi reconhecido pela estudante Andressa Falcão Batista, há cinco anos moradora da Rua União. Aluna do sexto ano do ensino fundamental da Escola Municipal Herbet Moses, palco das oficinas da gincana social "Minha rua tem história", Andressa se expôs a uma bronca da mãe quando parou para ver o grafite no qual o menino desenhado pela BXD Crew afirmava que em sua casa se brincava de se manter a torneira fechada. "Gostei", disse ela, que gostaria que a turma do Dante tivesse pedido o muro da casa na qual mora com a mãe, o padrasto e o irmão Andrei, de cinco anos. "Pena que o nosso muro não está emboçado", lamentou Andressa, antes de entrar em casa, onde uma série de atividades domésticas a aguardavam.


















O também estudante Luís Guimarães Santos também lamentou que o muro de sua casa não estivesse emboçado, para receber as borrifadas de spray que no seu entender deixaram a Rua União mais bonita. "Deviam fazer em todas as casas", sugeriu este adolescente de 15 anos, que está fazendo o sétimo ano do ensino fundamental no CIEP de Botafogo. O estudante sabe o que está falando. Suas preocupações estéticas não o deixam ficar à vontade nem mesmo quando está olhando a vida da porta de casa. Com o seu inseparável boné Adidas, ele estava com uma camisa de malha com um verde mais escuro que o de sua bermuda enquanto observava encantado o muro recém-pintado do vizinho. "Dá uma outra aparência para a rua."

Meio de acordar
Além de dar um novo colorido à esquina da João Carvalho com a União, a mensagem deixada pelo spray da BXD Crew provocou acirradas discussões no bar de Michele Marques. "O conselho para limpar a caixa a cada seis meses vai chamar a atenção do povo", disse a proprietária do bar, disputando com o tonitruante pagode executado pela FM O Dia. Segundo a dona do bar cuja parede foi grafitada, a mensagem vai mexer com a comunidade da Cobrex principalmente agora, em que as oscilações de chuva e sol facilitam a vida do mosquito transmissor da dengue. "As pessoas continuam cometendo os mesmos erros das outras epidemias", alertou a comerciante.
















O aviso de Michele fez eco na dona de casa Alba Valéria, para quem o grafite na parede do bar "é um meio de acordar as pessoas que estão dormingo". Moradora da Rua União há dez anos, dona Alba é uma atenta observadora da Cobrex desde que participou das invasões que deram origem ao bairro, há cerca de dez anos. "Basta você subir numa laje e olhar para as outras casa, que vai ver as caixas abertas", disse ela, revoltada com o descaso da vizinhança. Dona Alba, cujo marido lava obsessivamente a caixa dágua a cada quatro meses, não entende como a população é indiferente aos alertas da saúde pública. "Até parece que as pessoas nunca tiveram dengue".

2 comentários:

Anônimo disse...

A segunda etapa do pró jovem já começou, e nós do alvorada não fomos incluídos. Eu gostaria de saber quando vai recomeçar?

Anônimo disse...

gostaria que fizessem no meu muro...contato 21-81659640...obrigado...christian