Dupla Salgado e Leandro mostra esquete ambiental que percorrerá escolas de Nova Iguaçu em dez dias
por Alcyr Cavalcanti
Enfrentando chuva, frio, dificuldade de acesso, transporte deficiente, transito caótico um pequeno público chegou à Escola Herbert Moses, homenagem a um dos patriarcas do jornalismo. A escola fica na Cobrex, na imensa Nova Iguaçu.
Sempre “a mil por hora”, Barnabé faz as vezes de mestre de cerimônias, entretendo o público enquanto a função vai sendo preparada. Também como sempre, o número de mulheres na platéia ultrapassa o público masculino. “As mulheres ainda vão dominar o mundo, enquanto os homens ainda preferem a conversa em um barzinho ou reduto similar, regado a um líquido para molhar a garganta e deixar a palavra fluir naturalmente, soltando a língua”, disse Barnabé. Na maioria das localidades, o bar ou tendinha ainda é um ponto de encontro, uma área de lazer, seja para confidências, seja para elaborar projetos que talvez nunca sejam realizados, seja para concretizar tarefas futuras.
A dupla “Salgado e Leandro”, que hoje vão se chamar “Josicleide e Natalino”, interpretam um casal iguaçuano típico. Francisco José Salgado tem 44 anos, nasceu em Nova Iguaçu, mais precisamente no K11, uma das várias microáreas da cidade. “Estou feliz e realizado por voltar à minha cidade. Tenho raízes profundas com minha terra. Vejo grandes transformações, algumas para melhor. Sei que algumas deficiências aos poucos serão resolvidas. Acredito no futuro, por isso estou aqui, aliás, estamos aqui.” A juventude agora é mais receptiva e procura mais informação”, diz Salgado, começando a transformação para o happening que vai iniciar a programação, “esquentando” a turma para o curta-metragem sobre Nova Iguaçu e suas situações sociais que será apresentado.
Leandro Muniz tem 30 anos, mas parece bem menos. É seu parceiro e amigo, nos palcos e na vida. Na apresentação se transformarão em Josicleide, uma mulher “pau pra toda obra”, e Natalino, um “pé de cana” contumaz.
Começa a função.
A saga da Josicleide
Vem ver, Vem ver
Essa história
Eu vou contar
Salgado, ou melhor, Josicleide é agora uma mulher negra, batalhadora e “multifuncional, é um paradigma da mulher não só iguaçuana, mas também de milhões de mulheres nesse imenso Brasil. Acorda, e se prepara para a batalha do dia-a-dia.
“Eu sou Leandro e vou contar a história da Josicleide, que nasceu aqui, e mora há mais de trinta anos. Todo o dia ela acorda às 6h13 em ponto, religiosamente, se espreguiça e faz um pouco de Tai-chi-chuan, milenar arte chinesa. Até que um dia...”
Leandro ao toque da viola, continua a narrativa em forma de cordel. “Chegou o dia em que o cansaço prevaleceu e o sono pregou uma peça. Ela acordou 6h23, com seu filhinho aos berros, um atraso quase fatal. Ela corre, escova os dentes deixando a torneira aberta. Liga o rádio, para ficar em dia com o noticiário. Prepara a mamadeira e deixa a torneira da cozinha aberta, e passa a correr de um lado para o outro, feito “barata tonta”, seu neném chora aos berros.” Leandro faz um lembrete em meio à narrativa: “Vocês sabem que só 2% de nosso planeta é de água doce? A água do nosso planeta pode acabar, se continuar o desperdício.” E continua lembrando: “ A sujeira acumulada pode entupir os canos da rede de esgotos.”
Mas Josicleide não está nem aí para a ecologia, tem muita coisa para fazer. E começa a varrer a casa. Vai varrendo, vai varrendo e corre pra deixar seu filho na creche, mas antes lava os pratos, ainda com a bica aberta e o neném cobrando, querendo mais. A sua cabeça “fica a mil por hora”.
No caminho, pega o lixo acumulado e joga de qualquer jeito no lixão. Os garis estão em greve, reivindicam melhores salários e condições de trabalho. Seu trajeto é interrompido por um telefonema urgente. Sua melhor amiga está com leptospirose, ela fica desequilibrada em definitivo. É muita coisa junta. O pequeno público aplaude com entusiasmo.
A Saga do Natalino
Vem ver, Vem ver
Essa terra é boa
E pode melhorar
Agora é Salgado quem apresenta outro personagem: Leandro se transforma em Natalino, marido de Josicleide, “um pé de cana” contumaz, que vive pelas biroscas, abraçado a um litro de cachaça, um paradigma de milhões de brasileiros.“Tô triste, minha mulher só quer dar.... (pausa na platéia) palestras sobre urubunização,” diz Leandro quase em lágrimas, enquanto a platéia explode em gargalhadas.
Salgado responde: “Natalino não é assim que se diz, é urbanização. E você, sabe o que é isso?”
A resposta do Natalino é pedir mais um gole de cachaça, e diz choramingando: “Minha mulher quer ir embora e levar meu filho. Ela é a mulher mais bela de Nova Iguaçu, e agora o que vou fazer? Quero pedir perdão a ela , minha mulher é movida a música e faz um verso em forma de canção: Não vou negar que sou louco por você.”
A platéia delira e aplaude a apresentação, e suas mensagens em forma de cordel. E termina
ao som da viola
Vem ver, Vem ver
Essa terra é boa
E pode melhorar
A dupla diz que a intervenção, ou happening, é inspirada na literatura de cordel, em particular no poeta Patativa do Assaré, o maior violeiro repentista de todos os tempos, e também em Jackson do Pandeiro, que popularizou a arte.
Francisco José Salgado tem uma sólida formação teatral na Escola de Teatro Martins Pena, no Centro do Rio. Foi aluno de Sergio Sanz, também cineasta, e admira o grupo Tá na Rua, de Amir Haddad, e sua apresentação sempre voltada para o povo das ruas.
Para Salgado “O cordel, genuína arte popular, traz uma linguagem acessível e mais direta, sempre entremeada de conteúdo para esclarecer o povo”. Assim têm sido as performances da dupla em Nova Iguaçu, lutando contra a massificação de uma perversa indústria cultural, procurando preservar a tradição popular que no Brasil vem desde os tempos dos jesuítas. “Assim transmitimos a verdadeira cultura”, finaliza.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Minha rua tem reflexão
A memória de Nova Iguaçu através da narrativa
dos excluídos
Por Alcyr Cavalcanti
"Se todas as pessoas abandonassem o lugar onde vivem em busca de outros melhores, nenhum bairro iria pra frente."
dos excluídos
Por Alcyr Cavalcanti
"Se todas as pessoas abandonassem o lugar onde vivem em busca de outros melhores, nenhum bairro iria pra frente."
Wilson Antunes Pereira, morador de Nova Iguaçu.
Histórias singelas, na tradição oral, a verdadeira história a partir do ponto de vista de seus atores, aqueles que não tiveram vez, aqueles que não tiveram voz. A subjetividade é que vai fazer a diferença, pois as fontes orais contam não apenas o que a sociedade ou apenas um indivíduo fez, mas seus anseios, sonhos, esperanças.
As ruas também contam uma história através de mitos, lembranças, narrativas passadas de pai para filho, destes para seus filhos, para os filhos de seus filhos, e assim indefinidamente. A memória fica preservada, nunca se apaga, fazendo lembrar velhas histórias contadas à luz de uma fogueira, pelos nossos ancestrais.
A história oficial sempre tem sido um registro a partir do ponto de vista e dos interesses das classes dominantes, nem sempre corresponde aos acontecimentos que de fato ocorreram. Visões distorcidas ficam como verdades absolutas. Heróis permanecem ocultados, vilões e traidores ficam como heróis. Poucas vezes as idéias correspondem aos fatos.
Nos dias e noites acompanhadas pelos jovens repórteres percorrendo diuturnamente os dezessete bairros da imensa Nova Iguaçu, começou a ser construída a verdadeira história de uma cidade. Nomes de ruas, praças e monumentos públicos, deverão um dia ser modificados, passando a render homenagem a quem de fato lutou para merecê-las.
Narrativas insólitas, próximas a um realismo fantástico de um Julio Cortázar, ou de um Adolfo Bioy Casares. Para o jornalista e escritor Julio Ludemir, “as árvores de Nova Iguaçu nos permitiram descobrir uma cidade mística”. Narrativas cruas e diretas, parecendo matéria de jornais populares e também contos de terror à maneira de Edgar Alan Poe. As diferentes narrativas, contadas pela memória popular, vão permanecer para sempre entre nós.
Cada fotografia tem e conta uma história. A imagem como preservação da cultura através de seus personagens também foi mostrada em documentos fotográficos, gravados para a posteridade. Objetos, fotografias, quadros, funcionam como “apoios da memória”, ajudando a recordação de um passado distante.
Começar de novo
Os abnegados oficineiros transmitiam, através de uma dinâmica de grupo, vontade e confiança aos jovens, que acompanhavam tudo atentamente, olhos bem abertos, ouvidos bem atentos.
Meninos e meninas do Minha Rua, para servir como apoio em suas narrativas trouxeram pregos, pedaços de fio, cimento, martelos, alicates, fotografias, cartas, objetos preciosos lembrando as construções que marcaram suas memórias. Algumas foram construídas solidamente, outras simplesmente vieram ao chão. A ordem foi reconstruir, começar de novo.
As histórias contadas pelos jovens provocaram sentimentos diversos: desentendimento, ódio, dificuldade, raiva, tristeza, sacrifício, doação, esforço, fé e principalmente coragem e esperança.
Na “nova” Iguaçu de nossos dias, uma cidade determinada e firme em seus propósitos para superar os desafios do dia-a-dia, Minha Rua tem História foi um projeto que deu certo.
As ruas também contam uma história através de mitos, lembranças, narrativas passadas de pai para filho, destes para seus filhos, para os filhos de seus filhos, e assim indefinidamente. A memória fica preservada, nunca se apaga, fazendo lembrar velhas histórias contadas à luz de uma fogueira, pelos nossos ancestrais.
A história oficial sempre tem sido um registro a partir do ponto de vista e dos interesses das classes dominantes, nem sempre corresponde aos acontecimentos que de fato ocorreram. Visões distorcidas ficam como verdades absolutas. Heróis permanecem ocultados, vilões e traidores ficam como heróis. Poucas vezes as idéias correspondem aos fatos.
Nos dias e noites acompanhadas pelos jovens repórteres percorrendo diuturnamente os dezessete bairros da imensa Nova Iguaçu, começou a ser construída a verdadeira história de uma cidade. Nomes de ruas, praças e monumentos públicos, deverão um dia ser modificados, passando a render homenagem a quem de fato lutou para merecê-las.
Narrativas insólitas, próximas a um realismo fantástico de um Julio Cortázar, ou de um Adolfo Bioy Casares. Para o jornalista e escritor Julio Ludemir, “as árvores de Nova Iguaçu nos permitiram descobrir uma cidade mística”. Narrativas cruas e diretas, parecendo matéria de jornais populares e também contos de terror à maneira de Edgar Alan Poe. As diferentes narrativas, contadas pela memória popular, vão permanecer para sempre entre nós.
Cada fotografia tem e conta uma história. A imagem como preservação da cultura através de seus personagens também foi mostrada em documentos fotográficos, gravados para a posteridade. Objetos, fotografias, quadros, funcionam como “apoios da memória”, ajudando a recordação de um passado distante.
Começar de novo
Os abnegados oficineiros transmitiam, através de uma dinâmica de grupo, vontade e confiança aos jovens, que acompanhavam tudo atentamente, olhos bem abertos, ouvidos bem atentos.
Meninos e meninas do Minha Rua, para servir como apoio em suas narrativas trouxeram pregos, pedaços de fio, cimento, martelos, alicates, fotografias, cartas, objetos preciosos lembrando as construções que marcaram suas memórias. Algumas foram construídas solidamente, outras simplesmente vieram ao chão. A ordem foi reconstruir, começar de novo.
As histórias contadas pelos jovens provocaram sentimentos diversos: desentendimento, ódio, dificuldade, raiva, tristeza, sacrifício, doação, esforço, fé e principalmente coragem e esperança.
Na “nova” Iguaçu de nossos dias, uma cidade determinada e firme em seus propósitos para superar os desafios do dia-a-dia, Minha Rua tem História foi um projeto que deu certo.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Esperança vitalícia
Miriam Vieira da Silva deu depoimento para a equipe de filmagem da nossa gincana social
A líder comunitária Miriam Vieira da Silva se sensibilizou com o drama dos pais de família que a procuraram em 1996, propondo a invasão de um terreno pantanoso na Cobrex, de propriedade da Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu. Mas a então secretária da associação de moradores do bairro impôs uma condição para participar da luta daqueles homens que sacrificavam a alimentação dos filhos para manter em dia o pagamento do aluguel. "Nós vamos legalizar", afirmou a recepcionista da maternidade Mariana Bulhões, na Posse.
Começava aí uma batalha com tinturas épicas, que faria dela uma presidente quase vitalícia da associação de moradores e acrescentariam ao bairro sete ruas e duas travessas cujos nomes foram escolhidos pelos cerca de mil moradores em eleição direta. Corria o governo do prefeito Altamir Gomes, e a líder comunitária teve a ilusão de que bastaria capinar aquela área coberta de mata e lixo nas imediações da Estrada Velha de Santa Rita para que a Emlurb acatasse o processo aberto pela comunidade recém-formada. "No dia seguinte, a Defesa Civil estava aqui", lembra a líder comunitária. Mas não para dar suporte ao trabalho de Miriam. "Eles derrubaram todos os barracos vazios e nos deram 24 horas para deixar o loteamento."
Gratidão
O loteamento foi salvo depois de um tour burocrático pela Prefeitura, que culminou com uma visita à Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Nova Iguaçu, que funcionava no prédio em que hoje se encontra a Secretaria de Saúde. "A dra. Sada Baroud trouxe uma equipe de reportagem, mostrando a carência do nosso povo." A estratégia funcionou e no dia seguinte os invasores receberam técnicos da Emlurb, que fizeram a topografia do terreno, demarcaram-no e cadastraram os moradores. Não muito tempo depois, políticos como Maurício Morais, Célio Cordeiro, Rogério Lisboa e Sami ajudaram a aterrar a área, abriram ruas e fizeram todo saneamento. Agradecida, a comunidade reelegeu esses políticos seguidas vezes.
Antes mesmo que o primeiro loteamento fosse completamente urbanizado, a comunidade promoveu uma segunda invasão num terreno contíguo, ocupando dessa vez o igualmente abandonado campo do Ferrugem. A experiência da primeira invasão levou a associação de moradores a procurar um engenheiro, graças ao qual as ruas são certinhas, com 10 metros de largura e 1,5 m destinado às calçadas. "Dividimos os lotes, abrimos as ruas, limpamos o mato, colocamos a posteação de madeira e fizemos os barracos", lembra Miriam, que na época já era presidente da associação de moradores.
Apesar da tarimba com os embates da primeira ocupação, a comunidade de hoje chamada Vila Esperança não imaginou encontrar no então prefeito Nelson Bornier um adversário tão insensível e intransigente. "Quando ele nos descobriu, mandou tratores e caminhões da Defesa Civil", lembra Miriam. "Os homens vieram armados e dispostos a derrubar tudo." Foi só na última hora que Miriam teve a inspiração que garantiu a sobrevivência da comunidade. "Eu disse que eles podiam derrubar, desde que me entregassem a reintegração de posse." Como eles não tinham a documentação necessária, os técnicos da Prefeitura a convidaram para uma rodada de negociações. "Eu fui com o Padre Ruy, que trabalhava com a dra. Sada Baroud na Comissão de Justiça e Paz."
Carnaval
Mas o acordo feito com os técnicos, de acordo com o qual a Prefeitura construiria casas depois de cadastrar os moradores da invasão, só produziu dissabores para Miriam. "Eles só cumpriram a parte que nos prejudicava", lastima. "Eles desmancharam os barracos malfeitos na beira da pista e tiraram os postes." A paciência da comunidade durou de novembro até fevereiro. "Aí, eu falei: ‘temos quatro dias para fazer tudo de novo!’" Enquanto as autoridades se esbaldavam no carnaval, a comunidade da Cobrex construiu nada menos de 90 casas em um multirão espetacular, do qual não ficou de fora a religação das luzes. “Cada um se virou como pôde.”
Ainda hoje Miriam lembra o grito de Nelson Bornier ao ver o resultado do multirão. "Dessa vez não tem perdão", bradou o prefeito. "Vai tudo pra baixo." O prefeito estava tão possesso, que a líder comunitária temeu que enfartasse. Mas se a saúde de Bornier resistiu àquela derrota pública, o mesmo não se pode dizer de sua capacidade de julgamento. "Quer dizer que aquela mansão é de gente pobre?", questionou, apontando para a meia-água construída da noite para o dia por um camelô. Uma das 90 construídas naquele carnaval foi a da própria Miriam, que até o início deste ano tinha apenas uma sala e o banheiro. Além de pequena, a casa de número 110 da Rua União não tinha nem muro, nem laje, nem piso.
O prefeito se acalmou depois que os moradores acionaram Maurício de Morais e Valnei Rocha. Mas se os seus argumentos tiveram o poder de convencer Bornier a desistir de perseguir a comunidade, não foram capazes de sensibilizá-lo a investir em obras de melhoria no bairro. "Cada casa de tijolo, cada relógio e cada poste conseguido na Light, tudo isso foi uma conquista da associação." As obras de urbanização tiveram que aguardar a eleição do prefeito Lindberg Farias. "Ele mudou o saneamento e nivelou as ruas", contabiliza. "Agora só falta pavimentar."
A urbanização das duas invasões rendeu muitos votos ao prefeito em sua campanha para se reeleger, mas essa gratidão não diminuiu nem o espírito crítico nem a capacidade de mobilização da comunidade. "Falta construir a praça e a creche." A praça, que já tem uma área reservada por trás do campo de futebol da comunidade, depende do poder público. "Mas o material da creche já está aí." Qualquer dia começa um novo mutirão.
A líder comunitária Miriam Vieira da Silva se sensibilizou com o drama dos pais de família que a procuraram em 1996, propondo a invasão de um terreno pantanoso na Cobrex, de propriedade da Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu. Mas a então secretária da associação de moradores do bairro impôs uma condição para participar da luta daqueles homens que sacrificavam a alimentação dos filhos para manter em dia o pagamento do aluguel. "Nós vamos legalizar", afirmou a recepcionista da maternidade Mariana Bulhões, na Posse.
Começava aí uma batalha com tinturas épicas, que faria dela uma presidente quase vitalícia da associação de moradores e acrescentariam ao bairro sete ruas e duas travessas cujos nomes foram escolhidos pelos cerca de mil moradores em eleição direta. Corria o governo do prefeito Altamir Gomes, e a líder comunitária teve a ilusão de que bastaria capinar aquela área coberta de mata e lixo nas imediações da Estrada Velha de Santa Rita para que a Emlurb acatasse o processo aberto pela comunidade recém-formada. "No dia seguinte, a Defesa Civil estava aqui", lembra a líder comunitária. Mas não para dar suporte ao trabalho de Miriam. "Eles derrubaram todos os barracos vazios e nos deram 24 horas para deixar o loteamento."
Gratidão
O loteamento foi salvo depois de um tour burocrático pela Prefeitura, que culminou com uma visita à Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Nova Iguaçu, que funcionava no prédio em que hoje se encontra a Secretaria de Saúde. "A dra. Sada Baroud trouxe uma equipe de reportagem, mostrando a carência do nosso povo." A estratégia funcionou e no dia seguinte os invasores receberam técnicos da Emlurb, que fizeram a topografia do terreno, demarcaram-no e cadastraram os moradores. Não muito tempo depois, políticos como Maurício Morais, Célio Cordeiro, Rogério Lisboa e Sami ajudaram a aterrar a área, abriram ruas e fizeram todo saneamento. Agradecida, a comunidade reelegeu esses políticos seguidas vezes.
Antes mesmo que o primeiro loteamento fosse completamente urbanizado, a comunidade promoveu uma segunda invasão num terreno contíguo, ocupando dessa vez o igualmente abandonado campo do Ferrugem. A experiência da primeira invasão levou a associação de moradores a procurar um engenheiro, graças ao qual as ruas são certinhas, com 10 metros de largura e 1,5 m destinado às calçadas. "Dividimos os lotes, abrimos as ruas, limpamos o mato, colocamos a posteação de madeira e fizemos os barracos", lembra Miriam, que na época já era presidente da associação de moradores.
Apesar da tarimba com os embates da primeira ocupação, a comunidade de hoje chamada Vila Esperança não imaginou encontrar no então prefeito Nelson Bornier um adversário tão insensível e intransigente. "Quando ele nos descobriu, mandou tratores e caminhões da Defesa Civil", lembra Miriam. "Os homens vieram armados e dispostos a derrubar tudo." Foi só na última hora que Miriam teve a inspiração que garantiu a sobrevivência da comunidade. "Eu disse que eles podiam derrubar, desde que me entregassem a reintegração de posse." Como eles não tinham a documentação necessária, os técnicos da Prefeitura a convidaram para uma rodada de negociações. "Eu fui com o Padre Ruy, que trabalhava com a dra. Sada Baroud na Comissão de Justiça e Paz."
Carnaval
Mas o acordo feito com os técnicos, de acordo com o qual a Prefeitura construiria casas depois de cadastrar os moradores da invasão, só produziu dissabores para Miriam. "Eles só cumpriram a parte que nos prejudicava", lastima. "Eles desmancharam os barracos malfeitos na beira da pista e tiraram os postes." A paciência da comunidade durou de novembro até fevereiro. "Aí, eu falei: ‘temos quatro dias para fazer tudo de novo!’" Enquanto as autoridades se esbaldavam no carnaval, a comunidade da Cobrex construiu nada menos de 90 casas em um multirão espetacular, do qual não ficou de fora a religação das luzes. “Cada um se virou como pôde.”
Ainda hoje Miriam lembra o grito de Nelson Bornier ao ver o resultado do multirão. "Dessa vez não tem perdão", bradou o prefeito. "Vai tudo pra baixo." O prefeito estava tão possesso, que a líder comunitária temeu que enfartasse. Mas se a saúde de Bornier resistiu àquela derrota pública, o mesmo não se pode dizer de sua capacidade de julgamento. "Quer dizer que aquela mansão é de gente pobre?", questionou, apontando para a meia-água construída da noite para o dia por um camelô. Uma das 90 construídas naquele carnaval foi a da própria Miriam, que até o início deste ano tinha apenas uma sala e o banheiro. Além de pequena, a casa de número 110 da Rua União não tinha nem muro, nem laje, nem piso.
O prefeito se acalmou depois que os moradores acionaram Maurício de Morais e Valnei Rocha. Mas se os seus argumentos tiveram o poder de convencer Bornier a desistir de perseguir a comunidade, não foram capazes de sensibilizá-lo a investir em obras de melhoria no bairro. "Cada casa de tijolo, cada relógio e cada poste conseguido na Light, tudo isso foi uma conquista da associação." As obras de urbanização tiveram que aguardar a eleição do prefeito Lindberg Farias. "Ele mudou o saneamento e nivelou as ruas", contabiliza. "Agora só falta pavimentar."
A urbanização das duas invasões rendeu muitos votos ao prefeito em sua campanha para se reeleger, mas essa gratidão não diminuiu nem o espírito crítico nem a capacidade de mobilização da comunidade. "Falta construir a praça e a creche." A praça, que já tem uma área reservada por trás do campo de futebol da comunidade, depende do poder público. "Mas o material da creche já está aí." Qualquer dia começa um novo mutirão.
sábado, 8 de novembro de 2008
Os herdeiros de seu Betinho
Documentário emociona família de um dos fundadores
da Prata
"Uh, uh, Nova Iguaçu! Uh, uh, Nova Iguaçu", gritavam as cerca de 100 pessoas espalhadas pelo pátio da Escola Municipal Menino de Deus, na Prata. A ovação era o final feliz da gincana social "Minha rua tem história" no bairro, com a exibição de um documentário com um aluno do Pro Jovem, a técnica social do PAC e principalmente os herdeiros de seu Betinho, o investigador policial que praticamente fundou a Prata.
No meio daquela platéia entusiasmada, estavam dona Miúda e três de seus cinco filhos, que acompanharam emocionados o documentário dirigido por Carlos Gregório. Dona Miúda, cujo nome verdadeiro é Adassilva França dos Reis Gonçalves e está com 83 anos, começou a chorar desde que a câmera mostrou o retrato em tons sépia do seu marido.
Embora seja tida como uma mulher de coração duro, que ainda hoje é quem dá a palavra final nos muitos negócios deixados pelo marido, ela não se conteve quando se viu dizendo que tinha que conservar a memória de seu Betinho.
Dentes de ouro
A produção da gincana social chegou à família de seu Betinho por intermédio dos cineclubistas Luana Pinheiro, que passaram o mês de setembro caçando os fundadores dos 17 bairros mobilizados pelo "Minha rua tem história". Parte dessa escolha se deveu a aspectos folclóricos dessa família, como o fato de todas as suas propriedades serem pintadas de verde. "É o verde da esperança", explicou dona Miúda, que não sabe quantos imóveis a família possui. "Só tem uma casa na Rua Boa Vista que não está pintada de verde." Outra fixação da família de seu Betinho são os dentes de ouro.
O patrimônio físico e moral da família de seu Betinho teve como ponto de partida o bar que hoje, depois de uma grande reforma, é administrado pelo filho homônimo. Vieram em seguida uma padaria, um açougue, uma farmácia, um restaurante e muitas outras obras, sempre construídas com base na necessidade do bairro. "Ele construía a casa e só alugava se o inquilino assumisse o compromisso de que iria abrir o comércio que ele acreditava importante para a comunidade naquele momento", contou dona Miúda.
Feliz com o PAC
A filha Nadir, que acompanhou a mãe durante as filmagens, também enxerga o vínculo do pai com a comunidade na construção da primeira praça do Manhoso, no primeiro posteamento das ruas, no primeiro orelhão e no primeiro bicão, entre outras benfeitorias. "Ele hoje estaria muito feliz com todas essas obras do PAC", afirmou a filha.
Todas essas benfeitorias eram conseguidas com articulações com os políticos tradicionais de Nova Iguaçu, que sempre procuravam seu Betinho atrás dos votos que ele arranjava na Prata. "Apesar de participar ativamente da vida política da cidade, meu pai jamais se candidatou a nada", frisou Betinho filho. A primeira pessoa da família a tentar um mandato popular foi Valter Gonçalves., que obteve 1266 votos nas últimas eleições. "Foi a primeira e última vez", afirmou o candidato, que nas próximas eleições tentará transferir o espólio político para o filho, Valter como ele.
Seu Betinho muito mal sabia ler as escrituras dos diversos imóveis que construiu ao longo dos seus 74 anos, mas tinha uma inabalável crença na educação. "Acho que o dia mais emocionante na vida de meu pai foi quando minha irmã caçula se formou em medicina", disse Valter Gonçalves. A irmã caçula, cujo nome também é Adassilva, foi a primeira filha de seu Betilho a se formar. Seguiram o seu exemplo a irmã Nadir, que fez pedagogia, e os irmãos Valter e Betinho, que se formaram em educação física quando abandonaram o futebol profissional. Valter, que tentou uma carreira de treinador quando pendurou as chuteiras, estudou direito depois da morte do pai. "Para ajudar a administrar o patrimônio da família", explicou.
Para dona Miúda, a capacidade de realização de seu finado marido pode ser medida pelo modo como morreu, em 1991. "Ele foi consertar a caixa dágua e caiu da escada", lembrou ela, emocionada.
O grafite não tem preconceito
Oficina de grafite leva beleza e polêmica para as ruas
da Cobrex
Eram 10h30 quando a estudante Kelly Cristina Ferreira Sarmento chegou esbaforida à Rua União. Vinha de uma caminha de quase uma hora da Cerâmica, pois já havia gastado a bolsa de R$ 100 do Pro Jovem e os motoristas de ônibus não aceitam o passe escolar de evangélicos com as vestes roxas do Ministério Vida Nova, da Assembléia de Deus. Apesar do cansaço e das claras diferenças religiosas em relação as cerca de 30 jovens que participaram da oficina de grafitagem da Cobrex, ela participou com entusiasmo do desenho dos oito muros do bairro. "Dá vida ao lugar onde as pessoas moram", explicou ela.
Kelly Cristina, que está cursando o terceiro ano do ensino médio, estava vestida daquela forma porque acredita que dessa forma se cumprirão "as promessas de Deus" para sua vida. "Uma dessas promessas é a de fazê-la missionária de sua igreja, mas a própria entrada no Pro Jovem revela que Kelly Cristina tem ambições mundanas. "Quero fazer o curso de beleza e estética", afirma ela, que se enxerga trabalhando no futuro em salões de beleza e casas de estética. "Minha igreja não tem preconceito."
Cíntia Freitas Moreira, uma moradora de 20 anos da Rua Comendador Francisco Rodrigues de Oliveira, demonstrou a mesma empolgação na oficina de grafite. Mas são gritantes as diferenças entre ela e sua companheira de projeto. "Sou vaidosa", assumiu ela, dentro de uma camiseta regata branca e um jeans de cós baixo, valorizando todas as formas do seu corpo negro. Para sair de casa naquela manhã nublada e quente, ela não passou menos de meia hora diante do espelho. "Odeio sair de casa de chinelinho e shortinho", afirmou ela.
Outra diferença entre Kelly Cristina e Cíntia Moreira está no modo como as duas estão usando a bolsa do Pro Jovem. Enquanto Kelly Cristina deu metade para a mãe e tirou o dízimo da igreja antes de gastar os primeiros centavos consigo mesma, Cíntia foi ao shopping comprar a roupa inaugurada na mesma noite no Via Show. Mas, como Kelly Cristina, Cíntia Moreira oscilou do estranhamento à empolgação durante a oficina de grafite, que, como a amiga, ela chama de pichação. "No começo, achei que era só rabisco. Mas depois a cor deu vida ao desenho."
Outra aparência
O esforço de Kelly Cristina e Cíntia Moreira foi reconhecido pela estudante Andressa Falcão Batista, há cinco anos moradora da Rua União. Aluna do sexto ano do ensino fundamental da Escola Municipal Herbet Moses, palco das oficinas da gincana social "Minha rua tem história", Andressa se expôs a uma bronca da mãe quando parou para ver o grafite no qual o menino desenhado pela BXD Crew afirmava que em sua casa se brincava de se manter a torneira fechada. "Gostei", disse ela, que gostaria que a turma do Dante tivesse pedido o muro da casa na qual mora com a mãe, o padrasto e o irmão Andrei, de cinco anos. "Pena que o nosso muro não está emboçado", lamentou Andressa, antes de entrar em casa, onde uma série de atividades domésticas a aguardavam.
O também estudante Luís Guimarães Santos também lamentou que o muro de sua casa não estivesse emboçado, para receber as borrifadas de spray que no seu entender deixaram a Rua União mais bonita. "Deviam fazer em todas as casas", sugeriu este adolescente de 15 anos, que está fazendo o sétimo ano do ensino fundamental no CIEP de Botafogo. O estudante sabe o que está falando. Suas preocupações estéticas não o deixam ficar à vontade nem mesmo quando está olhando a vida da porta de casa. Com o seu inseparável boné Adidas, ele estava com uma camisa de malha com um verde mais escuro que o de sua bermuda enquanto observava encantado o muro recém-pintado do vizinho. "Dá uma outra aparência para a rua."
Meio de acordar
Além de dar um novo colorido à esquina da João Carvalho com a União, a mensagem deixada pelo spray da BXD Crew provocou acirradas discussões no bar de Michele Marques. "O conselho para limpar a caixa a cada seis meses vai chamar a atenção do povo", disse a proprietária do bar, disputando com o tonitruante pagode executado pela FM O Dia. Segundo a dona do bar cuja parede foi grafitada, a mensagem vai mexer com a comunidade da Cobrex principalmente agora, em que as oscilações de chuva e sol facilitam a vida do mosquito transmissor da dengue. "As pessoas continuam cometendo os mesmos erros das outras epidemias", alertou a comerciante.
O aviso de Michele fez eco na dona de casa Alba Valéria, para quem o grafite na parede do bar "é um meio de acordar as pessoas que estão dormingo". Moradora da Rua União há dez anos, dona Alba é uma atenta observadora da Cobrex desde que participou das invasões que deram origem ao bairro, há cerca de dez anos. "Basta você subir numa laje e olhar para as outras casa, que vai ver as caixas abertas", disse ela, revoltada com o descaso da vizinhança. Dona Alba, cujo marido lava obsessivamente a caixa dágua a cada quatro meses, não entende como a população é indiferente aos alertas da saúde pública. "Até parece que as pessoas nunca tiveram dengue".
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
A alvorada de um bairro
"Minha rua" filma velho líder comunitário
Por Jéssica de Oliveira
Quem vê Jardim Alvorada hoje, não imagina que ele já foi um bairro com tantos problemas, que iam da falta de infra-estrutura à segurança, passando pela saúde, educação e transporte. Por causa desses problemas, muitos moradores pensarem em se mudar. "Mas se todas as pessoas abandonassem o lugar onde vivem em busca de outros melhores, nenhum bairro iria pra frente", diz Wilson Antunes Pereira, de 73 anos. Na condição de presidente da associação de moradores de seu bairro, ele lutou bravamente pelas melhorias que deram uma nova cara ao Jardim Alvorada.
A militância de Seu Wilson começou em 1979, quando fundou a associação de moradores de Rocha Sobrinho. Em 1984, tão logo se mudou para o Jardim Alvorada, procurou a associação e pouco tempo depois acabou assumindo-a. Na época, o bairro estava em péssimo estado. "Havia valões a céu aberto que transbordavam com a chuva, buracos que dificultavam a passagem de carros, mato que atraía bichos e muitos outros problemas que só os moradores podiam perceber", enumera ele.
46 ruas
Mas seu Wilson não cruzou os braços, nem ficou esperando sentado. Inúmeras cartas foram enviadas para a prefeitura, para o governador e até para o ministro do Interior, reivindicando melhorias. Mas nada foi feito. "Eu enviei a carta para o ministro e ele me retornou dizendo que não poderia nos ajudar porque o prefeito de Nova Iguaçu, na época, estava devendo FGTS." Vários prefeitos se sucederam até que sua rua (Selma) fosse asfaltada, há 7 anos. Mas não foi por ter os seus interesses pessoais atendidos que ele parou de lutar pelo bairro, a apenas três quilômetros do Centro. "Hoje é uma imensa alegria saber que 46 ruas estão recebendo saneamento e asfalto."
Basta uma caminhada pelas ruas do Jardim Alvorada para se perceber a popularidade de seu Wilson, que aumentou de modo expressivo com o fim das enchentes, da lama e do lixo nas ruas. Mas nem foram flores na vida desse velho líder comunitário. "Há pessoas que não entendem a minha boa-vontade e só fazem me criticar", lamenta. "Já quiseram até me linchar porque apoiei a derrubada de algumas árvores para a construção de 30 casas populares. Mas eu não me deixo intimidar. Peço sempre a proteção das autoridades e continuo com os meus trabalhos."
Seu Wilson também teve dificuldades de conter a revolta dos vizinhos, que chegaram a bloquear a Estrada de Madureira para chamar a atenção das autoridades. "Mas eu pedi paciência e, juntos, lutamos de forma civilizada pelo o que é nosso por direito." O presidente da associação de moradores vai recorrer à mesma paciência na luta pela nova pauta de reivindicações do bairro. "Agora queremos agências de Correios e de bancos, além de mais postos de saúde, escolas e áreas de lazer", enumera. "Com certeza, vamos conseguir!"
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Grafite em família
Zaira está rompendo a barreira do machismo
no hip hop carioca
Por Luiz Felipe Garcez
A cada oficina de grafitagem da gincana social "Minha rua tem história", acontece uma coisa diferente. E dessa vez, em Jardim Pernambuco, a novidade foi o toque feminino de Zaira. Filha e irmã de grafiteiros, ela é a responsável por Duda, uma boneca gordinha e baixinha inspirada em uma prima sua.
Numa rápida conversa, Zaira deixa claro que mulheres não são muito comuns, mas que a galera gosta porque é diferente. "Não necessariamente porque o grafite que faço é feminino", explicou. "Mas porque sou uma mulher grafitando."
Antes de ser grafiteira, Zaira é artista plástica. "Já trabalhei em galpões de escola de samba", explicou. "O grafite é um hobbie."
Uma pessoa não pode viver só de arte, e Zaira não foge à regra. "Sou recepcionista em uma clínica", lembrou ela. Preocupada com o futuro, ela estuda publicidade na UNIGRANRIO de Caxias. "Faço publicidade porque quero criar arte na publicidade."
Zaira explica que os grafiteiros normalmente têm o seu personagem e o dela é uma boneca gordinha, que ela batizou de Duda em homenagem a uma prima. "Duda pode ser encontrada em vários muros de Nova Iguaçu e da Baixada", explicou.
Zaira dava um toque a mais nas oficinas e as jovens que acompanhavam a oficina se encantavam com ela. Pacientemente, ela ia fazendo as meninas perderem a timidez e pegarem num jet.
Zaira quebra preconceitos, mostra que no grafite a mulher tambem tem espaço. Diferente, ousada, Zaira é o retrato do Minha Tem História.
no hip hop carioca
Por Luiz Felipe Garcez
A cada oficina de grafitagem da gincana social "Minha rua tem história", acontece uma coisa diferente. E dessa vez, em Jardim Pernambuco, a novidade foi o toque feminino de Zaira. Filha e irmã de grafiteiros, ela é a responsável por Duda, uma boneca gordinha e baixinha inspirada em uma prima sua.
Numa rápida conversa, Zaira deixa claro que mulheres não são muito comuns, mas que a galera gosta porque é diferente. "Não necessariamente porque o grafite que faço é feminino", explicou. "Mas porque sou uma mulher grafitando."
Antes de ser grafiteira, Zaira é artista plástica. "Já trabalhei em galpões de escola de samba", explicou. "O grafite é um hobbie."
Uma pessoa não pode viver só de arte, e Zaira não foge à regra. "Sou recepcionista em uma clínica", lembrou ela. Preocupada com o futuro, ela estuda publicidade na UNIGRANRIO de Caxias. "Faço publicidade porque quero criar arte na publicidade."
Zaira explica que os grafiteiros normalmente têm o seu personagem e o dela é uma boneca gordinha, que ela batizou de Duda em homenagem a uma prima. "Duda pode ser encontrada em vários muros de Nova Iguaçu e da Baixada", explicou.
Zaira dava um toque a mais nas oficinas e as jovens que acompanhavam a oficina se encantavam com ela. Pacientemente, ela ia fazendo as meninas perderem a timidez e pegarem num jet.
Zaira quebra preconceitos, mostra que no grafite a mulher tambem tem espaço. Diferente, ousada, Zaira é o retrato do Minha Tem História.
Minha rua é global
Jornal O Globo manda repórter cobrir grafitagem em Jardim Pernambuco
Por Luiz Felipe Garcez
Por Luiz Felipe Garcez
O “Minha rua tem história” já havia caído na boca do povo, mas ainda não tinha conseguido furar o cerco da mídia. Ainda. Porque no dia da grafitagem em Jardim Pernambuco, a jornalista Aline Costa, 29 anos e um mês de jornal O Globo, foi conhecer o projeto.
Aline, que já entrevistara o cineasta Marcus Vinicius Faustini, o secretário municipal de Cultura e Turismo e mentor da gincana social, foi recebida pelo escritor Julio Ludemir. O escritor explicou os pormenores do “Minha rua tem história”, como as histórias sobre as árvores e as obras. “As árvores nos permitiram descobrir uma Nova Iguaçu mística e as obras nos colocaram em contato com uma cidade determinada, capaz de superar qualquer desafio para construir e reformar suas casas”, explicou ele para a repórter.
Julio Ludemir também falou sobre o aspecto midiático da gincana social, que, mal comparando, é acompanhada pelos nossos blogs da mesma forma como os reality show Big Brother e Ídolos. O conhecimento de um projeto de comunicação envolvendo jovens levou Aline Costa a me fazer diversas perguntas. Gostei de falar para ela sobre a minha participação no grupo de Prados Verdes.
Aline também entrevistou os jovens que participaram da gincana social, que estavam nas imediações da Escola Municipal José Ribeiro Guimarães para participar da oficina de grafite comanda por Dante. Como não poderia deixar de ser, a repórter entrevistou a trupe do BXD Crew.
Aline é moradora de Nova Iguaçu, fez faculdade na Gama Filha e trabalhou em vários jornais da cidade antes de entrar para O Globo, como o Correio da Lavoura e o Hoje. Se ela estava gostando das informações obtidas durante a apuração daquela matéria, ficou ainda mais satisfeita ao saber que este era o projeto no qual trabalhava o seu amigo Anderson Chagas, o Fat, que conheceu na faculdade. Para quem não sabe, Fat foi um dos criadores da Escola Agência de Comunicação.
Aline estava morrendo de pressa, mas, simpática toda vida, não deixou de responder minhas perguntas. Uma das minhas perguntas foi sobre a obrigatoriedade de jornalistas formados em projetos de comunicação, como o nosso. “A mídia tem espaço pra todo mundo e na verdade, precisa disso. A mídia é cada vez mais jovem. É isso que a internet propõe.”
Ela deixou claro que nunca tinha visto nada parecido com o “Minha rua tem história”. Contou também que adorou o projeto e a forma como ele vinha sendo executada.
Aline, que já entrevistara o cineasta Marcus Vinicius Faustini, o secretário municipal de Cultura e Turismo e mentor da gincana social, foi recebida pelo escritor Julio Ludemir. O escritor explicou os pormenores do “Minha rua tem história”, como as histórias sobre as árvores e as obras. “As árvores nos permitiram descobrir uma Nova Iguaçu mística e as obras nos colocaram em contato com uma cidade determinada, capaz de superar qualquer desafio para construir e reformar suas casas”, explicou ele para a repórter.
Julio Ludemir também falou sobre o aspecto midiático da gincana social, que, mal comparando, é acompanhada pelos nossos blogs da mesma forma como os reality show Big Brother e Ídolos. O conhecimento de um projeto de comunicação envolvendo jovens levou Aline Costa a me fazer diversas perguntas. Gostei de falar para ela sobre a minha participação no grupo de Prados Verdes.
Aline também entrevistou os jovens que participaram da gincana social, que estavam nas imediações da Escola Municipal José Ribeiro Guimarães para participar da oficina de grafite comanda por Dante. Como não poderia deixar de ser, a repórter entrevistou a trupe do BXD Crew.
Aline é moradora de Nova Iguaçu, fez faculdade na Gama Filha e trabalhou em vários jornais da cidade antes de entrar para O Globo, como o Correio da Lavoura e o Hoje. Se ela estava gostando das informações obtidas durante a apuração daquela matéria, ficou ainda mais satisfeita ao saber que este era o projeto no qual trabalhava o seu amigo Anderson Chagas, o Fat, que conheceu na faculdade. Para quem não sabe, Fat foi um dos criadores da Escola Agência de Comunicação.
Aline estava morrendo de pressa, mas, simpática toda vida, não deixou de responder minhas perguntas. Uma das minhas perguntas foi sobre a obrigatoriedade de jornalistas formados em projetos de comunicação, como o nosso. “A mídia tem espaço pra todo mundo e na verdade, precisa disso. A mídia é cada vez mais jovem. É isso que a internet propõe.”
Ela deixou claro que nunca tinha visto nada parecido com o “Minha rua tem história”. Contou também que adorou o projeto e a forma como ele vinha sendo executada.