quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O começo da minha rua

Assistentes apresentam regras da gincana e quebram
o gelo entre os jovens nos dois primeiros dias do projeto




A metodologia do projeto Minha Rua Tem História mostrou sua eficácia já nos dois primeiros dias da maratona de oficinas espalhadas pelos 17 bairros com obras do PAC. Depois que os assistentes apresentaram as regras dessa que pode ser a maior gincana social do Brasil, eles propuseram alguns exercícios aos 3.400 jovens inscritos no Pro-Jovem que estabeleceram uma linha direta com a memória das 500 ruas asfaltadas durante a administração do prefeito Lindberg Farias. Um exemplo bastante preciso do trabalho feito nestes dois dias está nas turmas A e B do bairro de Nova Era, que marcaram presença na escola municipal homônima na caótica noite inaugural do projeto Minha Rua Tem História. É verdade que informações desencontradas entre as diversas secretarias responsáveis pelo projeto terminaram esvaziando as duas oficinas da noite de terça-feira 25, pois os jovens que se deram ao trabalho de passar na escola para confirmar se as oficinas teriam início naquela noite foram informados que o projeto fora adiado. Mas os 19 jovens instruídos pela assistente Georgina Nascimento travaram um rico diálogo com as lembranças que têm com o local de moradia.

Tanta coisa
“Eu não sabia que minha rua tinha tanta coisa”, escreveu uma das cinco jovens presentes à segunda oficina na primeira noite da Nova Era na ficha que lhe foi entregue pela assistente. O objetivo daquela ficha era fazer com que os jovens escrevessem o que existia em sua rua, obrigando-os a um exercício que na esmagadora maioria das vezes começou com um muxoxo e o azedo comentário: “Mas nossa rua não tem nada.” Essa menina em particular descobriu que morava cercada de uma pracinha, três bares (um deles de seu pai), um clube onde se pode dançar forró e funk, um terreiro de candomblé que ela chamou de “centro espírita” e a invejável possibilidade de poder deixar o portão do quintal sempre aberto, incômoda apenas porque os animais entram para destruir a horta da sua mãe.

O exercício proposto nas duas oficinas ministradas por Georgina teve o poder de mapear os elementos quase universais às ruas da periferia carioca: a igreja presente em quase todas as fichas revela a capilaridade das seitas neopentecostais, assim como os salões de beleza e de festas presentes mostram a preocupação das mulheres de Nova Iguaçu em cuidar da beleza e a necessidade que o morador da periferia tem de celebrar a vida em seus momentos de lazer. As referências à chegada do asfalto e da iluminação pública, que aumenta a auto-estima do morador, revelou o acerto do projeto em concentrar seus esforços nas ruas contempladas pelas obras do PAC.



Respeito
A metodologia usada nas oficinas sofreu pequenas adaptações de cada assistente. Na Cobrex, por exemplo, a assistente Maria de Fátima trilhou um percurso com ligeiras diferenças nas oficinas ministradas na tarde-noite da quarta-feira 27 de agosto. Embora também tenha dado início aos trabalhos apresentando as regras da gincana aos 48 jovens que participaram das duas oficinas, ela distribuiu fichas onde cada jovem deveria escrever o que no seu entender era uma condição indispensável à boa convivência da turma. A palavra que mais apareceu neste exercício foi “respeito”, cujo conceito foi posteriormente discutido. Depois das sugestões afixadas em um cartaz, Maria de Fátima enumerou as regras oficiais do projeto: “Aqui dentro não se pode portar armas, agredir física e moralmente as pessoas, nem fumar, beber ou usar drogas.”

As dinâmicas propostas por Maria de Fátima também apresentavam leves variações em relação às que foram aplicadas por Georgina Nascimento na Nova Era. Na Cobrex, a assistente usou uma bolinha de papel que, à medida que passava de mão em mão, os jovens declinavam o nome, o bairro em que moram e as coisas de que mais gostam de fazer. Em seguida, ela distribuiu um pedaço de papel no qual os jovens escreveram o que gostavam e o que não gostavam em sua rua. Na primeira oficina, onde 20 das 26 presentes eram mulheres, os jovens se ativeram a aspectos humanos e comunitários para definir se gostavam ou não do lugar em que moram. “Gosto dos meus amigos, mas não gosto dos vizinhos”, disse Diego. “Não gosto das fofoqueiras da rua”, afirmou Priscila.

Auto-estima
A primeira oficina da noite inaugural no Jardim Alvorada, realizada na Escola Municipal Dr. Rui Berçot de Mattos, apresentou pequenas variações em relação à metodologia utilizada por Maria de Fátima na Cobrex. No papel pardo estirado no chão simulando uma rua, a assistente usou alguns papéis dobrados com o formato de uma casa para simbolizar os principais pontos de referência do bairro, como por exemplo o supermercado Novo Mundo. Em seguida, os 16 jovens presentes escreveram o nome, a rua em que moram, o que gostam e não gostam na vizinhança, para então posicionar sua “casinha” uma relação às outras. Surgiu ali um bairro cuja comunidade tem uma auto-estima elevada, satisfeita com o misto de modernidade e tradição que convivem em Jardim Alvorada. “Eu gosto do silêncio e da tranqüilidade daqui”, destacou um dos jovens. “Eu gosto daqui porque tem muito comércio”, lembrou outro. Outro aspecto do bairro de que os jovens gostam é o fato de ali ser “perto de tudo”.

A elevada auto-estima de Vila de Cava, um bairro com características semelhantes às de Jardim Alvorada, apareceu nas oficinas ministradas na Assembléia de Deus por Marilda para 28 jovens na turma de 17h30 e 9, na turma das 19h30. A assistente também deixou sua marca pessoal no exercício feito a partir de uma rua de papel pardo com alguns pontos de referência do bairro. Em vez da casinha de papel, os jovens posicionavam um objeto pessoal no local correspondente à rua em que morava. Essa também foi a estratégia adotada pela assistente Lílian Batista da Conceição, responsável pelas turmas C e D do Rancho Novo, que fez com que os 18 jovens presentes na segunda oficina da quarta-feira 27 fossem até o centro da roda e, depois de se apresentarem, dissessem o que o objeto em questão tinha com a sua rua.

Violência
Em Jardim Pernambuco, a assistente Simone de Jesus da Silva solicitou aos 47 jovens presentes nas duas oficinas ministradas na noite de quarta-feira 27 na Escola Municipal José Ribeiro Guimarães que contassem uma história relacionada à sua rua. Vencida a timidez inicial, surgiram diversos relatos permeados pela violência que marcou a história recente do bairro, como por exemplo as cinematográficas perseguições policiais aos bandidos que comandam o tráfico de drogas no bairro. Também foram lembradas as obras do PAC, que recentemente asfaltaram e iluminaram as ruas do bairro.

2 comentários:

Anônimo disse...

queria dizer que esse projeto esta sendo ótimo para min e buscando conhecimentos de cada um dos jovens.
Marta Iris

Anônimo disse...

Excelente trabalho pois me trouxe recordações e histórias de uma infância de aventuras. Mesmo tendo passado por dificuldades, problemas comuns que acontece na vida de qualquer pessoa, voltei no tempo relembrando momentos maravilhosos que passei na minha rua.