
Primeira tarefa da gincana é contar a história
de uma árvore
O projeto Minha Rua Tem Histórias, a contrapartida social do programa Pro Jovem, terminou a primeira semana com a entrada em cena dos oficineiros. Escolhidos a dedo em um rigoroso processo de seleção e treinados de modo a aplicar uma metodologia coesa, esses profissionais se espalharam pelos 17 bairros onde foram realizadas obras do PAC para coordenar as 68 turmas que estão participando da primeira gincana social do Brasil. Mal comparando, eles são a versão iguaçuana de Pedro Bial. Caberá a eles animar o processo de resgate da memória das ruas da cidade.

Histórias contadas pelas árvores
Há uma razão para que a primeira tarefa tenha como tema a natureza. “É que esse é um dinheiro carimbado”, explica Marcus Vinicius Faustini, secretário municipal de Cultura e Turismo e coordenador geral do projeto Minha Rua Tem História. “As empreiteiras que estão executando as obras do PAC estão obrigadas a financiar projetos ambientais no entorno da área em que estão trabalhando.” Mas Faustini também acredita que a árvore é um dispositivo capaz de acessar a memória das pessoas e da comunidade em que foi plantada. “A história de um bairro pode ser contada pelas suas árvores”, acredita.

A tarefa só foi só passada para os jovens depois de uma dinâmica conhecida como rizoma. Na prática, esse exercício consiste em criar uma roda com os jovens e fazer com que eles joguem uma bola enquanto dizem a primeira palavra ou expressão que lhes vem à mente a partir de um tema sugerido pelo oficineiro. “O rizoma é um exercício despretensioso”, afirma Faustini. “Não faz abordagens sociológicas, mas a partir dele a gente percebe como o grupo é”, afirma Faustini.

ETs no armário
As oficinas mostraram que o coordenador geral do projeto não estava superestimando o poder dessa dinâmica quando insistiu para que ela fosse aplicada em todas as oficinas. O duelo entre as milícias e o tráfico de drogas na Cobrex pôde ser percebido pelo oficineiro Leandro Martins quando um dos jovens associou a palavra “semente” a “semente do mal” ou “sombra” a “perseguição” e “medo”. As fantasmagóricas histórias de Rodilândia, onde o oficineiro Jorge Peixoto ouviu surpreso histórias como a de uma mulher de branco que assombrava os banheiros da escola Odir Araújo ou a da menina que tinha uma família de ETs no armário, podiam ser antecipadas nas associações entre “sombra” e “assombração”.

Sumiu na árvore
Na Cobrex, o oficineiro Leandro Martins cantou a música de um CD de Bozo, que fala de um passarinho que fugiu da gaiola, para evocar as lembranças de histórias associadas a árvores. Foi assim que, na primeira oficina de quinta-feira, ouviu a quase sobrenatural história de uma laranjeira que só passou a dar frutos no dia em que o seu dono ameaçou cortá-la. Na mesma turma, uma das jovens falou da árvore na qual o pai bateu com o carro e morreu, onde ainda hoje restam as marcas do acidente.

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